terça-feira, 21 de janeiro de 2020

SAFIRAS LIQUEFEITAS



Os Guarda-chuvas - Pierre August Renoir



Suzanne Valadon, ainda mais bonita,
não apesar da chuva, se antes ou agora, mas por causa dela
ou, se melhor pensarmos, do que ela provoca,
este caminhar de azuis sob guarda-chuvas,
como se safiras liquefeitas inundassem o ar.


│Autor: Webston Moura│


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Para ler outros poemas do autor, clique "aqui"

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

MISTERIOSAMENTE



Untitled - Aki Kuroda


Não pode chamar de vento, vazio ou água,
embora lhe pareça, a princípio, agradável.
Sente, mas não nomeia.
Expressa, mas não diz com palavras.
Não consegue definir; apenas sente e expressa.

Diriam alguns ser o trato de uma criança criando horizontes.
Mas, não. Ou não somente.

Cabe, mas não completa: não são laranjas num cesto.
Preenche, mas não compõe volume por sobre fronteiras.
É como o voo, mas o voo mesmo, a liberdade de.

É dança, alguma forma de dança.

É, noutra língua, a música que não se entende, mas  que se ama, misteriosamente.
E, ainda assim, não é abismo.


“So take a look at me now
Cause there's just an empty space
And there's nothin left here to remind me
Just the memory of your face”
− Phil Collins, in "Against All Odds"



│Autor: Webston Moura│

TERESA, SEU SORRISO E SUA SUAVE PRESSA






Nunca estive aí,
nem no passado,
nem depois.

Mas, como é comum,
comovem-me estas fotos em preto-e-branco.

A legenda diz de um lugar
que posso encontrar nos mapas e noutros artefatos,
mas que, nas fotos, parece-me mais íntimo, meu,
se assim pode a liberdade a que me dou.
A imagem, se de sentimento vestida, nos toca,
ao menos a mim, a isto afeito.

Imagino, pois, se era manhã ou tarde.
Escolho a tarde.
Pois naquela tarde, num de repente, a foto, o click de uma máquina,
a captura que revelaria ao futuro o instante agora eterno, estático.
Fosse um pouco antes, teria encontrado Teresa, seu sorriso e sua suave pressa.



│Autor: Webston Moura│


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Nota:
- A Foto foi retirada da página da Câmara Municipal de Lisboa, no Facebook: https://www.facebook.com/camaradelisboa/. E, lá, a legenda diz: "Assim se circulava na Avenida da Liberdade nos anos 40 do século XX 🔙 CARRIS

A CASA JOSÉ SARAMAGO



A Casa José Saramago


«El libro continuaría siendo, en este y en todos los futuros, aquello que es hoy: un comentario sin prejuicios sobre casos y gente, el discurrir de alguien que quiere echar mano al tiempo que pasa, como si dijese: 'No vayas tan deprisa, deja una señal de ti'».
9 de enero de 1994
José Saramago


"O livro continuaria a ser, neste e em todos os futuros, aquilo que é hoje: um comentário sem preconceitos sobre casos e pessoas, o discorrer de alguém que quer dar mão ao tempo que passa, como se dissesse: ' não vá tão rápido , deixe um sinal de você ' ".
9 de Janeiro de 1994
José Saramago




Casa Museo José Saramago en la Isla de Lanzarote [Canary Islands] abierta de lunes a sábados desde las 10,00 h a 14,30 h. Última visita a las 13,30h.
E-mail: acasajosesaramago@gmail.com

sábado, 18 de janeiro de 2020

RESPOSTAS







Todas as respostas
constarão do arquivo
que nos será entregue

na sua leitura
gastaremos nossa eternidade

tanto não precisaríamos ter feito
quantas dúvidas não deveriam
                     ter nos consumido
                     algumas maneiras
                     estavam certas
                     incorretas foram
                                 as escolhas

fecharemos o arquivo
como o abrimos: sem
o tempo da conquista.

(Pedro Du Bois, inédito)


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Anteriormente postado no blog do autor: http://pedrodubois.blogspot.com/

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Leia também:

- "Busca na estátua...", de Pedro Du Bois
- "Estranhamento", de Tânia Du Bois
- "Jogo Emocional", de Tânia Du Bois
- "Traços Instigantes", de Tânia Du Bois
- "As Mãos", de Tânia Du Bois

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

QUEM NOS ESCUTA?


Atravessar os dias,
vive-los não,
não por querer,
mas pela força
e, como cantava o cantor popular,
o mal que a força sempre faz.[1]

Toda recusa, caso possamos, esbarrará nas burocracias.
Há este muro paridor de muros e de outros nãos,
navio de imensidades incômodas atravessado na vida.
E nós, quando muito, a estas horas, gritando.

Quem nos escuta?


│Autor: Webston Moura│


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1. Belchior, em “Galos, Noites e Quintais”

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Leia também:

O relógio perdido


Lembrava-se, especialmente, de um relógio.
Não que, por valor de dinheiro ou similares, tivesse valia,
mas, sim, por sentimento: presente de pai.

Entre aquelas duas estações de trem, onde o perdera,
haveria de voltar e percorrer o caminho,  passo devagar,
sem, de fato, encontrar vestígio do objeto.
Deu-se a isso, anos e anos,
como um peregrino anônimo de um caminhar secreto.


│Poema da Série “Objetos Perdidos” – Autor: Webston Moura│

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O MAMOEIRO MORTO


Com um facão cortei o mamoeiro morto.
Saiu, abrupta, de seu caule oco, uma água,
estranha água aquela, esbranquiçada,
resto de seiva perdida,
que a terra haveria de sorver.

Eu tinha doze anos e um carneiro branco:
as coisas decadentes não cabiam em meu mundo.
Por isso, a imagem última do mamoeiro me amedrontou,
ao passo que também me comoveu não poder tomá-lo nas mãos
e sarar alguma ferida sua, trazê-lo de volta ao verde.

Estranho dizer, talvez, mas o mamoeiro, aquele, ainda que árvore,
era meu amigo, como o carneiro que, adiante, eu também perderia.



│Poema da Série “Árvores” – Autor: Webston Moura│


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ECO




Não há eco no passado
reverberações quem sabe

o som desloca ares
desmancha montanhas
sepulta histórias

arqueólogo preocupados
devassam a memória

levam ao museu
a cabalística prova
do amor sepultado.

(Pedro Du Bois, inédito)

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Poema anteriormente postado no blog do autor: https://pedrodubois.blogspot.com/

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sábado, 11 de janeiro de 2020

CORRENDO



La forza del destino - Leslie Hurry





Rápido,
você nem me viu;
nem eu, direito, a ti,
só me dei conta após.

A vida,
ou a falta dela,
é esta aspereza
com que nos damos ao gasto,
lutando em busca do pão,
correndo, correndo, correndo.

│Autor: Webston Moura│




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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