sexta-feira, 7 de julho de 2017

O VENTO SOBRE AS ÁGUAS



Guardo as palavras, assim desejo.
O que falo é repertório econômico.

Observando tudo que não fala na minha língua,
descubro os obscuros idiomas da vida.
Por exemplo, o intervalo de uma hora específica,
seu correr leve, as coisas engendradadas,
tudo que meu coração disto captura.
Quando o vento passa sobre as águas,
escuto as palavras que não sei dizer.


│Poema da Série “Palavra” – Autor: Webston Moura│

CAVALO

Eu te amo.
Meu corpo sobe à palavra e transborda.
Mas, meu corpo é matéria, quer transgressão.
E transgressão é uma palavra-cavalo.
Eu te amo, então, com todos os cavalos.
As palavras, pois, quando te amo,
diluem-se em arfares, gemidos e relinchos.


│Poema da Série “Palavra” – Autor: Webston Moura│

TEUS NOMES



Perdi-te, palavra, nome de mulher,
que as cartas rasguei.
Dei de perder-te, por necessitar.
Quebrei os discos do Roberto Carlos
e chorei o que pude num último choro.

Deixaste-me, ainda,
um dicionário de arcanas pronúncias,
palavras as quais não sei desmontar,
tampouco dar uso.


│Poema da Série “Palavra” – Autor: Webston Moura│

quinta-feira, 6 de julho de 2017

VIDAS DESAMARRADAS



Tânia Du Bois é cronista. Como tal, aparenta ser capaz de falar sobre qualquer assunto, tal é a facilidade de compreensão e de comunicação que se pode observar em seus textos. Todos podemos ver isso em “Amantes nas Entrelinhas”, "Exercício das Vozes”, “Autópsia do Invisível”, "Arte em Movimento", "Comércio de Ilusões", “O Eco dos Objetos” e, agora, neste “Vidas Desamarradas” (Projeto Passo Fundo, 2017). Leitora e observadora sagaz, segue o que não seria uma fórmula, mas um caminho, o de investigar, gentil, inteligente e honestamente, as escritas de outros, para então, apreciando-as, dizer suas (dela) impressões que, inevitavelmente, situam-se na interface literatura (ficção)-vida real. Tânia escreve bem e, ao que parece, em favor do que em nós clama por luz e entendimento.

SERVIÇO:
Vidas Desamarradas (Crônicas)
Tânia Du Bois
Projeto Passo Fundo [Link: http://www.projetopassofundo.com.br/]

ESCREVIVÊNCIAS: LIVRO DE VIDAS IMAGINOGRAFADAS




Escrevivências: livro de vidas imaginografadas é de autoria de Dércio Braúna e Joel Neto. Impresso sobre papel couchê fosco (miolo), tem capa dura e une imagens (por conta de Joel) e poemas nelas inspirados (por conta de Dércio). Trata-se de um trabalho de profunda sensibilidade sobre o cotidiano de pessoas simples do povo, pessoas “capturadas” em instantes que o fotógrafo e o poeta fazem aparecer aos nossos olhos (à nossa sensibilidade) de forma magnífica. O projeto foi contemplado no X EDITAL CEARÁ DE INCENTIVO ÀS ARTES 2015 (SECULT/CE) e realizado neste ano de 2017.

SERVIÇO:
Escrevivências: livro de vidas imaginografadas
Joel Neto e Dércio Braúna
Deleatur Editorial
Contatos:
joelnetor7@gmail.com

terça-feira, 4 de julho de 2017

TODOS OS INDÍCIOS



Medo, porque tudo conspira para tanto;
               e horizonte outro não há senão
                              este olhar em espreita,
                                     este gesto contido,
                                este fechar de portas,
                                     tantas precauções.

Medo, porque a vida anda a requerer ciência exímia,
toda a técnica com que nos alertamos contra os males.

Dormir, sonhar, ter medo ainda aí.
Acordar instigado, as mãos trêmulas
─ um barulho no telhado, serão os gatos?,
um crucifixo na parede, o silêncio de pedra  ─,
todos os indícios de que algo está suspenso no escuro.

Lá fora, o carnaubal geme.


│Poema da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│

ESTRANHOS



Vigiamo-nos.
Nada mais é natural.
No perde-e-ganha, jogo insosso e agudo, sofremos.
E, sós, não imaginamos saídas.
Tocamo-nos, mas com a cisma de um estrangeiro
                                adentrado a uma terra estranha.

Nossas casas ─ lares não mais ─
guardam o torpor dos nossos corpos.

E o tempo escorre sua toda aridez no nosso sangue.


│Poema da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│


AQUELE CÃO



The Madness of Fear (1819) - Francisco Goya




Ao pé do portão, aquele cão de cismada figura, a dormir.
Quem sabe o que lhe passa ao coração?

Se me ponho de pé até com os móveis,
não seria, pois, minha a cisma?

Não lembro outro tempo
que não seja este,
           o do temor.
Meu corpo adquiriu esse saber
e o sabe com a mais fina destreza.

Aquele cão!


│Poema da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│