segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

MOÇA BONITA



Auto-retrato na penteadeira - Zinaida Evgenievna Serebriakova


É uma simplicidade quieta, discreta muito, esta da moça, só, no quarto, em quase-silêncio, a se experimentar de imagens diante da penteadeira. Talvez isso me seja apenas lembrar de algo que o tempo já não mostre mais deste modo, dado que as de hoje, as moças, devem ter aperfeiçoado seus rituais de beleza e se demorem ali por outros motivos, não os de outrora. Porém, à vista disso, lembro-me desta cena (ou a invento a partir de retalhos tantos de memórias de meu arcabouço pessoal).

Vai nem uma tarde inteira nisto, mas bastante. E o tempo não se conta desta forma para quem se “lambe” ao espelho, ri-se de uma ou outra coisa, faz-se e se refaz, troca de lábios, de olhos e cabelo. É a moça diante da penteadeira. Extrai mais beleza, conforta-se com o achado? Não deve ser bem isso. É mais como passear, jogo de meninas, não de meninos. É um saborear a si. E é grátis, não custa dinheiros caros.

Outra a verá, de janela aberta, sair porta afora e exibir sua conquista suficiente. Os homens é que não perceberão, posto que são cegos para tanto. Mas a outra moça, mãos aflitas, na janela, há de ver e pensar tratar-se de um namorado. "Ah, se a beleza trata de se esmerar, só pode ser isso, um namoro". Ou a intenção de. A beleza, se de outrem, arma que é, incomoda. Mas a moça, a de vestido branco e longos cabelos, não se importa. Cumpre-lhe apenas ser, na idade em que isto explode em todas as direções, ainda que discreta, simples e elegantemente.


|Autor: Webston Moura|





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