Diz a banda Engenheiros do Hawaii, na música "Nau a Deriva": "Meu coração é um porta aviões / Perdido no mar, esperando alguém chegar / Meu coração é um porto sem endereço certo / É um deserto em frente ao mar".
É a solidão. E, neste caso, a solidão de alguém que se diz à deriva, perdido, desconectado dos outros ou, quem sabe, e mais especialmente, necessitado de alguém como uma namorada. Ou um bom amigo, simplesmente.
O poeta Vinícius de Moraes, no texto "Da Solidão", diz: "A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana."
Vinícius lembra-me aí os preciosistas "cheios de virtude" que se consideram acima dos outros, não importando dar e receber, já que são autônomos e impermeáveis. De alguma forma, eles são assim. E criam critérios bem específicos, já pensando em não aceitar intercâmbio com ninguém.
De todo modo, solidão é o estado de se estar só, melhor dizendo, sentir-se só, desamparado, ou seja, não envolvido em afetos, em troca.
A pintura que ilustra esta crônica, "Loneliness", de Tejada, é bem expressiva da solidão do desamparo e da tristeza, mostrando essa pessoa na escada, com essas cores parecendo meio apagadas, uma situação sem vida, sem frescor.
Porém, toda solidão pode ser dita ruim? Não. Cada um de nós necessita de seus momentos a sós, com seus botões, suas coisas, silêncios no quarto ou até no banco de uma praça, um parque, algo assim. É para ter aquela conversa, em paz, com o próprio universo, ajeitar o mundo interior, relembrar algo necessário e por aí vai. Devanear, se for o caso.
Num mundo cada vez mais conectado e frenético, aonde os acontecimentos são tantos e as pessoas são empurradas para o protagonismo excessivo da opinião, é fácil estar só (desamparo) e difícil ficar a sós consigo, em paz. Ainda mais para aqueles que não vivem sem este computador portátil que substituiu o antigo telefone. Mas é necessário.
A solidão que fere, no dizer de Alceu Valença, que "É amiga das horas / prima-irmã do tempo / E faz nossos relógios caminharem lentos", causando descompasso em nossos corações, pode ser, talvez, resolvida observando-se o que disse outra figura criativa, o Cazuza: "A solidão é pretensão de quem fica escondido, fazendo fita". Ou seja, se está só, é porque não se lança aos outros, prefere aplicar "fingimento", fazendo fita, fazendo cena.
E tem também as pessoas que não aprenderam a ficar sós. São as que sempre esperam algo que venha de fora, para que possam se sentir contentes. Para essas, o mundo interior não existe e suas vidas não fazem sentido, pois sempre "É festa no outro apartamento", com diz a cantora Marina Lima. Não no delas, claro! Elas são o que chamo de pessoas da porta pra fora, pois só se satisfazem no tumulto das relações, do mundo. No mínimo, precisam, como frisei antes, do celular ligado, procurando coisas e coisas.
Por fim, sem intenção de fornecer receita para a cura da solidão, mas apenas para dar um toque, digo: leia livros! Gostar de ler, é um grande remédio para que uma pessoa não se sinta só e desamparada. E a pessoa pode, deste modo, acessar grandes mentes e grandes histórias, preenchendo sua sede e, se houver, seu vazio. Ler é conversar com universos criativos, é uma forma de se estar só, mas bem consigo.
|Autor: Webston Moura|
.................................................
Leia outros posts:
.....................................................................
Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
..............................................................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caso queira, comente!