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segunda-feira, 8 de abril de 2024

O Paradigma da Complexidade



Edgar Morin, pensador francês



Não é preciso acreditar que a questão da complexidade se coloca apenas hoje em dia, a partir de novos desenvolvimentos científicos. É preciso ver a complexidade onde ela parece estar geralmente ausente, como, por exemplo, na vida quotidiana.
A complexidade desse domínio foi percebida e descrita pelo romance do século XIX e início do século XX. Enquanto que nessa mesma época, a ciência tentava eliminar tudo o que fosse individual e singular, para reter nada além das leis gerais e identidades simples e fechadas, enquanto expulsava mesmo o tempo da sua visão do mundo, o romance, pelo contrário (Balzac em França, Dickens na Inglaterra) nos mostrava seres singulares em seus contextos e em seu tempo.

sábado, 6 de abril de 2024

Ação humana transformou 89% da Caatinga


Biólogos concluem que restam 11% da vegetação nativa típica do Nordeste

Desmatamento e queimada eliminam a vegetação nativa
e facilitam a ocupação humana
(
Embrapa Semiárido)


Carlos Fioravanti | Revista Pesquisa FAPESP - Edição 335 - jan. 2024

A expansão da agricultura, da pecuária e do desmatamento tem causado mudanças drásticas na Caatinga. As áreas agrícolas e pastagens abandonadas ou em uso cobrem 89% desse bioma, único inteiramente brasileiro, que se espalha por 10 estados do Nordeste e Sudeste. Restam apenas 11% da área coberta pela vegetação típica do Nordeste, em comparação com a que deve ter existido, sob as mesmas condições de clima e solo, antes da ocupação humana, de acordo com análises de biólogos das universidades federais da Paraíba (UFPB) e de Pernambuco (UFPE) publicadas em outubro na revista Scientific Reports.

“A Caatinga resiste ao clima e a temperaturas mais altas, mas não à mão do homem”, observa o biólogo da UFPB Helder Araujo, principal autor do estudo. Com seus colegas, ele refez a área de florestas e de vegetação arbustiva da Caatinga por meio de um método chamado modelagem de distribuição potencial de espécies, com indicadores como aves de florestas atuais e mamíferos herbívoros que viveram no atual Nordeste há milhares de anos.

Em seguida, os pesquisadores acrescentaram informações sobre a cobertura vegetal atual da Caatinga, publicadas pela organização não governamental MapBiomas, o clima, da plataforma WorldClim, e as modificações humanas na região apresentadas na revista Scientific Data em agosto de 2016. A análise das transformações em 12.976 hexágonos com 5 quilômetros quadrados (km²) cada um evidenciou as áreas que permaneceram cobertas por floresta e as que foram ocupadas por uma vegetação de menor porte. “A maior parte da área potencialmente ocupada por floresta hoje é tomada por arbustos”, observa Araujo.

sábado, 16 de março de 2024

A REDESCOBERTA DA EDUCAÇÃO




por: Lara Brenner


Por toda a minha vida, aprendi que havia 5 vogais: a, e, i, o, u.
Estava confortável com a ideia, quando soube, já adulta, que havia 12, não apenas 5. Ao ler isso pela primeira vez, achei que o livro estivesse com erro de edição, ou que aquilo fosse uma piada estranha, mas era sério.
Naquele dia, aprendi que vogais pertencem ao campo da fonologia e designam fonemas (não grafemas). Elas se referem ao som produzido sem obstrução à passagem do ar. Fiz eu mesma o teste: aaaaa, eeeee, iiiii, ooooo, uuuuu. Realmente, o ar passava livremente por meu aparelho fonador.
Mas não eram 12?
Sim, respondeu-me o livro. É que as vogais se dividem em 2 grandes grupos: as orais e as nasais. As nasais representam sons que ocorrem quando há passagem de ar pela cavidade nasal; já as orais acontecem com essa passagem apenas pela cavidade bucal.
As orais são 7 ([a], [e], [é], [i], [o], [ó], [u]) e aparecem, por exemplo, em lá, besta, café, vida, ovo (som fechado), ovos (som aberto), blusa.
As nasais são 5 ([ɐ͂], [e͂], [õ], [ĩ], [ũ]) e aparecem, por exemplo, em lã, pente, ponte, índio, um.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Musgos são grandes sumidouros de carbono


Com extensão quase igual à da China, área de solo coberta pelo vegetal retira da atmosfera 6,43 bilhões de toneladas do gás por ano


Os musgos foram uma das primeiras plantas a conquistar
o ambiente terrestre, há quase 500 milhões de anos
Lyou Yin/Wikimedia Commons


por: Guilherme Eler | edição 329 - julho de 2023 | Revista Pesquisa FAPESP


Solos cobertos por musgos absorvem da atmosfera anualmente 6,43 bilhões de toneladas de carbono a mais do que ambientes terrestres não revestidos por esse tipo de vegetação. O valor, calculado por um estudo internacional publicado em maio na revista científica Nature Geoscience, equivale a mais de seis anos de todas as emissões globais de carbono associadas a mudanças no uso da terra, como a transformação de trechos de florestas em áreas agrícolas ou de pastagens. Como todos os vegetais, os musgos captam, por meio da fotossíntese, dióxido de carbono (CO2) e contribuem para diminuir o nível desse gás na atmosfera, principal responsável pelo aumento do efeito estufa, que provoca o aquecimento do clima global.

O trabalho, que contou com a participação de pesquisadores radicados no Brasil, também calculou a área do planeta ocupada por esse tipo de vegetação: 9,4 milhões de quilômetros quadrados (km²), território quase igual ao da China. Essa extensão foi projetada a partir da coleta de amostras de musgos de 123 ecossistemas de todos os continentes.

Ao contrário das chamadas plantas vasculares (árvores, arbustos, ervas e samambaias), os musgos são um tipo de vegetal, do grupo das briófitas, que não apresentam reforço de lignina em sua parede celular. Por isso, eles não dispõem de partes lenhosas, rígidas. Os musgos foram uma das primeiras plantas a conquistar o ambiente terrestre, há quase 500 milhões de anos. São especialmente importantes nos lugares onde as plantas vasculares não sobrevivem e podem forrar o chão de florestas e campos, além de crescer no tronco de árvores e rochas. Hoje abrangem pelo menos 12 mil espécies vegetais, espalhadas por todos os continentes.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Historiador dos números



Ubiratan D’Ambrosio ampliou o alcance do ensino da matemática
por meio do diálogo com contextos culturais diversos


Ubiratan D’Ambrosio durante evento no auditório do Instituto de Filosofia
e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, em 2007
Imagem: 
Antonio Scarpinetti - SEC - Unicamp


por: Christina Queiroz, em 19 de maio de 2021

Teórico da educação matemática e pioneiro na área da etnomatemática, campo de estudos que analisa a aplicação do conhecimento matemático em diferentes universos culturais, Ubiratan D’Ambrosio morreu no dia 12 de maio, aos 88 anos, em São Paulo. Era professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e docente do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro. Deixa a mulher, Maria José, um filho, quatro netas e duas bisnetas.

Paulistano, D’Ambrosio graduou-se em matemática pela Universidade de São Paulo (USP) em 1955. Defendeu o doutorado em matemática pura, em 1963, na mesma universidade. Também foi professor na Escola de Engenharia de São Carlos, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro. Ao longo de sua trajetória profissional, lecionou no Programa de História da Ciência da PUC-SP, no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da USP e foi professor visitante no Programa Sênior da Universidade Regional de Blumenau (Furb).

sábado, 23 de setembro de 2023

Formigas com nomes de mulheres


Formiga operária do gênero Hylomyrma cuidando de prole

Philipp Hönle / AntWiki


“Tomei muita coisa das formigas quando era pequena, e agora, que eu queria tanto poder revê-las, não encontro uma”, escreveu Clarice Lispector (1920-1977) em uma crônica no Jornal do Brasil em 4 de março de 1970. Agora, dois biólogos da Universidade de São Paulo (USP) nomearam uma formiga em sua homenagem, Hylomyrma lispectorae. Em um estudo de 136 páginas, Mônica Ulysséa e Carlos Brandão fizeram uma revisão taxonômica do gênero Hylomyrma, grupo de formigas encontradas do México à Argentina, e ampliaram para 30 o número de espécies ao descreverem 14 novas, entre elas H. lispectorae, a partir de um exemplar coletado no Equador (Zootaxa, outubro). Outras mulheres homenageadas foram a guerreira negra Dandara dos Palmares (?-1694); a vereadora Marielle Franco (1979-2018); a jogadora de futebol Miraildes Maciel Mota, mais conhecida como Formiga; e a poeta boliviana Adela Zamudio (1854-1928).

Este texto foi originalmente publicado por pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Invasões caribenhas


Estudos reforçam hipótese de que o mar da América Central inundou trechos da Amazônia ocidental entre 23 e 10 milhões de anos atrás

Desenho feito em meados do século XIX do boto-cor-de-rosa da Amazônia, mamífero aquático cujos ancestrais viriam do mar do Caribe

DEA / Biblioteca Ambrosiana / Getty Images

O boto-cor-de rosa (Inia geoffrensis) povoa o folclore brasileiro e os rios amazônicos deixando a impressão de ser uma espécie que não pertence totalmente ao ambiente que a rodeia. Pesquisas recentes corroboram essa percepção. Os ancestrais do maior golfinho conhecido de água doce seriam originários do Caribe e teriam chegado à região a bordo de incursões do mar da América Central pelo noroeste da Amazônia entre 23 e 5,3 milhões de anos atrás, durante a época geológica denominada Mioceno. Não há consenso sobre a frequência, a duração e a extensão dessas invasões das águas do Atlântico caribenho, que devem ter influenciado a formação da atual fauna e flora amazônica. Um novo estudo defende a hipótese de que essas infiltrações marinhas teriam sido em maior número ou mais intensas do que indica boa parte da literatura científica, uma visão alternativa que começou a ganhar corpo nos últimos cinco anos.

“Consideramos dois cenários possíveis”, explica o palinólogo Carlos D’Apolito Júnior, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), um dos autores de um artigo publicado em agosto de 2021 no periódico científico Global and Planetary Change. “Teria havido três eventos de incursão marinha, em vez dos dois usualmente considerados, ou o segundo teria sido mais duradouro e se espalhado por uma área maior.” Assinam o estudo com D’Apolito a palinóloga Silane Caminha, também da UFMT, e o mestrando Bruno Espinosa, que é orientado por D’Apolito.

A proposta é amparada em dados produzidos a partir da análise de grãos de pólen obtidos de um poço perfurado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) no município amazonense de Atalaia do Norte, na bacia do rio Solimões, perto da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. A uma profundidade de 34 metros abaixo da superfície, quase 20% dos 374 microfósseis orgânicos estudados eram provenientes de algas do plâncton marinho, um indício de que a água salina do mar um dia penetrou naquela região. A camada geológica de onde provêm as amostras é a menos profunda da Amazônia em que foram encontradas evidências de seres de origem marinha. Sua idade é estimada entre 11 e 10 milhões de anos atrás.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Como a ciência ajuda a preservar o ambiente



O programa Biota-Fapesp completa vinte anos colaborando com bases científicas para a criação de áreas de conservação e a busca por um desenvolvimento sustentável em São Paulo.

Este texto foi originalmente publicado por pesquisa FAPESPde acordo com alicença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.



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A América Latina de Erico Verissimo: vizinhança, fraternidade, fraturas


Em “A América Latina de Erico Verissimo: vizinhança, fraternidade, fraturas”, o autor Carlos Cortez Minchillo (Dartmouth College) aponta como a trajetória do escritor brasileiro se aproxima com a História da América Latina, especialmente no romance O senhor e em seu relato de viagem México.

O artigo, que faz parte do volume 30, número 54 de Varia Historia, apresenta, portanto, como se desenvolve a leitura de América a partir das obras de Erico Verissimo. O trabalho pode ser acessado de forma online e gratuita pela plataforma SciELO. Acesse o link pela bio.

Imagem: Erico Verissímo

SciELO - Brasil:




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sexta-feira, 15 de julho de 2022

Como nossos filhos


Primeiros povos nativos das Américas teriam traços físicos similares aos das populações indígenas atuais – olhos castanhos, cabelos pretos e pele morena

Análises genéticas sugerem que aparência dos indígenas não mudou significativamente nos últimos 11 mil anos

Reprodução da tela Tocaia (2014), de Carmézia Emiliano. Óleo sobre tela, 80 × 80 cm, acervo Augusto Luitgards

A cor dos olhos, cabelos e pele dos primeiros habitantes das Américas, que aqui chegaram milhares de anos antes do desembarque de Cristóvão Colombo, no final do século XV, provavelmente seguia o padrão observado nas populações indígenas contemporâneas do continente. A conclusão é de um estudo coordenado por pesquisadores brasileiros, cujos resultados foram divulgados em um artigo científico em junho na revista Forensic Science International: Genetics. A maioria dos membros desses povos nativos das Américas teria olhos castanhos, cabelos pretos e pele morena, de acordo com o trabalho, que analisou material genético de sete indivíduos que viveram entre 11 mil e pouco mais de 500 anos atrás.

A investigação usou oito ferramentas da genética forense para predizer as características físicas visíveis (fenótipos) associadas à pigmentação dos nativos americanos ancestrais e comparou os resultados com a população atual de indígenas do continente. Os dois principais métodos empregados foram HlrisPlex-S e Snipper, que apresentam índices de acerto entre 70% e 90% quando utilizados para determinar a cor da pele, do cabelo e dos olhos em populações atuais de origem europeia. No estudo, foram analisados inicialmente dados de 27 indígenas contemporâneos e de 20 da época pré-colonial. O genoma desses indivíduos foi sequenciado e tornado de domínio público por outros projetos científicos. Do grupo dos indígenas ancestrais, no entanto, apenas sete forneceram informações genéticas com qualidade suficiente para embasar a predição de fenótipos: as amostras de sítios arqueológicos da Groenlândia, estado norte-americano de Nevada (três indivíduos), Argentina, Chile e da região mineira de Lagoa Santa (uma ossada de 10 mil anos).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

MOVIMENTO NA NÉVOA (SOBRE EDUARDO COUTINHO)



Eduardo Coutinho



por: Felipe Bragança,


Seis anos atrás, perdíamos um dos nossos mais brilhantes e sensíveis cineastas. Em homenagem à data, recuperamos este texto escrito pelo cineasta Felipe Bragança para o número 22 da revista Margem Esquerdaa este que é amplamente considerado o mais importante documentarista brasileiro. Para se aprofundar no tema, recomendamos também o livro Sete faces de Eduardo Coutinho, escrito pelo jornalista Carlos Alberto Mattos e publicado em 2019 pela Boitempo, pelo Itaú Cultural e pelo Instituto Moreira Salles.

* * *

O espaço vazio e a palavra tentando organizá-lo. Como escolher a palavra certa, o gesto certo e definidor? Eduardo resmungava muito enquanto fazíamos a entrevista naquele simples e quase vazio escritório no Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), no centro do Rio de Janeiro. Lembro-me de entrar na sala e ouvi-lo perguntar para mim: “Você existe mesmo?”. A pergunta vinha porque Coutinho já tinha lido algumas coisas minhas sobre seus filmes (nos velhos tempos em que eu escrevia em sites de cinema), mas nunca tínhamos nos visto frente a frente. Faltava o encontro. O encontro. A fumaça de cigarro que subia pela sala ia adensando a sensação de que Coutinho olhava o mundo através dessa desencantada e alegre camada de dúvida, titubeio e apreensão – a névoa alegre de toda pergunta. “Mas como fazer uma entrevista, Felipe? Mas como saber se o que eu disse agora sou eu mesmo daqui a cinco minutos, entende?”

A ideia de que nossa conversa pudesse ser publicada futuramente em um livro assustava Coutinho. Imaginar que a palavra dita por ele, deslocada de seu corpo, rosto e gestual, pudesse se tornar ditadora, limitada e limitadora de ideias era algo que tirava aquele homem do conforto. Eduardo não gostava de comentar filmes que não os dele, nem de definir objetos fora de seu método. Achava que todo gesto de análise era insuficiente e se dedicava às brechas, ao espaço misterioso entre os objetos – aquele espaço, sim, tinha a existência nobre das coisas porosas que lhe enchiam os olhos de brilho. E os olhos de Coutinho brilhavam falando de cinema. Por isso, a conversa emergia como centro da dramaturgia documental de seus filmes. A conversa tinha esse dom da fragilidade, da eternidade passageira, da sobrevivência corajosa no tempo, e nunca o orgulho de um ditame vitorioso, pronto, apaziguado. Aquele homem, tão aparentemente pragmático e metódico, procurava milagres.

E nessa procura, Coutinho gostava de se resmungar, de se questionar, de achar que tudo podia dar errado – e transpirava prazer nesse limiar do risco. Filmar assombrado por essa dúvida. Filmar perplexo. O titubear diante da vida como um gesto criador. Um gesto que nos desviava da ditadura dos temas e recortes do cinema moderno (determinista e analítico em seu gesto primordial), mas que também driblava a arapuca contemporânea da contemplação, da inação diante dos dilemas do nosso tempo, da observação passiva que se tornou um pobre sinônimo de um cinema “aberto” nos anos 1990 e começo dos 2000.

Observem bem: Coutinho nunca fez sequer um filme único plano de contemplação. Seu cinema é abismado, desconfiado, ruminante, maravilhado. A arte do cinema de Coutinho não é a arte que organiza o mundo para nosso entendimento ou para nossa observação inerte, mas é a arte que amplia de forma generosa nossas possibilidades de continuar investigando, buscando um pouco mais, se mantendo fora do sossego da tese pronta, do certo e do errado, do júbilo fácil da certeza – ideológica, moral, estética.