Meu
nome, esquece-o,
que
já é tarde debaixo de meu xale!
E
eu, de silêncio e discrição,
descreio
de teu amor, piedade que é.
Sou
doutro tempo e não deste,
expulsa
que o sou, a cada dia,
pela
pressa alheia e alheada.
Fossilizam-me
numa palavra: velha.
Todavia,
se posso, digo:
com
sorte, estes que vicejam
hão
de achegar-se até as artrites.
Aí,
talvez, saberão que ainda há estrelas
que
se pousam, aladas e viscerais,
nos
corações de todas as idades,
o
que inclui as minhas.
Autor: Webston Moura
Autor: Webston Moura
SEUS CABELOS BRANCOS, SUA FALA - É
invisível sua presença. Alongada em tempo, ainda assim o é. Esposa, mãe, avó,
dona de casa, ordem numérica no pegue-e-pague das feiras e mercados, carrega
seu currículo de funções e trabalhos. E não sonha desde remotos tempos. Agora,
cabelos brancos, aguando plantas fincadas em vasos de barro e latas reaproveitadas,
é invisível. Pelos olhos-não do mundo passa sua figura. De si, sabe de seu
pouco tempo e de que a vida, zás-trás, pode, agora, ser ainda menos. Mas já se
acalmou com isso. Espera sem esperar. Estende o tempo de modo simples: esquece-o,
absorvida que se deixa em orações e preces, enquanto domestica o já imensamente
domesticado, a rotina de afazeres de sua casa caiada em luz e memória. Os
filhos, na cidade grande ou em não-sei-ondes de um país medonho. Os amigos,
lembranças aos idos, distâncias aos ficados. E lhe sorriem esmolas traduzidas
em sentimentos de impotência e desconhecimento, como se lhe dessem água, se
sede fosse a sua necessidade. E lhe sorriem cordiais formalidades que
educadamente se dão ao trabalho para com os velhos. E lhe sorriem com adeuses,
que toda delicadeza lhe prestada já não lhe vê vigor, mas, em noir, um rosto indiviso na fumaça de uma
estação de trens de um país fictício, o seu, mundo perdido em outroraS e
calendários amarelecidos.
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