A
ilha é uma forma de cúpula, uma língua cujo sabor se oculta. É um mar donde só mar
se vê. E seu caminho é circular, um sempre. Meu quarto, silêncio infindo: a mobília de cor aborrecida; o espelho, meu rosto, os anos. Atrás de mim, réstias, a luz que, irregular, me chega. São 8h. Talvez, quem sabe, um pouco
mais. Detalhes. E espero o tiro de partida, uma mão, recomeços. Nada. Agora, o
nada será lei, eu sei. Santa Luzia, pequena estátua colocada à altura de meus
olhos, percebe-me. Com o tempo, foi que me dei a pensar que só essas coisas é
que me percebiam. O tempo é assim mesmo. O tempo nos amortece aos olhos alheios.
Os outros se acostumam à nossa desaparição. Até se diz que isso é normal, que
nosso nome vai sendo demolido em hábito dentro da boca dos outros e que, quando
nos olham nos olhos, isso não tem mais nada de domingo, nem de estalo.
Pode
me chamar pelo segundo nome, Teresa. É assim que me chamam. Mesmo que o incômodo
deste momento pese, não se deixe abater. Caso queira, o banheiro fica à
esquerda, no corredor. E há café fresco, espero. Vá à cozinha. E, também, caso
possa, leve aquele pássaro. Está na área de serviço. É uma burguesa e não é de
cantar, sisuda que só. Mas é amiga. Espero que sejam amigos.
Ah,
sim! Haveria um bilhete e até coisas desarrumadas, fotos espalhadas, um segredo
agora revelado. Mas é que sempre fui tanto organizada quando discreta. Sim,
também sou tímida. Por isso, nada de palavra aí nesta outra gaveta. Nem nesta
cômoda. Não precisa olhar. E evite abrir a janela, por favor! Não quero
espetáculo. Apenas me pegue e me entregue a um lugar mais cômodo. Pode ser esta
cama, é minha. Quanto a esta marca no pescoço, isso é o de menos. Por marcas
bem piores, é que meus olhos de pedra agora sugam os teus de espanto. E não
chore. A vida é assim mesmo. Você nem me conhece.
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