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segunda-feira, 9 de novembro de 2020
"Pai contra mãe e outros contos", de Machado de Assis
terça-feira, 3 de novembro de 2020
O FANTASMA DE LICÂNIA (PARTE XXV)
Clauder Arcanjo
— Você não devia ter largado tudo. Tal busca, como
qualquer busca humana, era aquilo que o mantinha vivo, útil. Sem ela, você
ficará no vazio, ou, no máximo, no húmus do nada. Nada este, acredite, colhido
na cova da terra dura, numa noite fria e longa. Onde o medo e a dor serão eles
os únicos, e desleais, companheiros. Repare agora na sofreguidão dos seus
passos, na tibieza de sua voz, nessa face lívida e carregada de dobras de
receios. Não, não conseguirá subir ao cume de...
— Eu nunca quis, nem quero, chegar ao topo! A
planície sempre me bastou. Nela, o que há de concreto e permanente me basta;
bem como o seu cabedal de dúvidas é o bastante para pesar-me nas costas. Somos
humanos, e a junção desses dois bocados não pode transbordar do pote da nossa
carne, há um limite no volume do espírito que os contém e retém...
— Você, Acácio, vai acabar afundado no pântano das
filosofices que você mesmo fustiga! Há fantasmas demais no real, para ainda
espicaçarmos o desconhecido, o ininteligível. Munido com suas teorias
racionais, como se essas bastassem para abrir e entender o que jaz em esfera
outra; você, feito um louco, claudica e se espanta, sem compreender, sem
decifrar. E, desta forma, o horror ainda mais o entontece e, vira e volta, o
faz cair, sedento e faminto, na terra oca das ilações, das suposições.
Suposições que, ao tentar parti-las em pedaços menores, a fim de estudá-las,
elas se reproduzem infindamente, sem mencionar que se travestem de outras
formas, como se paridas por outros tipos.
— E o que nós somos, se não um investigador do
indecifrável, do inenarrável?... As palavras são a semente do inaudito, e o
inaudito provoca o verbo jamais dito. Como se decifrar e traduzir fossem o moto
contínuo de viver.
— Pare e se volte para o sol. O dia nasce, apesar
de seu desespero, Acácio. Os pássaros louvam o dia, enquanto você o recebe no
altar das suas aflições...
segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
BRINCAR COM ARMAS
http://www.topbooks.com.br/ |
Este livro de contos do escritor cearense
Pedro Salgueiro, apresentado pela acadêmica Rachel de Queiroz e e pelo
jornalista e escritor José Louzeiro, ganhou vários prêmios nacionais e
internacionais. Louzeiro elogia a novidade temática e a construção formal dos
contos do autor. E a respeitadíssima Rachel afirma que sua expressão
lingüística é original e inteligente. [Editora Topbooks: http://www.topbooks.com.br/sinopses1.asp?chave=16&topico=Brincar+com+armas]
Também à venda na Amazon: https://www.amazon.com.br/Brincar-Armas-Pedro-Rodrigues-Salgueiro/dp/8574750077.
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Acesse:
DOS VALORES DO INIMIGO
http://editora.ufc.br/ |
O conto tem suas peculiaridades. Nem todo escritor consegue a concisão
necessária e o mistério indispensável capaz de levar o leitor do primeiro ao
último parágrafo. Pedro Salgueiro consegue.
Começando seus contos sem deixar margem ao leitor de saber como será o
final, o autor de O peso do morto, 1995, e O espantalho, 1996, é um contista genial. Basta abrir
este livro, Dos valores do inimigo, para
comprovar o que está sendo dito sobre ele. E ainda é pouco.
Dados do Livro
AUTOR: Pedro Salgueiro
COLEÇÃO LITERATURA NO VESTIBULAR - Nº 5
PÁGINAS: 114
ISBN: 85-7282-169-4
ANO: 2005
Também acessível na Estante Virtual:
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Acesse:
sábado, 16 de janeiro de 2016
VOCÊ NEM ME CONHECE [Webston Moura]
A
ilha é uma forma de cúpula, uma língua cujo sabor se oculta. É um mar donde só mar
se vê. E seu caminho é circular, um sempre. Meu quarto, silêncio infindo: a mobília de cor aborrecida; o espelho, meu rosto, os anos. Atrás de mim, réstias, a luz que, irregular, me chega. São 8h. Talvez, quem sabe, um pouco
mais. Detalhes. E espero o tiro de partida, uma mão, recomeços. Nada. Agora, o
nada será lei, eu sei. Santa Luzia, pequena estátua colocada à altura de meus
olhos, percebe-me. Com o tempo, foi que me dei a pensar que só essas coisas é
que me percebiam. O tempo é assim mesmo. O tempo nos amortece aos olhos alheios.
Os outros se acostumam à nossa desaparição. Até se diz que isso é normal, que
nosso nome vai sendo demolido em hábito dentro da boca dos outros e que, quando
nos olham nos olhos, isso não tem mais nada de domingo, nem de estalo.
Pode
me chamar pelo segundo nome, Teresa. É assim que me chamam. Mesmo que o incômodo
deste momento pese, não se deixe abater. Caso queira, o banheiro fica à
esquerda, no corredor. E há café fresco, espero. Vá à cozinha. E, também, caso
possa, leve aquele pássaro. Está na área de serviço. É uma burguesa e não é de
cantar, sisuda que só. Mas é amiga. Espero que sejam amigos.
Ah,
sim! Haveria um bilhete e até coisas desarrumadas, fotos espalhadas, um segredo
agora revelado. Mas é que sempre fui tanto organizada quando discreta. Sim,
também sou tímida. Por isso, nada de palavra aí nesta outra gaveta. Nem nesta
cômoda. Não precisa olhar. E evite abrir a janela, por favor! Não quero
espetáculo. Apenas me pegue e me entregue a um lugar mais cômodo. Pode ser esta
cama, é minha. Quanto a esta marca no pescoço, isso é o de menos. Por marcas
bem piores, é que meus olhos de pedra agora sugam os teus de espanto. E não
chore. A vida é assim mesmo. Você nem me conhece.
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