Não é preciso acreditar que a questão da complexidade se coloca apenas hoje em dia, a partir de novos desenvolvimentos científicos. É preciso ver a complexidade onde ela parece estar geralmente ausente, como, por exemplo, na vida quotidiana.
A complexidade desse domínio foi percebida e descrita pelo romance do século XIX e início do século XX. Enquanto que nessa mesma época, a ciência tentava eliminar tudo o que fosse individual e singular, para reter nada além das leis gerais e identidades simples e fechadas, enquanto expulsava mesmo o tempo da sua visão do mundo, o romance, pelo contrário (Balzac em França, Dickens na Inglaterra) nos mostrava seres singulares em seus contextos e em seu tempo.
Mostrou que o dia-a-dia é, de fato, uma vida em que cada um desempenha vários papéis sociais, de acordo com quem quer que seja na solidão, no seu trabalho, com amigos ou com estranhos. Vemos assim que cada ser tem uma multiplicidade de identidades, uma multiplicidade de personalidades em si mesmo, um mundo de fantasmas e de sonhos que acompanham a sua vida. Por exemplo, o tema do monólogo interior, tão importante na obra de Faulkner, fazia parte dessa complexidade.
Esse "inner speech", essa palavra permanente é revelada pela literatura e pelo romance, tal como esta nos revelou também que cada um se conhece muito pouco a si próprio: em inglês, chama-se a isso self-decepção, o engano de si mesmo. Só conhecemos uma aparência de si mesmo; enganamos-nos sobre si mesmo. Até os escritores mais sinceros, como Jean-Jaeques Rousseau, Chateaubriand, esquecem sempre, no seu esforço para serem sinceros, algo importante sobre si mesmos.
|Da página Edgar Morin Multiversidad, no Facebook
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Nota do editor do blog:
Segundo a Enciclopédia de Filosofia de Stanford, Inner speech (discurso interior) é: "A fala interior é conhecida como “vozinha na cabeça” ou “pensamento em palavras”. Atrai a atenção filosófica em parte porque é um fenômeno onde vários tópicos de interesse perene se cruzam: linguagem, consciência, pensamento, imagens, comunicação, imaginação e autoconhecimento, todos parecem conectar-se de uma forma ou de outra à pequena voz no cabeça. As questões específicas sobre o discurso interior que têm exercido os filósofos incluem as suas semelhanças e diferenças com o discurso exterior; sua relação com o raciocínio e o pensamento conceitual; seus papéis cognitivos mais amplos – especialmente na metacognição e no autoconhecimento; e o papel que pode desempenhar nas explicações de alucinações verbais auditivas e na “inserção de pensamento”." [Link]
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Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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