por: Lara Brenner
Por toda a minha vida, aprendi que havia 5 vogais: a, e, i, o, u.
Estava confortável com a ideia, quando soube, já adulta, que havia 12, não apenas 5. Ao ler isso pela primeira vez, achei que o livro estivesse com erro de edição, ou que aquilo fosse uma piada estranha, mas era sério.
Mas não eram 12?
Sim, respondeu-me o livro. É que as vogais se dividem em 2 grandes grupos: as orais e as nasais. As nasais representam sons que ocorrem quando há passagem de ar pela cavidade nasal; já as orais acontecem com essa passagem apenas pela cavidade bucal.
As orais são 7 ([a], [e], [é], [i], [o], [ó], [u]) e aparecem, por exemplo, em lá, besta, café, vida, ovo (som fechado), ovos (som aberto), blusa.
As nasais são 5 ([ɐ͂], [e͂], [õ], [ĩ], [ũ]) e aparecem, por exemplo, em lã, pente, ponte, índio, um.
Adorei saber também sobre as consoantes e suas classificações, bem como sobre as tais semivogais, que até então eu colocaria no mesmo balaio das vogais (vale a pena buscar essas explicações). Com tais conhecimentos, a construção de vários poemas fez sentido e aflorou-se em mim a percepção de ritmos textuais que eu achava belos apenas por intuição.
Por que a maioria de nós não aprende isso na escola, ou, quando aprende, tudo ocorre em metade de uma aula, numa correria incompatível com a exigência do assunto? Se os sons nos são tão instintivos, se são nosso primeiro contato com a língua, como deixar isso de fora?
Com a entrada oficial de novas letras em nosso alfabeto (k, y, w), ocorrida a partir do Novo Acordo, quem nunca havia tido contato com esses conceitos ficou perdido. Afinal, as recém-chegadas produzem som de vogais, semivogais ou consoantes? Sabendo que esses são conceitos atrelados à fala, fica fácil: em Walquíria (Valkíria), por exemplo, o som de w é consoante (som de v); já em Wesley (Uéslei), é de semivogal.
Essa diferenciação entre letra e som ocorre num nível elementar demais para simplesmente pularmos. Faz parte da estrutura de nosso idioma.
Lembrando meus tempos em sala de aula, quando ensinava para o Ensino Médio, continuo abismada com quanto a alfabetização frequentemente negligencia pontos básicos, hoje relativizados e diminuídos mesmo dentro da Academia: a caligrafia – que educa o aluno para “desacelerar, ouvir, perceber os detalhes, soletrar e praticar habilidades motoras”, como destaca Cheryl Lowe, ao defender a Educação Clássica; a separação de sílabas (muitos de meus alunos em escolas caríssimas simplesmente ignoravam o assunto aos 16, 17 anos); a forma certa de segurar o lápis; o senso de direção ao escrever (quantas vezes não vi letras voando irrefreavelmente pelo papel, como se as linhas fossem enfeites) e tantos outros.
Descobri o que são vogais, consoantes e semivogais já adulta; descobri a importância de entender as estruturas sintáticas e classes gramaticais já adulta (até então, pareciam-me um embolado de decorebas inúteis); descobri o que são as obras clássicas (e por que lê-las) já adulta; descobri, enfim, ter aprendido só adulta o que me deveria ter sido apresentado quando jovenzinha.
É claro que, como dizem os enrolados, “antes tarde do que mais tarde ainda”. Mas consola saber ser possível um caminho diferente de educação, o qual ofereça ao aluno conhecimentos de valor perene — relevantes desde sempre e para sempre. Felizmente, ainda há quem eduque por esse rumo.
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LARA BRENNER
Professora de Língua Portuguesa, fundadora do Texto Irresistível – Curso de Boa Escrita e Gramática Normativa – e do Expressando Direito – Curso de Redação Jurídica. Professora e apresentadora da Brasil Paralelo. Advogada licenciada.
|Texto extraído da fanpage "Língua e Tradição"[Link: yts65ETR96nf]
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Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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