sábado, 7 de novembro de 2015

O PREÇO DA PASSAGEM


Em silêncio,
dependurados no metal frio
de gastas engrenagens,
nomes guardados no anonimato
da indigência e do abandono,
bovinas figuras que o Estado
e a iniciativa privada pisam.
Não estão a passear,
passageiros que o são
da rotina disciplinada a ferro,
indo ou voltando do trabalho.

Cansaços, medos, angústias.
Assaltos, assédios, abusos.

Pela janela,
veem a cidade passar,
toda ela sedutora e impossível,
atraente e horrorosa,
erguida contra qualquer sonho
que repouse nalgum crepúsculo
acalentador de trovas e poemas.

A um canto mais ao fundo
alguém dorme quase esquecido
de onde deve saltar: despercebe o trajeto;
                                                    apaga a vida.


│Autor: Webston Moura
_____________________