sábado, 11 de abril de 2020

Um Passeio de Canoa





O que havia do outro lado do rio? As chuvas engordavam de águas aquilo tudo, o rio fazia-se majestoso, feroz, escuro, vinha de longe e para mais longe se ia. E do outro lado, que casas eram aquelas e quem ali vivia? Não era de todo que não sabia, claro, já que alheamento completo era impossível. Mas, ali, casas distantes, mas a vista, com gente que ia a vinha, já não era a cidade, era outra coisa, o desconhecido.

Por vezes, ficava eu à beira do rio, em segurança, claro. Observava as canoas e seus condutores, os quais usavam, a princípio, enormes varas para navegar. Eles tocavam o fundo e tomavam impulso. Depois, com o rio muito cheio, já não alcançavam o fundura do leito, lá embaixo e, então, trocavam as varas por remos. As canoas levavam gente e mercadorias, algum animal menor, cães, carneiros, algo assim. Os remadores davam contra a corrente, formando quase um meio círculo nas águas, evitando a força maior do rio. Chegavam ao outro lado, cansados, e ali deixavam as pessoas e seus pertences. Em tempos de muita chuva, quando o rio transbordava para o lado de lá, os baixios sucumbiam mais cedo e parte das casas ficava com água quase no telhado. Para onde iam as famílias?

Meu pai, pois, homem de intimidades com rios, deu de sonhar. Foi numa tarde de sol. Mandou que os filhos se aprontassem, tomassem banho e se vestissem de modo mais composto. Todos fizemos, era o pai que mandava. Sem mais dizer, levou-nos à beira do rio e nos disse para entrarmos numa canoa. Sentimos medo, mas também vontade. Entramos. Canoa cheia, tudo pronto, seguimos. Curioso o som das águas nos remos, uma luta. Ao meio do rio tudo parece de água, infinita água. Já do outro lado, casas afogadas, as primeiras que o rio come. E até ali fomos, não mais. Conhecer melhor o outro lado, foi o que ficou para outras experiências.

Nossa mãe, quando soube da nossa travessia, não a entendeu como simples passeio, nem aventura, nem nada que um adulto, o nosso pai, claro, devesse dar como coisa sensata. Onde já se viu meter crianças numa canoa e leva-las rio adentro, ainda mais com o inverno que havia! Só que para nós, desatino ou não, já era a aventura suprema, a qual contaríamos aos amigos, detalhe por detalhe.



|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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