O
que havia do outro lado do rio? As chuvas engordavam de águas aquilo tudo, o
rio fazia-se majestoso, feroz, escuro, vinha de longe e para mais longe se ia.
E do outro lado, que casas eram aquelas e quem ali vivia? Não era de todo que
não sabia, claro, já que alheamento completo era impossível. Mas, ali, casas
distantes, mas a vista, com gente que ia a vinha, já não era a cidade, era
outra coisa, o desconhecido.
Por
vezes, ficava eu à beira do rio, em segurança, claro. Observava as canoas e
seus condutores, os quais usavam, a princípio, enormes varas para navegar. Eles
tocavam o fundo e tomavam impulso. Depois, com o rio muito cheio, já não
alcançavam o fundura do leito, lá embaixo e, então, trocavam as varas por
remos. As canoas levavam gente e mercadorias, algum animal menor, cães,
carneiros, algo assim. Os remadores davam contra a corrente, formando quase um
meio círculo nas águas, evitando a força maior do rio. Chegavam ao outro lado,
cansados, e ali deixavam as pessoas e seus pertences. Em tempos de muita chuva,
quando o rio transbordava para o lado de lá, os baixios sucumbiam mais cedo e
parte das casas ficava com água quase no telhado. Para onde iam as famílias?
Meu
pai, pois, homem de intimidades com rios, deu de sonhar. Foi numa tarde de sol.
Mandou que os filhos se aprontassem, tomassem banho e se vestissem de modo mais
composto. Todos fizemos, era o pai que mandava. Sem mais dizer, levou-nos à
beira do rio e nos disse para entrarmos numa canoa. Sentimos medo, mas também
vontade. Entramos. Canoa cheia, tudo pronto, seguimos. Curioso o som das águas
nos remos, uma luta. Ao meio do rio tudo parece de água, infinita água. Já do
outro lado, casas afogadas, as primeiras que o rio come. E até ali fomos, não
mais. Conhecer melhor o outro lado, foi o que ficou para outras experiências.
Nossa
mãe, quando soube da nossa travessia, não a entendeu como simples passeio, nem
aventura, nem nada que um adulto, o nosso pai, claro, devesse dar como coisa
sensata. Onde já se viu meter crianças numa canoa e leva-las rio adentro, ainda
mais com o inverno que havia! Só que para nós, desatino ou não, já era a
aventura suprema, a qual contaríamos aos amigos, detalhe por detalhe.
|Autor: Webston Moura|
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Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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