O
que havia do outro lado do rio? As chuvas engordavam de águas aquilo tudo, o
rio fazia-se majestoso, feroz, escuro, vinha de longe e para mais longe se ia.
E do outro lado, que casas eram aquelas e quem ali vivia? Não era de todo que
não sabia, claro, já que alheamento completo era impossível. Mas, ali, casas
distantes, mas a vista, com gente que ia a vinha, já não era a cidade, era
outra coisa, o desconhecido.
Por
vezes, ficava eu à beira do rio, em segurança, claro. Observava as canoas e
seus condutores, os quais usavam, a princípio, enormes varas para navegar. Eles
tocavam o fundo e tomavam impulso. Depois, com o rio muito cheio, já não
alcançavam o fundura do leito, lá embaixo e, então, trocavam as varas por
remos. As canoas levavam gente e mercadorias, algum animal menor, cães,
carneiros, algo assim. Os remadores davam contra a corrente, formando quase um
meio círculo nas águas, evitando a força maior do rio. Chegavam ao outro lado,
cansados, e ali deixavam as pessoas e seus pertences. Em tempos de muita chuva,
quando o rio transbordava para o lado de lá, os baixios sucumbiam mais cedo e
parte das casas ficava com água quase no telhado. Para onde iam as famílias?