Sabe
o que está escrito na sua mão? Orides Fontela responde: “Leio / minha mão / único livro”.
Os
poetas dentro do processo criativo contextualizam “as mãos” como desafio, desenvolvendo um olhar afetuoso e captando
a essência atemporal da palavra, com a finalidade de desvendar esse poder
absoluto que as mãos exercem sobre nós. Nas palavras de Jorge Tufic, “Para / Fernando Pessoa / os símbolos / não
são você / nem ninguém. / São a noite interna / a dormir acordado. / Símbolos.
/ As mãos, por exemplo: / Quem são elas?”
As
mãos constituem a individualidade no sentido da existência e, ao as
vivenciarmos, encontramos os gestos declarados: mãos que guardam o tempo, mãos
frias e quentes, mãos estendidas e recolhidas, mãos que arremessam e acenam, mãos que ajudam, mãos para trás
negando o contato e renegando o gesto, mãos carinhosas e amigas, as mãos do
carrasco, mãos lidas pelas ciganas, mãos calejadas, mãos trêmulas e a Mão Única, de Orides Fontela: “é proibido / voltar atrás / e chorar.”
As
mãos revelam o gesto e descrevem os diferentes processos que vão da
aprendizagem à liderança e da tristeza à alegria. Elas, ainda, representam a
confiança nas relações pessoais, promovendo a emoção, como em Carmem Presotto, “Há mãos / que ao contar poemam /escrevem no
tempo / libertam amarras / reúnem amizades / e dão às letras liberdade...” Também
são retratadas no homem que sofre, quando lança mão de um amor, como o livro As Mãos em Cena de Pedro Du Bois: “De você / tive a mão / na condução / da
vida // ávida como são as diferenças / troquei sua mão / pela minha / e me fiz
/ sozinho // tenho minha mão interrompida / no momento em que larguei a sua...”
Ao
andar por esse caminho, me instiga pensar o que significam para os poetas,
nos dias de hoje, as mãos que os tocam; seriam elas que dão a beleza e a força?
Benedito Cesar Silva nos mostra que “Desço
as mãos sobre seu corpo, / Incorporando-o ao meu. / Na dualidade das partículas
em atrito / fazemo-nos um”.
Percebo
que a influência das mãos é manifestada através de expressões que estão
presentes no nosso dia a dia, como dar com um mão e retirar com a outra, passar
de mão em mão, estar de mãos atadas, ganhar de mão beijada, pedir a sua mão,
não abrir mão de, “... Não abrirei mão de arrancar as estacas, / de ampliar
horizontes e o que se faça, / para enraizar e frutificar sonhos!”, nas palavras
de Benedito Cesar Silva. O interessante é que o homem em sua essência continua
o mesmo, o que muda são as circunstâncias que na linguagem poética têm a
liberdade de buscar novos e simbólicos temas, que o poeta escreve com
pluralidade de significados, deixando a linguagem viva, como em Armindo
Trevisan, “Antes que a romã / escancare
as portas / do dia / beijo-te as mãos”.
Essa
liberdade que pensamos ser verdadeira e alcançada pelos poetas, talvez seja
apenas mais um dos segredos da motivação com que eles apontam uma nova maneira
de produção. Ao desvendar esse poder é preciso manter como tema o sonho da
conquista; buscar no pensamento as impressões baseadas nas razões e nos
sentidos, como percurso de comunicação. Na visão de Carmem Presotto, “Há mãos que ao contar / amam no tempo em
que vivem / e por isso, trabalham, dobram espaços, / lutam e transformam
horizontes...”
│Autor: Tânia Du Bois│
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# Crônica constante de Amantes nas entrelinhas: crônicas (Projeto Passo Fundo, 2013)
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* Tânia
Du Bois, natural de Sarandi, RS, residente em Balneário Camboriú, SC. Pedagoga.
Articulista, cronista e resenhista. Colunista literária do Jornal Correio do
Município, Itapema, SC e da A Revista SC. Colaboradora do Projeto Passo Fundo.
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