terça-feira, 3 de julho de 2018

CONFISSÕES NO DOCE DESERTO DA NOITE


Alma antiga, lembranças, tempo fluido:
este moço, agora envelhecendo, sou eu.
Há uma janela imaginada, mas muito clara,
donde olho, docemente, o que me acalma o sangue.
Fecho os olhos e sigo; sei que deve ser assim.
É o que sou, uma passagem, uma travessia alerta.

Escuto a noite, inteira noite,
coisa livre e oculta aos homens.
É quando, com total paz,
percorro Artur Verocai, 1972, sublime.
A música me toma.

À tarde, passeando com meu cão, pequeno cão,
observo sua alegria, que é como a minha.
A alegria sem soberba, a alegria simples.
Como meu cão, o ato de estar já me basta.
Estar entre as mansas coisas que me acolhem.
Como aquelas nuvens que o vento tange,
a gratuidade de suas existências.

Existir deveria ser sem muita intenção,
apenas ir-se estrada sob o sol, sendo.


│Autor: Webston Moura│

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