Alma antiga, lembranças, tempo fluido:
este moço, agora envelhecendo, sou eu.
Há uma janela imaginada, mas muito
clara,
donde olho, docemente, o que me acalma o
sangue.
Fecho os olhos e sigo; sei que deve ser
assim.
É o que sou, uma passagem, uma travessia
alerta.
Escuto a noite, inteira noite,
coisa livre e oculta aos homens.
É quando, com total paz,
percorro Artur Verocai, 1972, sublime.
A música me toma.
À tarde, passeando com meu cão, pequeno
cão,
observo sua alegria, que é como a
minha.
A alegria sem soberba, a alegria
simples.
Como meu cão, o ato de estar já me
basta.
Estar entre as mansas coisas que me
acolhem.
Como aquelas nuvens que o vento tange,
a gratuidade de suas existências.
Existir deveria ser sem muita intenção,
apenas ir-se estrada sob o sol, sendo.
│Autor: Webston Moura│