terça-feira, 17 de dezembro de 2019

ESTRANHAMENTO



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por: Tânia Du Bois

Dia após dia sinto-me estranha. Não enxergo o horizonte, nem escuto os pássaros. Escuto as vozes em tom baixo e sem força. Meu dia é longo, curta a noite. As cortinas estão fechadas. Estaria passando pela minha intransparente solidão? Nas palavras de Álvaro Pacheco, “...Na minha vida que passa / eu passo do reencontro / dos tempos que me matei: / não cumpro as missões jacentes / dos fatos de alegrar-me: / minha sina é entristecer-me...”.

Escuto na insônia o lamento da vida, quando minhas outras vozes meditam no escuro do quarto. Traço linhas; escrevo sobre o silêncio que espreita a minha vida entre tentativas infrutíferas de bem estar.

Estranho é o mistério quando sigo minhas ruínas até o tempo remontar meu pequeno sonho: seguir as luzes para poder distinguir nas sombras a hora da verdade. Ainda em Álvaro Pacheco, “...Apenas a solidão / se comunica conosco: / é sofrer nas almas / esse meio e fim / (e sobreviver, ah, sobreviver)”.

É necessário resistir à estranheza temporal que diz que fui conquistada: minhas forças estão fracas. A vida me leva em altos e baixos nas várias cores da solidão. Ás vezes, penso em não mais ficar sem quem me convença a procurar parâmetros que multipliquem meus sentidos, para marcar o tempo e determinar as causas do estranhamento nos meus dias. Estaria nas pequenas coisas a grandeza da vida? Ou, como Álvaro Pacheco reflete, “...a vida nos desgasta / nessas repetições cruas / não não / nos habituamos jamais”.


│Crônica constante de Na Sombra dos Sentidos (Projeto Passo Fundo, 2019), de Tânia Du Bois.

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2 comentários:

  1. Caro Webston,

    muito, muito obrigada pelas publicações.
    É prazeroso participar do seu espaço.
    Forte abraço,
    Tânia.

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    Respostas
    1. Eu que agradeço, Tânia, pela gentileza e os livros! Abraços!

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