terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Nos 75 anos da libertação de Auschwitz



Auschwitz


"Não sei se há no mundo alguma palavra com a mesma ressonância, mas Auschwitz representa, de alguma forma, a quinta essência do terror no Século XX. Sei que os judeus não gostam que se fale de Auschwitz, nem sequer aceitam sem polémica as diferentes versões ou reflexões que esta monstruosidade gerou em criadores ou pensadores judeus, mas não participo nesta espécie de sentimento religioso que impede que se pronuncie um nome, seja o de Deus, seja o do horror. Não: todas as palavras, incluindo as mais dilacerantes, podem e devem ser ditas e pensadas. Auschwitz pertence à humanidade doente, os que ali morreram eram nossos semelhantes, é igual que fossem judeus, ciganos, homossexuais ou comunistas, todos foram assassinados porque houve quem se tenha sentido superior e não tenha querido aceitar o diferente. Esta é a maior atrocidade, que haja quem esteja disposto a assassinar, a eliminar, para impor o seu cânone, a sua lei, a sua norma. E repara que a tragédia não acabou com o final da II Guerra e a manifestação, em toda a sua crueldade, da magnitude do horror: Hoje mesmo, em África, que está tão próxima de minha casa, na América também, estão a produzir-se episódios de eliminação sistemática do outro. É-me igual que seja em câmaras de gás ou pela fome ou epidemias, cuja origem não se conhece e cujo remédio está ao alcance de qualquer laboratório farmacêutico. Auschwitz não está fechado, continua aberto e as suas chaminés continuam a soltar o fumo do crime que todos os dias se perpetra contra a humanidade mais débil. E posso assegurar-te que não quero ser cúmplice, com o meu cómodo silêncio, de nenhuma fogueira."

José Saramago, in "Conversaciones con Saramago", de Jorge Halperín

Fonte: Fanpage da Fundação José Saramago:
https://www.facebook.com/fjsaramago/


Fundação José Saramago
Casa dos Bicos - Rua dos Bacalhoeiros, 10, 1100-135 Lisboa
Website: https://www.josesaramago.org/
E-mail: info.pt@josearamago.org

JULGAMENTO DO PROFESSOR QUE OUSOU ENSINAR DARWIN



https://www.facebook.com/iconografiadahistoriaoficial/


O julgamento do professor que ousou ensinar Darwin, quando os docentes eram obrigados a ensinar o criacionismo nas salas de aula norte-americanas.

No evento conhecido como "O Julgamento do Macaco", um professor foi acusado de ensinar evolucionismo na escola, EUA, 1925.

John Scopes, um professor de escola pública de Ensino Médio, foi acusado, em 1925, de ensinar o evolucionismo usando um capítulo de um livro que foi baseado em ideias inspiradas no livro “A origem das Espécies”, de Charles Darwin.

O professor foi condenado a pagar uma multa de 100 dólares, o que era muito dinheiro na época, por violação da lei que proibia o ensino da Teoria da Evolução nas escolas públicas do Tennessee, nos Estados Unidos.

Nos anos que se seguiram ao julgamento, o ensino do Evolucionismo ganhou força nos Estados Unidos e depois que o movimento anti-evolucionista desapareceu, a Lei Butler foi revogada em 1967.

[Foto] - Professor Scope sentado em frente aos seus advogados, ouvindo a sentença do júri, proferida pelo juiz.

Texto - Joel Paviotti



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OUTRAS FONTES SOBRE O ASSUNTO OU CORRELATOS:

O Julgamento do Macaco: A Teoria da Seleção Natural no Banco dos Réus:

Criacionismo - Religião Contra-ataca:

O Criacionismo Invade A Europa:
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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

SAFIRAS LIQUEFEITAS



Os Guarda-chuvas - Pierre August Renoir



Suzanne Valadon, ainda mais bonita,
não apesar da chuva, se antes ou agora, mas por causa dela
ou, se melhor pensarmos, do que ela provoca,
este caminhar de azuis sob guarda-chuvas,
como se safiras liquefeitas inundassem o ar.


│Autor: Webston Moura│


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Para ler outros poemas do autor, clique "aqui"

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

MISTERIOSAMENTE



Untitled - Aki Kuroda


Não pode chamar de vento, vazio ou água,
embora lhe pareça, a princípio, agradável.
Sente, mas não nomeia.
Expressa, mas não diz com palavras.
Não consegue definir; apenas sente e expressa.

Diriam alguns ser o trato de uma criança criando horizontes.
Mas, não. Ou não somente.

Cabe, mas não completa: não são laranjas num cesto.
Preenche, mas não compõe volume por sobre fronteiras.
É como o voo, mas o voo mesmo, a liberdade de.

É dança, alguma forma de dança.

É, noutra língua, a música que não se entende, mas  que se ama, misteriosamente.
E, ainda assim, não é abismo.


“So take a look at me now
Cause there's just an empty space
And there's nothin left here to remind me
Just the memory of your face”
− Phil Collins, in "Against All Odds"



│Autor: Webston Moura│

TERESA, SEU SORRISO E SUA SUAVE PRESSA






Nunca estive aí,
nem no passado,
nem depois.

Mas, como é comum,
comovem-me estas fotos em preto-e-branco.

A legenda diz de um lugar
que posso encontrar nos mapas e noutros artefatos,
mas que, nas fotos, parece-me mais íntimo, meu,
se assim pode a liberdade a que me dou.
A imagem, se de sentimento vestida, nos toca,
ao menos a mim, a isto afeito.

Imagino, pois, se era manhã ou tarde.
Escolho a tarde.
Pois naquela tarde, num de repente, a foto, o click de uma máquina,
a captura que revelaria ao futuro o instante agora eterno, estático.
Fosse um pouco antes, teria encontrado Teresa, seu sorriso e sua suave pressa.



│Autor: Webston Moura│


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Nota:
- A Foto foi retirada da página da Câmara Municipal de Lisboa, no Facebook: https://www.facebook.com/camaradelisboa/. E, lá, a legenda diz: "Assim se circulava na Avenida da Liberdade nos anos 40 do século XX 🔙 CARRIS

A CASA JOSÉ SARAMAGO



A Casa José Saramago


«El libro continuaría siendo, en este y en todos los futuros, aquello que es hoy: un comentario sin prejuicios sobre casos y gente, el discurrir de alguien que quiere echar mano al tiempo que pasa, como si dijese: 'No vayas tan deprisa, deja una señal de ti'».
9 de enero de 1994
José Saramago


"O livro continuaria a ser, neste e em todos os futuros, aquilo que é hoje: um comentário sem preconceitos sobre casos e pessoas, o discorrer de alguém que quer dar mão ao tempo que passa, como se dissesse: ' não vá tão rápido , deixe um sinal de você ' ".
9 de Janeiro de 1994
José Saramago




Casa Museo José Saramago en la Isla de Lanzarote [Canary Islands] abierta de lunes a sábados desde las 10,00 h a 14,30 h. Última visita a las 13,30h.
E-mail: acasajosesaramago@gmail.com

sábado, 18 de janeiro de 2020

RESPOSTAS







Todas as respostas
constarão do arquivo
que nos será entregue

na sua leitura
gastaremos nossa eternidade

tanto não precisaríamos ter feito
quantas dúvidas não deveriam
                     ter nos consumido
                     algumas maneiras
                     estavam certas
                     incorretas foram
                                 as escolhas

fecharemos o arquivo
como o abrimos: sem
o tempo da conquista.

(Pedro Du Bois, inédito)


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Anteriormente postado no blog do autor: http://pedrodubois.blogspot.com/

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Leia também:

- "Busca na estátua...", de Pedro Du Bois
- "Estranhamento", de Tânia Du Bois
- "Jogo Emocional", de Tânia Du Bois
- "Traços Instigantes", de Tânia Du Bois
- "As Mãos", de Tânia Du Bois

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

QUEM NOS ESCUTA?


Atravessar os dias,
vive-los não,
não por querer,
mas pela força
e, como cantava o cantor popular,
o mal que a força sempre faz.[1]

Toda recusa, caso possamos, esbarrará nas burocracias.
Há este muro paridor de muros e de outros nãos,
navio de imensidades incômodas atravessado na vida.
E nós, quando muito, a estas horas, gritando.

Quem nos escuta?


│Autor: Webston Moura│


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1. Belchior, em “Galos, Noites e Quintais”

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Leia também:

O relógio perdido


Lembrava-se, especialmente, de um relógio.
Não que, por valor de dinheiro ou similares, tivesse valia,
mas, sim, por sentimento: presente de pai.

Entre aquelas duas estações de trem, onde o perdera,
haveria de voltar e percorrer o caminho,  passo devagar,
sem, de fato, encontrar vestígio do objeto.
Deu-se a isso, anos e anos,
como um peregrino anônimo de um caminhar secreto.


│Poema da Série “Objetos Perdidos” – Autor: Webston Moura│

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