segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A cena mais antiga



Painel de 45,5 mil anos com a representação de porcos,
encontrado na Indonésia -
 [A A Oktaviana]


Uma cena com porcos nativos da Indonésia é possivelmente a pintura figurativa mais antiga atribuída a seres humanos modernos (Homo sapiens) identificada até o momento. A equipe coordenada pelo arqueólogo Adam Brumm, da Universidade Griffith, na Austrália, encontrou em 2017 o painel em que estão representados ao menos três exemplares do suíno na caverna Leang Tedongnge, que integra o complexo de grutas calcárias Maros-Pangkep, na porção sul de Sulawesi, a maior ilha da Indonésia. A datação de sedimentos acumulados sobre a pintura indica que tenha sido realizada há pelo menos 45,5 mil anos. Na interpretação dos arqueólogos, a imagem, produzida com pigmentos à base de óxido de ferro, que lhe dão o tom avermelhado, retrata um exemplar de porco verrugoso de Sulawesi (Sus celebensis), suíno de porte médio endêmico da região. A cena é composta por ao menos mais dois exemplares do animal, que estão incompletos por causa da esfoliação da parede da gruta (Science Advances, 13 de janeiro). Anos atrás o grupo de Brumm havia encontrado uma pintura de porco datada em 43,9 mil anos em outra caverna da região. Essas representações seriam as evidências mais antigas da presença de seres humanos modernos nas ilhas que compõem a atual Indonésia. Na Espanha, existem pinturas rupestres mais antigas, com idade estimada em 65 mil anos. Elas, no entanto, são atribuídas aos neandertais (Homo neanderthalensis), uma espécie de seres humanos arcaicos, e não são figurativas.


Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.


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domingo, 19 de setembro de 2021

CALIGEM



Two Seated Girls (1911) - Egon Schiele






Onde não vês,
há duas crianças.

Passas apressadamente:
uma terça-feira de negócios
e inadiáveis ansiedades
te consomem.

Por isso,
não vês.

Como não sabes mais o trovão,
o abraço, a gratidão, os quintais,
o pão e a dança.

Estás dormindo,
acalentado pela velocidade
e o torpor.





|Autor: Webston Moura|






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O MOTOQUEIRO DO SÁBADO


Fury (1944) - Francis Bacon







Madrugada.
Vem o motoqueiro desordenar o sono.
Sobe e rua, desce a rua, some-se, volta,
como se a procurar objeto impossível.

Só lhe sabemos o som
de sua máquina furiosa,
escape desengasgado
rasgando o silêncio,
acordando gente
e assustando os cães.

Deve ser solitário,
sem mulher e filho.

(Arrasta um dor
ou finge ter uma?)

Não nos fala língua
de dar-e-receber.
Só nos quer em vigília
de uma sua aflição.




|Autor: Webston Moura|






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sábado, 18 de setembro de 2021

Crepuscular








Longe,

as acácias
(cálices dourados
onde a tarde bebe
o vinho mais puro).
Anjos lá no céu
guardam seus arados
porque o olhar do sol
está perdendo o brilho.

— Mas, segue no escuro
o trem sobre trilhos.




|Autora: Lenilde Freitas|






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O VIAJANTE








Eu sempre que parti fiquei nas gares
Olhando, triste, para mim...





|Autor: Mário Quintana|





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sexta-feira, 17 de setembro de 2021

DENTRO DO SILÊNCIO







“Quero viver como uma bandeira à brisa,
Símbolo de qualquer coisa no alto de uma coisa qualquer”
- Álvaro de Campos





Como passageiro e passagem,
a cor, mas, antes, a luz, ela mesma,
fogo da vida,
o que se pode além das palavras
e, ainda assim, capaz de a tudo dizer.





|Autor: Webston Moura|





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Um Pássaro







É um pássaro, mas ninguém o vê.
Apenas eu o observo, seu voo no azul,
singularidade da qual nada diriam,
dada a pressa cega do viver.
A vida urge, não se pode pasmar por voos,
nem de pássaros, nem de outros! — haveriam de repetir.
Mas, eu, nesse instante, só, em silêncio, sob vento e sol,
o vejo, um pássaro em seu voo,
magnificência da vida,
simplesmente.


 
|Autor: Webston Moura|



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Eco



É mais fácil partir quando o silêncio

transpõe a tua voz.
Mais simples celebrar a tão efémera
certeza de estares vivo.

A música do ar esvai-se nas sombras,
tu sabes que é assim,
que os dias correm céleres, não tentes
perseguir o seu rasto – repara
como em abril as aves são felizes.

Sê como elas: não perguntes nada,
deixa que o sol responda à flor da tarde

e esquece-te do mundo.



|Autor: Fernando Pinto do Amaral|




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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

SABIAGUABA







mar de águas claras
de ondas rebeldes
de pedras violentadas pelas ondas

pássaros a observam
banham-se com os respingos das ondas
que se chocam nas pedras

estremecem
abrem suas asas
voam mar adentro

tenho vontade de voar com eles!

o azul do céu confunde-se
com o azul
de suas águas

morros
por trás esconde-se uma lagoa
praia selvagem
natureza viva
intacta
pura de sentimentos

praia liberdade
praia poesia


[Autor: Amarildo Gonçalves]

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Livro investiga o aparecimento da figura do editor no Brasil




Agência FAPESP – A trajetória do tipógrafo, livreiro e poeta Francisco de Paula Brito (1809-1861) é investigada no livro Francisco de Paula Brito: A Black Publisher in Imperial Brazil (Nashville: Vanderbilt University Press, 2020), de autoria do professor Rodrigo Camargo de Godoi, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A publicação foi lançada em dezembro de 2020 e contou com auxílio da FAPESP por meio da linha de fomento Auxílio à Pesquisa – Publicações.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

"Pai contra mãe e outros contos", de Machado de Assis







"A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. (...) Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras."


"Pai contra mãe e outros contos" é uma compilação de 33 narrativas breves de Machado de Assis. A história que intitula o volume fala das fissuras históricas da modernização tropical — as contradições de um Brasil que tenta se modernizar, mas carrega seus arcaísmos herdados da colonização, como a escravidão e a política elitizada. Com prosa brilhante e ironia fina, Machado expõe as relações sociais da sociedade brasileira de seu tempo, da qual ainda carregamos hoje muitas heranças.

Sua reedição combina contos clássicos como "A cartomante", "A causa secreta", "Adão e Eva" e "Missa do galo" com escolhas menos comuns e nem por isso menos brilhantes, como "Conto de escol"a e "Anedota do cabriolet": uma leitura deliciosa e testamento ao gênio de Machado de Assis.

Projeto Machado de Assis Real.


│Fonte: fanpage da Editora Hedra

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

CEARENSES NA FINAL DO PRÊMIO JABUTI 2020




│DEU NA IMPRENSA – No jornal O Povo: “Com quatro cearenses, Prêmio Jabuti anuncia os cinco finalistas de cada categoria”: link [aqui]

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

MIKE, UM CHIMPANZÉ








Deram de chama-lo de Mike,
este chimpanzé,
a parecer um nosso avô,
olhar cândido e pelos brancos,
envelhecido na clausura.

Ver as grades,
as pessoas, a vida lá fora,
o ir e vir,
sempre e sempre
 – e nada mais!

Ano a ano,
como se fosse lógico,
como se fosse bom,
o cativeiro.

Com o descuido do tratador,
Mike fugiu e levou um amigo.

Foram abatidos a tiros
por piíssima mão
de quem se acura em tal feitio.




│Autor: Webston Moura│