Os nomes das coisas, a possibilidade de classificá-las, distinguindo-as a partir de
suas características próprias, e, de alguma forma, colecioná-las, dispô-las em
conjunto, delas apossar-se, tê-las, guardá-las. Os nomes de tudo, mas não
apenas de se saber falar, sonorizar, mas de se assentar num papel, num caderno,
retendo, riqueza que se possui, embora não se possa trocar por comida ou outro
bem, nem oferecer, tal pedaço de bolo, a um amigo ou irmão. Buscar a parte que nos
cabe no mundo, alfabetizar-se, adentrar os domínios da língua e da linguagem e,
deste modo, subir, crescer, evoluir, tornar-se alguém.
A
cartilha era a ferramenta que dispunha da seguinte estratégia: para cada letra,
a associação a um bicho. “A” de abelha, uma abelha cuja figura era de uma só asa, curiosa e mágica. E as outras letras, os outros bichos, mais de vinte. Para
uma criança, uma imensidão de novidades dada como brincadeira. A professora, de
nome agora injustamente esquecido, era a condutora da aventura. Jovem,
enérgica, mas terna, sabia que éramos crianças, não meros ignorantes. E nos
ensinava com o melhor que podia.