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domingo, 26 de novembro de 2023

RETRATO






A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
Há quem, tendo-a metida
num cofre até às mais fundas raízes,
simule não ter pele, quando
de facto ela não está
senão um pouco atrasada em relação ao coração.
Com ele, porém, não era assim.
A pele ia imitando o céu como podia.
Pequena, solitária, era uma pele metida
consigo mesma e que servia
de poço, onde além de água ele procurara protecção.

*
Fotografia (c) Andrea Kiss

|LUÍS MIGUEL NAVA, in Colóquio/Letras n.º 104/105, Julho de 1988, Fundação Calouste Gulbenkian




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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terça-feira, 29 de setembro de 2020

SEM OUTRO INTUÍTO





Atirávamos pedras
à água para o silêncio vir à tona.
O mundo, que os sentidos tonificam,
surgia-nos então todo enterrado
na nossa própria carne, envolto
por vezes em ferozes transparências
que as pedras acirravam
sem outro intuito além do de extraírem
às águas o silêncio que as unia.
 
│ LUÍS MIGUEL NAVA, in VULCÃO (Quetzal Editores, 1996); in POESIA (Assírio & Alvim, 2020)
│Fonte: Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen 
 Fotografia ©Adriano Basto