sábado, 8 de fevereiro de 2020

NOTÍCIA DE JORNAL RELATA A GRANDE INCINERAÇÃO DE LIVROS DO ESCRITOR BAIANO JORGE AMADO


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O ato ocorreu a mando do interventor do Estado da Bahia, em 1937, período ditatorial conhecido como Estado Novo.

Em 1937, Getúlio Vargas implantou uma ditadura no Brasil, usando como justificativa para o autogolpe um fajuto documento denominado "Plano Cohen". A farsa se sustentou através de várias ações simbólicas do governo federal e estaduais. Para provar que o Brasil estava combatendo o pensamento comunista, o recém empossado interventor da Bahia (uma espécie de governador), com permissão do próprio Vargas, mandou incinerar 1827 livros, na Praça Cayru, Avenida Contorno, em Salvador. 90% das obras queimadas eram do escritor baiano Jorge Amado, que acabara de lançar, naquele mesmo ano, sua obra mais conhecida: “Capitães de Areia”, a história de um grupo de garotos de rua abandonados pelo Estado e convivendo com a imensa desigualdade social e pobreza típicas de países pobres. Além de outras obras do autor, também foram destruídos na fogueira da ignorância livros de José Lins do Rêgo, que nem era filiado ao Partido Comunista, obras de Graciliano Ramos, autor que posteriormente seria preso pelo regime.

Aos gritos e movidos pela euforia e felicidade, muitos brasileiros comemoraram a incineração das obras, sem perceber o perigo que é uma sociedade queimar livros, pois todo caos começa incinerando ideias, para, posteriormente, queimar pessoas.

Texto - Joel Paviotti
│Da página Iconografia da História:

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

7 DE FEVEREIRO - DIA NACIONAL DE LUTA DOS POVOS INDÍGENAS


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O dia 7 de fevereiro marca o assassinato de Sepé Tiaraju, cacique Guarani que simboliza a luta indígena e pela soberania dos povos.

No século XVIII, ele liderou o povo indígena dos Sete Povos das Missões na defesa das suas terras, contra Portugal e Espanha.

Essa resistência desencadeou novos movimentos de luta indígena, após a sua morte, durante uma batalha com os espanhóis.



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Dia de luta e resistência, venha se unir a luta dos povos indígenas em defesa dos nossos direitos, a nossa luta e resistência é em defesa da vida, é hora de somar conosco e defender nossos territórios, é a nossa luta que garante a vida do planeta!

A data

Em 7 de fevereiro, é celebrado o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas. Instituída pela Lei nº 11.696, de 12 de junho, a data foi escolhida em homenagem a Sepé Tiajaru, líder indígena que tentou combater o domínio português e espanhol no estado do Rio Grande do Sul, no período colonial.

Sepé Tiaraju foi um indígena guarani, líder dos Sete Povos das Missões, que enfrentou os exércitos português e espanhol. Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, por meio do qual fariam uma troca de territórios, sendo que um desses territórios pertencia ao povo guarani. Em 07/02, Sepé foi morto em combate, e essa data inspirou o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas.

As pessoas que tiveram acesso ao ensino das escolas já devem ter ouvido que os povos indígenas estavam no Brasil quando o país foi invadido por Pedro Álvares Cabral e outros colonizadores. No entanto, nem todas as pessoas sabem que esses povos, apesar de todo o sofrimento e da escravidão, continuam existindo no território brasileiro, lutando por terras e por reconhecimento de suas identidades. Hoje, aprenda mais sobre as necessidades das pessoas indígenas e descubra o que fazer para mudar essa realidade!

│Da página da Apib: https://www.facebook.com/apiboficial/


TERRA




A cidade
apaga
a terra

subsolo
sob nada
sobretudo
a cidade
esconde
a terra
esterilizada
em camadas
concretadas

a terra ressurge
sobre os escombros.

(Pedro Du Bois, CASAS EM PEDRAS, Edição do Autor)

│Do blog do autor: https://pedrodubois.blogspot.com/



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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

CENSURA A LIVROS EM RONDÔNIA






Machado de Assis, Ferreira Gullar, Caio Fernando Abreu, Carlos Heitor Cony, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Franz Kafka e Edgar Allan Poe são alguns dos autores cujos livros a Secretaria de Educação de Rondônia mandou recolher das escolas. “A justificativa é a de que as obras contêm ‘conteúdo inadequado às crianças e adolescentes’”, conforme matéria do jornal O Globo: https://oglobo.globo.com/.


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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

MOVIMENTO NA NÉVOA (SOBRE EDUARDO COUTINHO)



Eduardo Coutinho



por: Felipe Bragança,


Seis anos atrás, perdíamos um dos nossos mais brilhantes e sensíveis cineastas. Em homenagem à data, recuperamos este texto escrito pelo cineasta Felipe Bragança para o número 22 da revista Margem Esquerdaa este que é amplamente considerado o mais importante documentarista brasileiro. Para se aprofundar no tema, recomendamos também o livro Sete faces de Eduardo Coutinho, escrito pelo jornalista Carlos Alberto Mattos e publicado em 2019 pela Boitempo, pelo Itaú Cultural e pelo Instituto Moreira Salles.

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O espaço vazio e a palavra tentando organizá-lo. Como escolher a palavra certa, o gesto certo e definidor? Eduardo resmungava muito enquanto fazíamos a entrevista naquele simples e quase vazio escritório no Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), no centro do Rio de Janeiro. Lembro-me de entrar na sala e ouvi-lo perguntar para mim: “Você existe mesmo?”. A pergunta vinha porque Coutinho já tinha lido algumas coisas minhas sobre seus filmes (nos velhos tempos em que eu escrevia em sites de cinema), mas nunca tínhamos nos visto frente a frente. Faltava o encontro. O encontro. A fumaça de cigarro que subia pela sala ia adensando a sensação de que Coutinho olhava o mundo através dessa desencantada e alegre camada de dúvida, titubeio e apreensão – a névoa alegre de toda pergunta. “Mas como fazer uma entrevista, Felipe? Mas como saber se o que eu disse agora sou eu mesmo daqui a cinco minutos, entende?”

A ideia de que nossa conversa pudesse ser publicada futuramente em um livro assustava Coutinho. Imaginar que a palavra dita por ele, deslocada de seu corpo, rosto e gestual, pudesse se tornar ditadora, limitada e limitadora de ideias era algo que tirava aquele homem do conforto. Eduardo não gostava de comentar filmes que não os dele, nem de definir objetos fora de seu método. Achava que todo gesto de análise era insuficiente e se dedicava às brechas, ao espaço misterioso entre os objetos – aquele espaço, sim, tinha a existência nobre das coisas porosas que lhe enchiam os olhos de brilho. E os olhos de Coutinho brilhavam falando de cinema. Por isso, a conversa emergia como centro da dramaturgia documental de seus filmes. A conversa tinha esse dom da fragilidade, da eternidade passageira, da sobrevivência corajosa no tempo, e nunca o orgulho de um ditame vitorioso, pronto, apaziguado. Aquele homem, tão aparentemente pragmático e metódico, procurava milagres.

E nessa procura, Coutinho gostava de se resmungar, de se questionar, de achar que tudo podia dar errado – e transpirava prazer nesse limiar do risco. Filmar assombrado por essa dúvida. Filmar perplexo. O titubear diante da vida como um gesto criador. Um gesto que nos desviava da ditadura dos temas e recortes do cinema moderno (determinista e analítico em seu gesto primordial), mas que também driblava a arapuca contemporânea da contemplação, da inação diante dos dilemas do nosso tempo, da observação passiva que se tornou um pobre sinônimo de um cinema “aberto” nos anos 1990 e começo dos 2000.

Observem bem: Coutinho nunca fez sequer um filme único plano de contemplação. Seu cinema é abismado, desconfiado, ruminante, maravilhado. A arte do cinema de Coutinho não é a arte que organiza o mundo para nosso entendimento ou para nossa observação inerte, mas é a arte que amplia de forma generosa nossas possibilidades de continuar investigando, buscando um pouco mais, se mantendo fora do sossego da tese pronta, do certo e do errado, do júbilo fácil da certeza – ideológica, moral, estética.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

PALAVRA







Falo da natureza.
E nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras,
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo, e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei
As reconheço, agora.


Miguel Torga, in “Diário X” do livro Diário – Vols. IX a XII
│Poema e imagem retirados da página Miguel Torga - A Criação do Mundo

sábado, 1 de fevereiro de 2020

ESCOLA






O que significa o rio,
a pedra, os lábios da terra
que murmuram, de manhã,
o acordar da respiração?

O que significa a medida
das margens, a cor que
desaparece das folhas no
lodo de um charco?

O dourado dos ramos na
estação seca, as gotas
de água na ponta dos
cabelos, os muros de hera?

A linha envolve os objectos
com a nitidez abstracta
dos dedos; traça o sentido
que a memória não guardou;

e um fio de versos e verbos
canta, no fundo do pátio,
no coro de arbustos que
o vento confunde com crianças.

A chave das coisas está
no equívoco da idade,
na sombria abóbada dos meses,
no rosto cego das nuvens.



NUNO JÚDICE, in MEDITAÇÃO SOBRE RUÍNAS (Quetzal,1999)

Ilustração - Kris Aro Mcleod

│Da página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen:

CENTENÁRIO DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO É MARCADO POR DESCOBERTA DE OBRAS INÉDITAS



Foto: Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã


Do website Brasil de Fato
em 28 de janeiro de 2020


A própria ideia de homenagem ao centenário de João Cabral de Melo Neto pareceria estranha ao escritor ou, pelo menos, à imagem construída em torno da figura de um dos grandes ícones da cultura brasileira. Avesso à fama e ao culto à personalidade, João Cabral dizia que preferia não ser popular e que o fato de não precisar viver da escrita o permitia dar pouca atenção ao assunto.

Nascido no Recife, em 1920, ele publicou seu primeiro livro, Pedra do Sono em 1942. Se mudou para o Rio de Janeiro, aos 22 anos e aos 25 anos ingressou no serviço diplomático. Na época lançou a obra O engenheiro. Ao longo da carreira no Itamaraty, passou por países como Senegal, Portugal, Espanha, Inglaterra e Suíça, mas nunca deixou de escrever.

Em 1950, João Cabral publicou O Cão Sem Plumas, obra que viria a ser considerada a consolidação de um estilo criterioso, objetivo e rigoroso, completamente avesso a inspirações subjetivas, sentimentais e oníricas. Essas características o levaram ainda mais a um caminho de crítica ao culto à individualidade. Em entrevista ao jornalista e escritor Geneton Moraes Neto, o poeta é taxativo quanto a essa postura:

“Não gosto de carta. (…)  Ninguém é tão interessante para falar de si mesmo o tempo todo.”

Não sem motivo, é de Cão sem Plumas que saem alguns dos poemas que hoje inspiram artistas muito conectados a uma linguagem extremamente atual das artes. Em 2017, a coreografa Deborah Colker criou um espetáculo que leva o mesmo nome do livro e de um dos poemas da obra. A banda Cordel do  Fogo Encantado incluiu no disco O Palhaço do Circo sem Futuro versos do poema Os Três Mal Amados, que também está no livro. A declamação visceral do vocalista Lirinha ficou famosa durante a turnê da banda e era gritada em coro pelo público sempre emocionado.

“O amor comeu meu nome, minha identidade,
meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia, meu endereço. O amor comeu
meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços,
minhas camisas. O amor comeu metros e metros
de gravatas. O amor comeu a medida de meus
ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de
meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu
peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos

(…)

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia
e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu
meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da
morte.”

O Meu nome é Severino

Se Cão sem Plumas deu início à linguagem que marcou a identidade literária objetiva de João Cabral, foi anos depois, com Morte e Vida Severina (1955), que o autor experimentou sua maior popularidade. Com o subtítulo Auto de Natal Pernambucano, o texto conta a trajetória de um imigrante que foge da seca no sertão e busca a sobrevivência na capital Recife. 

“APRENDI NAS PEQUENAS GARES DE PROVÍNCIA”







aprendi nas pequenas gares de província
a esperar comboios que não chegavam nunca
(ou chegavam tão atrasados que
no momento em que se avistavam
já eu tinha desistido deles)
e sempre invejei o velho Tolstoi
fugido de casa aos oitenta anos
a deixar-se morrer numa delas
no meio de toda a brancura do mundo

um dia entre Belver e Gavião
(possivelmente nem sabes onde
isso fica)
uma velha pediu-me que lhe segurasse as mãos
porque de repente sentira muito medo de
morrer sozinha
(coisa que nunca deve ter passado pela
cabeça do velho russo
para quem a morte só podia ser um
brando ajuste de contas sem testemunhas)

então entre curvas e desvios contei-lhe
todas as curvas e desvios das minhas vidas
e ela sossegou um pouco e disse que
eu ia ser muito feliz porque sabia
distinguir entre todos o comboio certo

aquele explicou já na saída
que se afasta no exato momento em que
o sol desenha a nossa sombra no olhar de
quem nos deixou



│ALICE VIEIRA, in OS ARMÁRIOS DA NOITE, capa de Heduardo Kiesse/ ParadoXos (Caminho, 2014)

│Da página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen:

│Arte - Dave Gilmoore