segunda-feira, 21 de agosto de 2017
sexta-feira, 7 de julho de 2017
O VENTO SOBRE AS ÁGUAS
Guardo as palavras, assim desejo.
O que
falo é repertório econômico.
Observando
tudo que não fala na minha língua,
descubro
os obscuros idiomas da vida.
Por
exemplo, o intervalo de uma hora específica,
seu
correr leve, as coisas engendradadas,
tudo
que meu coração disto captura.
Quando
o vento passa sobre as águas,
escuto as
palavras que não sei dizer.
│Poema
da Série “Palavra” – Autor: Webston Moura│
CAVALO
Eu te
amo.
Meu
corpo sobe à palavra e transborda.
Mas,
meu corpo é matéria, quer transgressão.
E transgressão
é uma palavra-cavalo.
Eu te
amo, então, com todos os cavalos.
As
palavras, pois, quando te amo,
diluem-se
em arfares, gemidos e relinchos.
│Poema
da Série “Palavra” – Autor: Webston Moura│
TEUS NOMES
Perdi-te, palavra, nome de mulher,
que as
cartas rasguei.
Dei de
perder-te, por necessitar.
Quebrei
os discos do Roberto Carlos
e
chorei o que pude num último choro.
Deixaste-me,
ainda,
um dicionário de arcanas pronúncias,
palavras as quais não sei
desmontar,
tampouco dar uso.
│Poema
da Série “Palavra” – Autor: Webston Moura│
quinta-feira, 6 de julho de 2017
VIDAS DESAMARRADAS
Tânia Du Bois é
cronista. Como tal, aparenta ser capaz de falar sobre qualquer assunto, tal é a
facilidade de compreensão e de comunicação que se pode observar em seus textos.
Todos podemos ver isso em “Amantes nas Entrelinhas”, "Exercício das Vozes”, “Autópsia
do Invisível”, "Arte em Movimento", "Comércio de Ilusões", “O Eco dos Objetos” e, agora, neste “Vidas Desamarradas”
(Projeto Passo Fundo, 2017). Leitora e observadora sagaz, segue o que não seria
uma fórmula, mas um caminho, o de investigar, gentil, inteligente e
honestamente, as escritas de outros, para então, apreciando-as, dizer suas
(dela) impressões que, inevitavelmente, situam-se na interface literatura
(ficção)-vida real. Tânia escreve bem e, ao que parece, em favor do que em nós
clama por luz e entendimento.
SERVIÇO:
Vidas
Desamarradas (Crônicas)
Tânia
Du Bois
Projeto
Passo Fundo [Link: http://www.projetopassofundo.com.br/]
ESCREVIVÊNCIAS: LIVRO DE VIDAS IMAGINOGRAFADAS
Escrevivências: livro de vidas
imaginografadas é de autoria de Dércio Braúna e Joel Neto. Impresso
sobre papel couchê fosco (miolo), tem capa dura e une imagens (por conta de
Joel) e poemas nelas inspirados (por conta de Dércio). Trata-se de um
trabalho de profunda sensibilidade sobre o cotidiano de pessoas simples do povo,
pessoas “capturadas” em instantes que o fotógrafo e o poeta fazem aparecer aos
nossos olhos (à nossa sensibilidade) de forma magnífica. O projeto foi
contemplado no X EDITAL CEARÁ DE INCENTIVO ÀS ARTES 2015 (SECULT/CE) e
realizado neste ano de 2017.
SERVIÇO:
Escrevivências:
livro de vidas imaginografadas
Joel
Neto e Dércio Braúna
Deleatur Editorial
Contatos:
joelnetor7@gmail.com
quarta-feira, 5 de julho de 2017
AGULHA REVISTA DE CULTURA #99 │ JUNHO DE 2017
Saiu a edição 99 da Agulha Revista de Cultura. O link geral é este: http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/2017/07/agulha-revista-de-cultura-99-junho-de.html.
terça-feira, 4 de julho de 2017
TODOS OS INDÍCIOS
Medo, porque tudo conspira para tanto;
e
horizonte outro não há senão
este olhar em espreita,
este gesto contido,
este fechar de portas,
tantas precauções.
Medo,
porque a vida anda a requerer ciência exímia,
toda a
técnica com que nos alertamos contra os males.
Dormir,
sonhar, ter medo ainda aí.
Acordar
instigado, as mãos trêmulas
─ um
barulho no telhado, serão os gatos?,
um
crucifixo na parede, o silêncio de pedra ─,
todos
os indícios de que algo está suspenso no escuro.
Lá
fora, o carnaubal geme.
│Poema
da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│
ESTRANHOS
Vigiamo-nos.
Nada
mais é natural.
No
perde-e-ganha, jogo insosso e agudo, sofremos.
E, sós, não imaginamos saídas.
Tocamo-nos,
mas com a cisma de um estrangeiro
adentrado
a uma terra estranha.
Nossas
casas ─ lares não mais ─
guardam
o torpor dos nossos corpos.
E o
tempo escorre sua toda aridez no nosso sangue.
│Poema
da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│
AQUELE CÃO
Ao pé
do portão, aquele cão de cismada figura, a dormir.
Quem sabe o que lhe passa ao coração?
Se me
ponho de pé até com os móveis,
não
seria, pois, minha a cisma?
Não
lembro outro tempo
que não
seja este,
o do
temor.
Meu
corpo adquiriu esse saber
e o
sabe com a mais fina destreza.
Aquele
cão!
│Poema
da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│
quarta-feira, 17 de maio de 2017
O PIANO
Não sabe onde toca, dentro de si, o piano.
Escuta-o,
mas não com os ouvidos,
e não
uma só música, que há muitas tocando.
Sabe-se
saudável; não se toma por delirante:
pessoa de
imaginação estendida e aberta, segue.
Como
não encontra a porta que dê para o lugar do piano,
tampouco
o piano diretamente sobre seu nariz, procura.
Lembra-se
─ como não? ─ da casa incendiando-se,
seus tios
correndo, os vizinhos juntos, a rua acesa.
No meio
do fogo, ardendo severo, ia-se o piano.
Faz
tanto tempo, faz tanto tempo, faz tanto tempo.
Tanto tempo!
│Poema
da Série “Objetos Perdidos” – Autor: Webston Moura│
O LIVRO
O Retrato de Dorian Gray nunca lido.
E, por
algum motivo, sempre este encontro desmarcado.
Os anos
se passando, o livro fechado, oculto em seu silêncio.
Por
algum motivo, o livro pairando, suas palavras guardadas.
Ora,
mas que motivo é este?!
A cada
dia, a cada mês, a cada ano, o livro nunca lido
desaparecendo,
virgem desta vontade que não o alcança,
destes
olhos que não o perscrutam,
sempre.
sempre.
Objeto tocado,
mas perdido, posto que não viajado entranhas adentro.
│Poema
da Série “Objetos Perdidos” – Autor: Webston Moura│
A JARRA
Não sabe da jarra que falta,
só de
seu pacífico lugar.
Alguém
a roubou?
Todas as
investigações chegaram a nada.
O que
possui é a mesa vazia, a marca do fundo,
a sombra
agigantada de uma voz muda.
Quando
relampeja, luzes apagadas, quase a vê, mas é ilusão.
Comprasse
outra, resolvido o problema. Mas, não!
Adquirir
um gosto pela busca, sabendo do perdido, é também aventura
e, de certa forma,
posse.
Se há
quem ame carrancas, por que não amar uma ausência?
│Poema
da Série “Objetos Perdidos” – Autor: Webston Moura│
INFINITOS DE MIM
Que esta folha em branco não me seja naufrágio.
Preciso
escrever uma carta, testemunhar o instante.
Marujo,
deixo continentes encostados à espera.
Trago
sal às palavras, todas grávidas de viagens.
Ao mar,
infinitos de mim.
│Poema
da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│
AQUELES OLHOS NOTURNOS
Quis um poema nu e simples,
búzio pequeno
todo-em-si,
jangada
clara na linha d’água.
Queria
estar noutro lugar,
que este
atulha-se de mundo.
Pude o
mar, a janela aberta à brisa,
os olhos
noturnos de noturna moça.
│Poema
da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│
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