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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Barcos ao Sol



Boats in Sunligaht (1907) - Umberto Boccioni



Vão e voltam,
são de curtas distâncias.

A mim, são mais de beleza que de uso,
atracados, balançando-se, dançando,
como flores artificiais sob a impiedade do sol.

Barcos,
como os desejos nossos,
sujeitos aos ventos,
à incerteza, aos enganos,
mas eivados do bem que possamos ter.





|Poema da Série "Mar" Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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quinta-feira, 9 de novembro de 2023

BLANDÍCIA



The Calma Sea (1869) - Gustave Coubert




Bonança,
a vida sugerida
neste horizonte.

O vento é seu canto.

Sobre a pele
o que não prende,
               nem fere,
nem pronuncia não!

Ouve-se sereias,
uns chegam a dizer.
Mas, a bem da verdade,
é apenas sonho de poeta
                 e de navegante

De todo modo,
calmo mar,
azul de origem
dalgum lugar bendito,
                   cá estamos
                   sem horas,
                 sem aflição,
                 sem armas,
sem posses.




|Poema da Série "Mar" - Autor: Webston Moura|


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Numa Língua Sem Vício


Vele nel Porto (1923) - Carlo Carra


Um caminho, construí-lo,
viajar: abrir um livro,
mar a se descobrir,
como o mar mesmo,
que, da praia, só se sabe
do que é iluminado e
inocente, quase inofensivo.

Mar, monossílabo,
avante viagem,
saber-se dele marujo,
moço ou não,
salgar-se na água volumosa,
páginas de imensidão verde
ou azul.

Deparar-se com as algas
e as baleias,
experimentar a pronúncia delicada
de sargaço, sar-ga-ço.
Ou sonhar sereia, se noite é.

Fim de tarde.
Um pequeno barco,
em água calma,
vai devagar,
supõe diálogo
numa língua sem vício,
sua língua que o mar e meus olhos
lambem.

Livro.



|Poema da Série "Mar" - Autor: Webston Moura|



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sábado, 28 de julho de 2018

ABDUZIDOS




Symphony in Grey anda Green: The Ocean (1866-1872)
- James McNeill Whistler




Objeto de sentir inteiro,
ver o mar é pouco.
Mesmo de olhos fechados,
o som, o vento e os cheiros
nos abduzem.

Ali na praia,
ainda que seguros na areia
e nas constatações da física,
somos viajantes.

O mar nos desperta
para o passado já esquecido
e nos devolve,
inebriados,
ao Todo
─ ou à ilusão bendita Dele.



│Poema da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│

quarta-feira, 17 de maio de 2017

INFINITOS DE MIM



Que esta folha em branco não me seja naufrágio.
Preciso escrever uma carta, testemunhar o instante.

Marujo, deixo continentes encostados à espera.
Trago sal às palavras, todas grávidas de viagens.

Ao mar, infinitos de mim.


│Poema da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│


AQUELES OLHOS NOTURNOS



Quis um poema nu e simples,
búzio pequeno todo-em-si,
jangada clara na linha d’água.
Queria estar noutro lugar,
que este atulha-se de mundo.

Pude o mar, a janela aberta à brisa,
os olhos noturnos de noturna moça.


│Poema da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│

JANELA ABERTA PARA O MAR



Da minha janela, mar nenhum.
Imagino, pois, os azuis que gosto.
E a areia, leve e branca, me escorre entre os dedos,
sonho vagaroso de domingos preguiçosos.

Da minha janela, que janela há?
A que me pousa onde me invade,
pássaro branco de nome melódico.

Sonhei um cais e um horizonte.
Não havia dor, nem contas, nem urgências.
Deram-me por louco divagando tolices.
Não sabem de inventar paisagens ou palavras.

Faço, assim, como me assenta, dar de ver mar,
mas mais ainda: nele nadar e me converter.

Vês o cavalos-marinhos?
São como serenos lírios de luz.


│Poema da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│

domingo, 26 de março de 2017

Coisa Sussurrante







Morasse próximo ao mar,
perder-me-ia muitas vezes a olhá-lo.
Para mim, o mar é ócio, demora imensa junto ao vento.

Talvez, esta seja uma das senhas para o amor:
deixá-lo ser a coisa sussurrante que nos toma o corpo,
uma miríade de finas mãos costurando conchas.


│Poema da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│


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ENQUANTO TE OUÇO NAS MARÉS

Teus olhos azuis, espelhos d’água sereníssimos.
Tua pele dourada, memórias de sal a sol.

És o sargaço furioso e eterno renascido sempre.
És a sombra de navios que não existem mais,
exceto suas carcaças, hoje moradas de líquens
e de senhorinhas que se afogaram em tardes esquecidas.

Por isso, estás aí nos meus sonhos
e cantas a monotonia agradável das marés
enquanto adormeço gaivotas em meu corpo.


│Poema da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│

TUA PRESENÇA

Morasse próximo ao mar,
ver-te-ia, mesmo que não pudesse.

Não é desejo de alucinação;
apenas invenção do ócio em mim engastado,
prática de quem aprendeu o mar e nunca mais o deixou.

Carrego este búzio ao ouvido,
som primordial que engravida belezas.


│Poema da Série “Mar” – Autor: Webston Moura│