Os sons da cozinha são dos que mais nos acostumamos a ter como nossos, íntimos. Falo da cozinha de casa. E não precisamos ser parte integrante, não precisamos ser exatamente aqueles que operam a cozinha. Da cozinha vêm as nossas refeições, diárias refeições. É a usina chefiada pelas nossas mães, quando ainda as temos, é um lugar de alquimia.
Mas não só os sons, já que os cheiros é que acabam chamando mais a atenção. Entretanto, quero destaca os sons.
Os passos dados, os copos e xícaras que se batem, panelas, chiados da lavagem na pia, a porta da geladeira que se abre ou se fecha, as pessoas e as conversas que ali se operam. Tudo isso, um dia, será silêncio. Não porque ninguém use mais a cozinha, mas porque a maestria do lugar saiu das mãos de quem mais marcou aquela sinfonia. E aí, depois das inevitáveis mudanças, sentimos os nossos sons entremeados de todo o silêncio que ali se faz. Excessivo silêncio, o do ausência.
Ainda que nos acostumemos, é um novo tempo, tempo marcado pela perda, pela separação, pela falta da voz, dos passos e todo o ritmo de antes.
O restante da casa acompanha a cozinha. Corredores, quartos, salas, áreas, banheiros. Enfim, outra rotina se instala neste território agora transformado pela dor e pela saudade.
Sabemos, obviamente, que nada será como antes e que a tendência é o costume, costume que, com o tempo, se tornará rotina, depois de todo esvaziamento da presença de quem já não mais dirá palavra ou lançará olhar de corpo presente. Sabemos que tudo isso é assim mesmo, treino da alma para que dos contrários a vida faça mais vida. E a vida, sendo ela o total e misterioso alimento, faz da nossa alma a cozinha aonde nos preparará o cozido que tiver que ser. E nós, com boa vontade e fé, o comeremos, para que tenhamos a oportunidade de evoluir, sem maiores danos.
|Autor: Webston Moura|
.................................................
Leia outros posts:
.....................................................................
Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caso queira, comente!