A folha seca me aparece na rua, o vento a leva e a deposita a um canto perto do meio-fio. É como outras que por aí se vão, pequenas coisas sem importância no atarefado mundo humano.
Observo-a. Matéria biológica, vida orgânica, ela está se decompondo. Separada da planta, perdeu seu verde e sua intenção de ser. Mas, ainda assim, segue seu destino de ir até ao fim e servir de alimento para o reino geral da natureza.
Não tem nome, exceto o que a ciência dá. Digo: não se chama "Maria" ou "Antônia". Não é como nós, não é afeita a ser alguém na vaidade vazia da ilusão que nos toma a nós humanos. Porém, biologicamente falando, é de igual valor, já que é própria, única, vinda de uma planta que existe por seu devido mistério de existir e que o universo considerou valer como coisa viva.
A folha seca lembra-me das estações que passam, do tempo, do nascer ao envelhecer. Lembra-me de todos esses que, hoje, velhos então, já não sorriem tanto e carregam silêncios bem guardados no cansaço, na sabedoria ou, simplesmente, na recusa de participarem, mais uma vez, da construção do mundo, como um dia o fizeram. A folha seca é a viagem que fazemos, sem que nos apercebamos do que está acontecendo.
É final de tarde. Em tons de vermelho e laranja, o sol, agora morno, se põe nas costas do mundo enquanto observo a folha e medito sobre a vida. Enterneço-me, mas não se confunda isso com a fraqueza destas liquefações que muitos têm chamado de "afeto", sem, ao certo, saberem o que é afeto, sentimento. Enterneço-me na grandeza da folha seca e com ela me sinto. Estamos juntos e o vento nos leva.
|Autor: Webston Moura|
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Imagem: Adobe Stock
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Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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