quarta-feira, 20 de março de 2024

Jean Yves Leloup em "A Elegância do Eu"






"O homem nobre" habita como um poeta na Terra, ou seja, ele vê todas as coisas na sua intensidade, transparência e plenitude, não vive num mundo de objetos e sim num mundo de presenças, ele vê tudo o que é invisível no visível e tudo o que é visível no invisível. O visível é invisível, o invisível é visível, estes não são paradoxos fáceis, mas afirmações do mundo como teopany, revelação ou revelação (parousy).

Sem se afastar das aparências, o nobre ou poeta contempla a aparência.

É esta, a beleza que "salva" o mundo, ou seja, que o amplia, faz com que "respire largo", substitui-o no invisível, de fato a testemunha carnal do Infinito.

Se, como Dostoiévski afirma, "é a beleza que salvará o mundo", devemos perguntar-nos imediatamente "quem salvará a beleza"? Essa é a questão. Enquanto houver mulheres e homens capazes de se maravilhar e assombro, a beleza sobreviverá.

sábado, 16 de março de 2024

A Flor e a Paisagem



Blue Flowers - Grandville Redmond



Confundo a flor com a paisagem,
a luz me perturba os olhos.

Esses azuis,
simples e leves
sob a claridade,
esplendem a lembrança
              dalgum lugar
 cujo nome não me lembro.

O que agora me falta,
perdeu-se entre o descuido
                      e o sofrer,
naturalmente.

Confundo a flor com a paisagem,
mas já houve um tempo em que as distinguia
na perfeição possível de suas aparências.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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A REDESCOBERTA DA EDUCAÇÃO




por: Lara Brenner


Por toda a minha vida, aprendi que havia 5 vogais: a, e, i, o, u.
Estava confortável com a ideia, quando soube, já adulta, que havia 12, não apenas 5. Ao ler isso pela primeira vez, achei que o livro estivesse com erro de edição, ou que aquilo fosse uma piada estranha, mas era sério.
Naquele dia, aprendi que vogais pertencem ao campo da fonologia e designam fonemas (não grafemas). Elas se referem ao som produzido sem obstrução à passagem do ar. Fiz eu mesma o teste: aaaaa, eeeee, iiiii, ooooo, uuuuu. Realmente, o ar passava livremente por meu aparelho fonador.
Mas não eram 12?
Sim, respondeu-me o livro. É que as vogais se dividem em 2 grandes grupos: as orais e as nasais. As nasais representam sons que ocorrem quando há passagem de ar pela cavidade nasal; já as orais acontecem com essa passagem apenas pela cavidade bucal.
As orais são 7 ([a], [e], [é], [i], [o], [ó], [u]) e aparecem, por exemplo, em lá, besta, café, vida, ovo (som fechado), ovos (som aberto), blusa.
As nasais são 5 ([ɐ͂], [e͂], [õ], [ĩ], [ũ]) e aparecem, por exemplo, em lã, pente, ponte, índio, um.

quinta-feira, 14 de março de 2024

O Futuro de Tudo (3)




A linguagem empobrecida, empobreceu o pensamento que com ela adquire e exprime significação, e por entre este vazio nasceu e cresceu o pasmo dos deslumbrados.

A linguagem sofreu mutações e a capacidade da sua apropriação por parte dos seres já dominados inibe que dessa metamorfoseada realidade se possam dar conta.

Há um novo tempo e há um novo espaço de plurissignificações que em si muito contém a mercadoria do mundo ilusório.

A barbárie do simulacro antecedeu tanta inverdade que os seres confundidos e anestesiados se têm mostrado incapazes do exercício do questionar.

As migalhas que se foram aceitando do poder e da intectualidade que com ele privaram e privam, constituíram a primeira prova da mansuetude cerebral dos múltiplos inquilinos dominados neste sistema.

quarta-feira, 6 de março de 2024

O Tempo



Le Temps (1975 - Aki Kuroda



O tempo,
não o colhemos com a mão,
nem lhe damos pela cor.

E em silêncio,
ele compõe e decompõe,
pintor feroz de paisagens alucinadas.

O tempo,
digo com cuidado,
é esta lâmina ácida,
a lamber e mastigar,
atravessando, devagar, a carne das coisas.

Amigo, inimigo,
presença em sempre constância,
subir e descer poeiras na música em chamas,
o tempo é uma bailarina de flamenco à beira de um penhasco.



|Autor: Webston Moura|

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A Palavra Mágica







Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

*

Autoria: Carlos Drummond de Andrade, em Discurso da Primavera e Algumas Sombras (1977)

Ilustração: Um pote cheio de palavras, ©Sonja Wimmer



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SINTO SINTO







Falar, non falo galego
pero sinto.
As cousas da miña vida
son agarimosas,
As amo con todo ardor;
Son elas mesmasáquí, abaixo, alá,
tódalas mesmas, sinto
como almas.

Sinto o paxaro que vai voar
polo sendeiro, sinto as borboretas
cantando neses ramalletes,
sinto as margaridas que se pousan
neses prados, como se foran meus
Sinto, sinto....

*

Autoria: LUISA PAZ MONTENEGRO, in POETAS DO REENCONTRO II (2021)

Óleo sobre tela: Calypso, de George Hitchecock

*



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segunda-feira, 4 de março de 2024

POEMA DO FECHO ÉCLAIR







Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.

Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.


*
Autoria: ANTÓNIO GEDEÃO, in POESIAS COMPLETAS (1956-1967), prefácio de Jorge de Sena, (Sá da Costa, 1987); in OBRA COMPLETA DE ANTÓNIO GEDEÃO (Relógio d’Água, 2004; 2022)

*
Boletim Dep. Química-helium.fct.unl.pt
*
Nota: Filipe II teria de viver até aos finais do Séc. XIX para poder ter o seu fecho éclair 😊

*
Fotografia © Ishan Shah-unsplash
*




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O MOVIMENTO



Kinetic Object (1999) - Abraham Palatnik



O movimento
           desloca,
cria ordem e
de
    so  r
           dem,
retira da pausa
o músculo
e a língua,
              distribui
               o corpo
          pelo tempo,
refaz o espaço,
queima nosso olhar de vida.

O movimento,
se bem olhares,
não para - nem existe!

Peixes eletrizados,
mulheres,
carros,
nuvens,
aminoácidos na digestão,
                     a espera,
o grito,
o silêncio que se arrasta na folhagem sob a lua,
o beijo,
formigas devorando a presa,
nada lhe escapa.


|Autor: Webston Moura|


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