terça-feira, 17 de março de 2020

MENTIMOS







Mentimos dizendo sermos poucos
somos muitos e estamos presentes
                                  desde sempre

nossa natureza
nossa maneira
nosso gênese

avançamos como conquistadores
      protetores insinuados
                   ladrões camuflados

insuflamos exércitos em nosso benefício
calamos multidões em divisões e trocas
fazemos sofrer o irmão no que nos toca

mentimos nesta pouca idade
o pão e a carne conseguidos
no esforço da pilhagem.

(Pedro Du Bois, inédito)



│Do blog do autor: http://pedrodubois.blogspot.com/

quinta-feira, 12 de março de 2020

PUBLICAÇÃO DA PRIMEIRA EDIÇÃO DE "OS LUSÍADAS, de Luís de Camões



Luís de Camões


No dia 12 de março de 1572 foi publicada a primeira edição de "Os Lusíadas", de Luís Vaz de Camões, considerada "a epopeia portuguesa por excelência", que em dez cantos narra a viagem de Vasco da Gama à Índia e a aventura dos portugueses desde a fundação da nação.

A 1 de março de 2019, foi inaugurado no auditório do Camões, I.P., pelo Primeiro-Ministro português, António Costa, um mural do artista Vhils, com o busto de Camões, e cuja memória descritiva transcrevemos abaixo:

- Palimpsesto –

«Qual é significado de uma língua nos dias de hoje? É algo que cria pontes? Algo que se fez impor? Algo que nos une? Algo que facilita o crescimento económico e o interesse em criar um mercado maior? Algo que facilita a troca cultural? Algo que explora ou explorou? Algo que hoje nos transmite tudo aquilo que somos ou queremos ser através de comunicação no espaço público? Ou algo que nos transmite cultura e identidade? Algo que nos protege? Ou algo que nos afasta? Algo que nos dá? Ou que nos tira?

É tudo isso, na sua ambiguidade, e apenas será mais do que isso, quando a língua de Camões for de quem a fala hoje e não de quem a criou. A intenção desta obra é criar uma justaposição entre o passado e o futuro da utilização da imagem e da palavra de modo a expor uma época onde uma ponte se criou ou uma ferida se abriu.»

– Alexandre Farto aka Vhils


│Da página Instituto Camões



.................................
Ver também:
- Os Lusíadas na Biblioteca digital Mundial: https://www.wdl.org/pt/item/14160/
- Os Lusíadas, por Alcir Pécora: https://www.youtube.com/GQCf8Dze5KI

segunda-feira, 9 de março de 2020

SOB O MARULHO DAS ÁGUAS



Luz da lua - Albert  Pinkham Ryder


É desta atmosfera que falo:
verde em repouso, um tanto fosco,
sob a luz coalhada no ar úmido.
Se azul há, oculto está sob o lençol dos ventos,
lugar de disfarce do tipo mostra e não mostra.

E o mais é um silêncio imenso,
silêncio de paz que se faz sob o marulho das águas.



│Autor: Webston Moura│




....................................
Leia também:

terça-feira, 3 de março de 2020

OUTONO




Autumn Landscape - Maurice Vlaminck



Quando não mais se espera
a vitória sobre o tempo,
nem se vai gerar herdeiros,
tampouco instigar a terra
a dar cereais ou frutas.

Quando os cavalos
não mais relincham nos prados,
e se observa a chuva, de longe,
sem querer domá-la.

Quando o amor é mais de olhares
e de cúmplices silêncios,
cuidados de por a manta às pernas,
evitando o frio, e de oferecer café
ou outra amizade.

Quando se tem mais compaixão
da vida ser tão bela e, assim mesmo, passar.



│Autor: Webston Moura│




...............................
Leia também:

segunda-feira, 2 de março de 2020

GRANADA



View of Granada - Santiago Rousiñol


Onde achou
e perdeu
um amor.

Descobriu um poeta
de um século já longe,
um judeu ou um árabe,
que lhe ensinou,
quase sem querer,
o que de outra forma
jamais saberia.

Onde foi feliz
e o será,
eternamente.



│Autor: Webston Moura│




..............................
Leia também:

CLANDESTINOS



City - Olga Rosanova


Ainda guarda lugares calmos,
secretos jardins de moças em flor?
Ou tudo de si que é secreto
tornou-se também clandestino?

Passamos por aí,
eu e outros transeuntes,
escapando do trânsito
e, se possível, da violência,
e só nos olhamos de soslaio,
como credor e devedor
ou como o cão raivoso olha para outrem.

Acima de tudo, sentimos medo.
E alguma coisa ainda amamos
ou, pelo menos, damos por falta,
saudade que não resolve,
que apenas ilude um pouco.

A cidade nos exilou de nossa humanidade.



│Autor: Webston Moura│




.....................................
Leia também:

domingo, 1 de março de 2020

O CICLISTA



O Ciclista - Mario Sironi



Não cabe na paisagem
senão como estranheza.
Não cabe na pressa de ganhar,
de comer, de ter, de aparecer.
Simplesmente, não cabe:
rejeitam-lhe a elegância e a poesia;
a espontaneidade com que, criança,
vagueia, sem agressividade, por entre
                                       a massa de caos.


É o insistente ciclista,
seja o simples urbenauta
ou alguém tentando ganhar a vida.

A rua, amigo, está fechada pra você,
encomendada, pois, aos carros e seus ávidos motoristas!
A rua, quer dizer, a cidade tem dono
− Não viste os avisos?


│Autor: Webston Moura│





............................................
Leia também:

DISFARÇADA TRISTEZA



Regatta at Saint-Adresse - Claude Monet



É um dia tranquilo, apesar das nuvens.
Passeia-se, mas não se vai longe;
conversa-se discretamente.
Há uma alegria no ar.
Um cão, uma jovem, um chapéu,
uma concha, um sorriso, a marola.
Não se pensa que deuses duelarão,
nem que, por força da fraqueza,
homens venham a se fazer menos.
Nada falta e nada sobra,
nem a sereia sonhada
ou a disfarçada tristeza
que ora se traz à mão.


│Autor: Webston Moura│



.......................................
Leia também:

O QUE MEU CORAÇÃO ILUMINA



Woman in Front on the Fireplace - Edouard Vuillard


Domino este mundo,
pequeno mundo de coisas a fazer,
mas não só: reino nas alegrias miúdas
da invisibilidade buscada e, pior, conseguida.
Não conquistarei impérios, sei;
são as condições deste tempo.
Entretanto, da beira das coisas que minhas mãos alcançam,
quem poderá retirar-me da febre alquímica que me toma?
Ainda que meus sonhos não derrubem reis,
cá estou acendendo o que meu coração ilumina.


│Autor: Webston Moura│



........................................
Leia também:

TEMPO FEITO




Sei fazer. Faço
a canção inerente
ao amor emocionado

desfaço a hora
da leitura e nos textos
guardo letras
inerentes ao fogo

           consumido

sei fazer: desfeito
me reapresento
ao tempo

         e o tempo
         existe.


│Do blog do autor: http://pedrodubois.blogspot.com/