domingo, 13 de maio de 2018

SUA IMAGEM PLANTADA NO SILÊNCIO






Já vai alto o sol, mas ainda é manhã.
Hoje, dia de ócios, os homens se recolhem.
Seus pensamentos crescem e se afundam.
Uns, tristes; outros, serenos e leves.

Aqui, rua mais adentro,
onde, por sorte, não há bares,
nem outros quaisquer divertimentos,
apenas discretos pássaros chegam.
E os cães, com olhos mansos, nos olham.

Este é o tempo-ilha,
longinquidades,
léguas de sertão,
aquela casa de alpendres brancos
que se divisa e se deseja,
sua imagem plantada no silêncio
e seu todo desapego.


│Autor: Webston Moura│
Fonte da Imagem: Google Imagens

UMA GAIVOTA REPENTINA






(Pois que uma gaivota invade
o espaço e os nossos olhos seguem o voo
até ela sumir-se no escuro)

Como nunca os vemos,
dizemos ser a chuva e o tempo os nossos obstáculos.
Aqueles homens, invisíveis assim aos nossos olhos,
olhos desgastados, verdade se diga,
o que são, pois, para nós?
Os nomes aborrecidos que conseguirmos em nossas bocas.

E seguimos nós com os nossos secretos silêncios.

(Até vimos uma gaivota onde ela não poderia!)


│Autor: Webston Moura│
Fonte da imagem: Google Imagens

SECRETOS SILÊNCIOS






A rua deserta, chuva leve, noite.
Mas há um homem à beira do poste.
A luz o cobre, mas não o revela.

Por um instante, imagino sobre.
A singularidade, aquela vida.
Que história dali se poderia?
Casado? Solteiro? Gente de bem?
Pai? De longe? De perto?

Há mais homens em ruas desertas
e em quantas chuvas demoradas, embora leves.
E não os vemos senão secretos silêncios intransponíveis.
Nunca os vemos.


│Autor: Webston Moura│
Fonte da imagem: Google Imagens

sábado, 12 de maio de 2018

AQUELE INSTANTE ANTES DA CHUVA






[Enquanto escuto o lindo
Bright Size Life (1976),
de Pat Metheny,
especialmente a faixa “Sirabhorn”]

...............

Ao alto, o som da água caindo,
como se relógio fosse,
a caixa d’água no escuro,
madrugada úmida.

Vai chover.
Há calor espalhado, abafamento,
densidade crescente no ar.
Porém, estou protegido.

Decifro, a partir de uma antiga arte,
uma figura em vermelho, O Fantasma,
sua companheira, Diana Palmer,
e seu cão, Capeto.
Quadro a quadro, uma estória,
um lugar distante,
males que precisam de combate,
os ardis e, por fim, o desfecho.
Fantasia.

Perco o tempo, dizem,
pois, com esses passatempos de demoras tolas,
não estou a erguer os dias onde todos se congregam.

Mas,
pergunto eu aos homens-força
se já ouviram os tambores de Bengala na floresta.
Ouviram?

E, de pé,
com os olhos fechados,
nus em seus quartos,
girando leve,
souberam-se vivos,
assim vivos desprovidos de disfarces?


│Autor: Webston Moura│


Fonte da imagem: Google Imagens

AINDA BEM QUE TOCOU ESSA MÚSICA SUAVE






Sim, eu também tenho o meu “lado brega”, como se costuma dizer de todo aquele que, mesmo de modo leve, gosta do Roberto Carlos. Considero bons e agradáveis todos os discos dele do início da carreira até o final dos anos 1970. E este que comento é de 1978, quando eu era uma criança e seguia minha mãe nesta viagem sentimental naquelas manhãs em que ela ligava a velha radiola e colocava o vinil tocando alto. O álbum leva o nome do autor, como outros, coisa de rei, não é? Aos primeiros acordes de “Fé”, lá estava eu envolvido pela música. Com o passar do tempo e o amadurecimento, pude crescer meu coração para apreciar, com ternura, “A Primeira Vez” (canção que me lembra a primeira namorada), “Música Suave” ─ “Ainda bem que tocou / Essa música suave ? Eu posso dançar com você / Como no passado” ─, o clássico “Café da Manhã” e a misteriosa “Por fin Mañana”, onde se ouve: “Por fin, mañana / Tendré la dicha / De Tomarte entre mís brazos”. Meus caros amigos, caso possam, escutem, que hoje é sábado, um dia para relaxarmos um pouco e, quem sabe, reencontrarmos doces lembranças. Este disco é muito bom para isso. Acho que tem no youtube.

OBS.: O título do post é, por certo, versos de "Música Suave"

Fonte da imagem: Google Imagens

INSÍDIA






Invisíveis,
como os perfumes
ou os sentimentos,
aquele não-sei-quê
que alho não é,
tampouco laetitia indiana antiga,
ainda menos a docilidade das brisas,
estes todos venenos que a lei permite e o mercado impõe.

Para a nossa saúde & bem-estar.


│Autor: Webston Moura


_________________
NOTA DO AUTOR:
Poema inspirado num post do Greenpeace, lá no Facebook, cuja imagem peguei de empréstimo (a que se vê acima), e cujo texto (do post, obviamente) reproduzo a seguir:

"Esses deputados querem colocar mais veneno em nosso prato! O Ministério Público Federal diz que o PL 6299/2002 é inconstitucional. A ANVISA, a Fiocruz, o INCA, o IBAMA e o Conselho Nacional de Direitos Humanos repudiam o projeto. Mais de 100 mil pessoas e 300 organizações da sociedade civil são contra. Mas eles preferem ignorar a opinião dos cidadãos! Entenda e confira quem é a favor deste absurdo >> https://act.gp/2rAWy2P"

DE MÃOS VAZIAS






De mãos vazias,
como uma criança em primeiros passos,
para receber o susto que os trovões dão,
a surpresa dos ciclos naturais,
a paciência eficaz das lagartas sobre o milho.

De mãos vazias,
como uma criança domingando o tempo inteiro,
para viver ─ adultos dizem descobrir ─ e nada mais.

De mãos vazias:
assim, teus olhos me chegarão
e eu não terei analgésicos contra,
nem customizarei qualquer cor erguida espontânea.


│Autor: Webston Moura│

Fonte da imagem: Google Imagens

sexta-feira, 11 de maio de 2018

ÁSPEROS RUÍDOS






Gritos.
O branco da parede.
A luz que se vai crescendo, dia a dia.
Os sons, tantos sons, tantos, de onde chegam?

(De repente, tudo escuro)

Quem está aí?
A mão, estranha mão de homem escondido
              nas bem cuidadas folhas do Estado.

(Agonia)

Amanhã, quem sabe não haja uma chuva imensa,
chuva que derrube estas paredes e me leve,
me devolva aos olhos de quem deixei?
Era uma segunda-feira normal quando fui abduzido.

Que dia é hoje?
Em que ano estamos?


__________
NOTA:
Este despretensioso poema, escrito ainda hoje, veio-me por conta da matéria que vi sobre novas revelações acerca de execuções de presos políticos no período da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), em especial durante o Governo do presidente Geisel. Afirmo que não devemos esquecer, pois assim podemos evitar repetir. Apesar das falhas, que são muitas, VIVA A DEMOCRACIA! Para mais, acesse o website MEMÓRIAS DA DITADURA: http://memoriasdaditadura.org.br/

segunda-feira, 23 de abril de 2018

"CONTOS DE AREIA", de Chico Alves d'Maria






O poeta e contista David de Medeiros Leite enviou-me, via Correios, este bonito livro do Chico Alves d’Maria, sua estreia em contos. Boas estórias, com o sabor das coisas nordestinas!

Chico Alves d’Maria é o atual pseudônimo de Francisco Alves Filho, nascido em Areia Branca-RN, 1955. É engenheiro, poeta, escritor, compositor, letrista, cantor e ator. Com o nome artístico de Kiko Alves, participou de vários festivais de música, como o Festival do SESI, FORRAÇO, FMPB, promovido pela FM Universitária e MPBeco, gravou dois discos autorais e teve participação em vários outros discos. Como ator, participou de espetáculos teatrais pela Stabanada Cia De Teatro e em comerciais de televisão, tendo também atuado como figurante no filme “O duelo”, lançado em 2015. Como poeta, publicou em 2016 o livro “Ancoradouros”. Agora, lança o seu primeiro trabalho em prosa, “Contos de Areia”. De sua autoria, lei os poemas neste link: https://arcanosgravidos.blogspot.com.br/2016/11/poemas-de-kiko-alves.html.

SERVIÇO:
Contos de Areia
Chico Alves d’Maria
Sarau das Letras
Contatos da Sarau das Letras:
Clauder Arcanjo: clauderarcanjo@gmail.com
David de Medeiros Leite: davidmleite@hotmail.com

domingo, 22 de abril de 2018

GÁBOR SZABÓ






Há anos conheci este excelente guitarrista de jazz, Gábor Szabó, natural da Hungria. Digo: ouvi sua música ─ e gostei muito! Em tempos de internet, com websites e blogs específicos sobre o assunto, poupo-me de oferecer a biografia do mesmo, pois o leitor (e ouvinte, obviamente) interessado há de encontrar referências. Minha breve nota enfatiza apenas a ideia de divulgar um pouco o músico e sugerir: escutem aí, amigos, este disco, o Belsta River (busquem no youtube). E vejam que música maravilhosa! Aqui e ali, sugerirei algo das músicas e músicos que aprecio e, se preciso, fazei algum comentário.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

POEMA DO "RIO DO FOGO", DE BRUNO LACERDA E DAVID DE MEDEIROS LEITE






ESCRUTÍNIO

Nossos pés
se encontram
em águas rasas.

Os meus,
vindos do mar
: mareados.
Os seus, da terra
: azoados.

No apear,
escrutinamos
abastanças e arrastados.

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ESCRUTINIO

Nuestros pies
se encuentran
em aguas bajas.

Los míos
venidos del mar
: mareados.
Los suyos, de tierra
: aturdidos.

Em el parar,
escudriñamos
abundancias y arrastrados.

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SERVIÇO:
Rio do Fogo
Bruno Lacerda (Fotografias)
David de Medeiros Leite (Poemas)
Juan Angel Torres Rechy  (Tradução p/ Espanhol)
8 Editora & Sarau das Letras
Contato:
David de Medeiros Leite: davidmleite@hotmail.com

QUATRO POEMAS DO PEDRO DU BOIS


http://www.projetopassofundo.com.br/




Reconstruo: retiro do ar
a momentânea oferta
de paz. Movo o corpo
em sacrifício e individualizo
o ser: no amanhecer
o canto da noite
se desfaz em cores.

Ao amanhecer gestos
trocados na madrugada
se eternizam.

Poema de número 24, da segunda parte da secção “A Construção do Gesto”, página 24.


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Sob medida diz o alfaiate
cortando o pano
milimétrico: as mangas
o colete
o cós
as calças
o forro
o lenço
no bolso da lapela.

Tempos idos.
Novidade
refeita em livros escolares.

A maldade atira
a bola de papel
dentro do chapéu
sobre a mesa.

Não há medida responde
o ancião. Não há ancião.
Velho homem desprotegido
em idades ultrapassadas.


Poema número 1 da secção “A Medida do Peso”, página 49.


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A primeira cidade
inesquecível: nascimento
e morte entrelaçados
no parto. Cordão cortado
e o curativo.

O umbigo cicatriz
a história não vivida.

O leite materno
na escura noite
despercebida em dias
e meses de mesmas coisas.

A cidade avessa
em comportamentos.

Poema de número 2 da secção “Cidades”, página 66.

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Desce as escadas:
oficina aberta em tipos.

preenche o quadro
entinta a peça
demora a pressão
sobre o papel.

o escrito umedecido
da consciência
desfeita em obras
               concretizadas.

Poema de número 14 – Secção “Consentimento”, página 109.


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SERVIÇO:
A Construção do Gesto  & outros poemas
Pedro Du Bois
Projeto Passo Fundo

Sobre Pedro Du Bois, acesse o blog: http://pedrodubois.blogspot.com.br/