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sexta-feira, 20 de abril de 2018

POEMA DO "RIO DO FOGO", DE BRUNO LACERDA E DAVID DE MEDEIROS LEITE






ESCRUTÍNIO

Nossos pés
se encontram
em águas rasas.

Os meus,
vindos do mar
: mareados.
Os seus, da terra
: azoados.

No apear,
escrutinamos
abastanças e arrastados.

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ESCRUTINIO

Nuestros pies
se encuentran
em aguas bajas.

Los míos
venidos del mar
: mareados.
Los suyos, de tierra
: aturdidos.

Em el parar,
escudriñamos
abundancias y arrastrados.

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SERVIÇO:
Rio do Fogo
Bruno Lacerda (Fotografias)
David de Medeiros Leite (Poemas)
Juan Angel Torres Rechy  (Tradução p/ Espanhol)
8 Editora & Sarau das Letras
Contato:
David de Medeiros Leite: davidmleite@hotmail.com

domingo, 6 de dezembro de 2015

Destinos



Na pradaria,
entre escaramuças e carreiras,
brincam e coexistem
─ em (quase) confraria ─
os filhos do vaqueiro e nossas crias.

Olho-os com exultação,
e certamente inquieto:

O porvir,
para ambos,
será leve?


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# Poema constante de "Ruminar" (Sarau das Letras, 2015)

│Autor: David de Medeiros Leite

domingo, 27 de setembro de 2015

A rã da fachada



“una de las cuatro luces que alumbran al mundo”
Papa Alexandre IV, em 1254,
sobre a Universidade de Salamanca


Situada às margens do rio Tormes, a espanhola Salamanca é cognominada de “pequena Roma” pelo rico patrimônio histórico que ostenta. São emblemáticos os seus edifícios, monumentos, praças e igrejas. A Universidade, com quase oitocentos anos de existência, também figura nesse rol, com galhardia.

Em 1218, o rei Afonso IX fundou a Universidade de Salamanca. Poucos anos depois, o Papa Alexandre IV declarava que a instituição era uma das quatro luzes que iluminavam o mundo, junto com as universidades de Oxford, Paris e Bolonha.

Há registro que, em 1584, por exemplo, nada menos que 6.778 alunos assistiam às disciplinas ministradas em suas salas. Todos almejando conquistar seus títulos de licenciados ou doutores. E eram estudantes de todas as partes do mundo, demonstrando que a influência de Salamanca já não se limitava ao continente europeu. Comumente vemos citados nomes ilustres que passaram por seus bancos.

É plausível que nos seus longevos corredores, ou nas ruas da cidade, escutemos histórias que o tempo trata em transformá-las em lendas, fábulas, folclore ou, por vezes, terminam incorporadas à cultura organizacional. Conto-lhes duas.

Naquele afã dos primeiros dias em conhecer a urbe e seus encantos, todos somos levados a contemplar a fachada do prédio antigo da universidade. É cena comum, a qualquer hora do dia, encontrarmos um grupo de turistas, ou de estudantes, admirando o belo frontispício Plateresco (estilo típico do Renascimento espanhol), cuja edificação foi concluída no início do século XVI.

Não sendo especialista, fica até difícil traduzir em plenitude a beleza da obra. Mas, mesmo com visão leiga, arrisco passar-lhes algumas poucas informações. Bem, imaginem a frontaria de um edifício, com altura compatível a mais ou menos cinco andares, como se fora um tapiz de pedra, dividido por colunas e frisos e com uma enorme quantidade de detalhes esculpidos. Pois é a impressão que temos ao olhá-la. Existe até uma recomendação de que devemos ficar posicionados há uns seis metros de distância, para melhor visualização.

Além do alumbramento com a formosura arquitetônica, a conversa predominante quando das visitas à ‘fachada’ é a localização da rã. Isso mesmo. Existe certa disputa para ver quem localiza esta, em meio a tantos quiméricos objetos que ornamentam aquela. A explicação para a presença da lendária rã remete a questões simbólicas e religiosas da época da construção do sodalício, mas não iremos adentrar a tal alçada, para não tornar-se enfadonho.

Porém, a fábula gira em torno das ‘alternativas’ do que ocorrerá com quem encontre, ou não, a rã: uns dizem que o estudante que não encontrá-la, logo na primeira visita, não se dará bem no curso. Outros brincam com os turistas, dizendo que se os mesmos não lograrem êxito na busca, não terão sorte na viagem.

Outra interessante história envolvendo a Universidade, de cunho menos mítico, diz respeito ao ‘Victor’ (do latim victor, vencedor) — símbolo de vitória —, que é facultado ao estudante pintá-lo, junto a seu nome, em uma das paredes da instituição, ao concluir o doutoramento.

Atualmente a pintura é feita com requinte, técnica e, claro, tinta apropriada. Mas nem sempre foi assim. Nos primórdios, era costume que o concluinte brindasse sua conquista com uma festa, sacrificando um touro para a referida comemoração; e o sangue (misturado a alguma substância, creio) desse animal servia para ele e seus companheiros escreverem o ‘Victor’.

Ainda hoje é possível, em algumas das seculares paredes, observarmos decifráveis manchas das pinturas de antanho, que teimam em resistir ao tempo. Contemplando, tanto os símbolos antigos como os novos, particularmente, é inevitável não lembrar-me do grande Machado de Assis – Bruxo do Cosme Velho –: “Esta a glória que fica, eleva, honra e consola”.

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# Crônica constante de "Cartas de Salamanca" (clique "aqui"), de David de Medeiros Leite.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

As traças de Fortaleza


Que são traças? Segundo os dicionários, são insetos que corroem lã, tapetes, livros, papéis, dentre outras coisas. É óbvio que destas queremos distância. Jamais desejaríamos sua proliferação, não é verdade? Principalmente nós que conseguimos reunir algumas dúzias, ou até mesmo dezenas de livros – e deles cuidamos com extremado zelo – fugimos dessas como o demo da cruz.

Mas, existem outras traças... Na bela capital cearense, um Clube de Leitura possui o sugestivo nome de “As Traças”. Não contrataram marqueteiro, mas acertaram na mosca, pois para batizar uma reunião de devoradoras de livros, nada mais apropriado do que o nome sugerido. Como funciona? É simples: em encontros mensais, elas comentam suas leituras e trocam impressões com os demais membros do grupo. Que beleza, hein?

Tudo começou há dez anos, com a brilhante idéia das amigas Anete Gomes e Lúcia Lustosa Martins que, levadas pelo desejo desta última em partilhar sua biblioteca particular, resolveram promover reuniões com outras tantas amigas, de maneira que pudessem, juntas, viajar, sonhar, viver e crescer através da leitura. E vejam que belo resultado!

Atualmente, o Clube é constituído de quarenta sócias que se reúnem numa determinada segunda-feira do mês. A confraria está dividida em equipes que receberam os nomes de escritores/poetas famosos. Mensalmente, um desses grupos é responsável pela reunião, promovendo a apresentação de temas ligados, preferencialmente, à literatura, através de palestrantes convidados ou de exposição feita pelo próprio grupo.

Após as reuniões, é servido um pequeno lanche e, em clima de descontração, as “traças” se confraternizam. Elas também compartilham datas significativas, como os festejos juninos e as festas natalinas, contando com a presença de familiares e amigos pertencentes a outros movimentos literários.

O Clube dispõe de uma biblioteca instalada em sua sede, que conta com considerável acervo. São livros doados, em sua grande maioria, pela sócia fundadora Lúcia Lustosa e, também, por doações de outras sócias e de amigos ou, ainda, adquiridos pelo próprio Clube. Afinal de contas, para sobreviver, traças precisam sempre de livros por perto.

Não se faz necessário que sejam escritoras para admissão como sócias. Todavia, como todas são boas leitoras e, pelo fato de gostarem de ler, isso logo suscita, inexoravelmente, o prazer da escrita. Dessa forma, não é de difícil dedução que, vamos encontrar entre elas, poetas e prosadoras, cujos títulos já desfilam pelas melhores estantes do Ceará e alhures. Podemos citar, como exemplo, o poético livro intitulado Meus Amores, de autoria de Lúcia Maria do Monte Frota de Moura – mossoroense radicada em Fortaleza – e o Poltrona Azul, de Dulce Cavalcante, recentemente lançado.

Quando soube da existência das “traças”, e de sua movimentação, fiquei pensando como seria bom se cada um de nós tivesse a oportunidade de participar de um “grupo de leitura”, ou de algo similar. E melhor seria que essas iniciativas proliferassem pelas cidades com a mesma força e pujança de tantas idéias maléficas e de tantos grupos iníquos que, infelizmente, surgem. Certamente se isso ocorresse, alavancaríamos a literatura para alturas inesperadas... Talvez ainda exista um ou outro questionamento, principalmente em relação ao tempo pessoal, para participar de uma atividade assim. Mas, recordo-me de um ensinamento religioso: tempo é questão de preferência.

Vivam as Traças!!! E que se multiplique a sua benfazeja faina devoradora!!!



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David de Medeiros Leite (Mossoró-RN, 1966) é doutor em Direito Administrativo pela Universidade de Salamanca (Espanha), membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), da Academia Maçõnica de Letras do Rio Grande do Norte (AMLERN) e da Academia Mossoroense de Letras (AMOL). Dentre outros, é autor de: Companheiro Góis – Dez Anos de Saudade (2001); Ombudsman Mossoroense (2003); Incerto Caminhar (2009); Cartas de Salamanca (2011) e A Casa das Lâmpadas . A presente crônica foi extraída de Cartas de Salamanca.

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