domingo, 27 de setembro de 2015

Outro instante não houve


Outro instante não houve em tua vida
fora do longo e lúcido momento
em que regavas as palavras vindas
do lago azul dos vales araucanos.

Um instante não houve, camarada
em que afastasses a tua voz
do sussurro da floresta antiga
e do ruído das estações de esperança
sempre despedidas. E perseguidas sempre.

Providencial operário e artífice:
forjaste o sino vibrante que dobra
sobre os tetos da pobreza
e retine na alma americana
em toques infindáveis.

Poeta,
acepta nuestra copa,
maduro vino de la tierra amanhecida.
Campanas solidarias
en las minas, em la pampa, em los cerros,
em todas partes repercuten las palavras
antiguas y nuevas de flor ya sangre.

Rosas blancas alzadas al cielo
una bandada de palomas
Saluda el Tiempo Nuevo.


...........................
# Poema constante de "Neruda: canto memorial" (Imprensa Universitária, 2004). Website do autor: http://www.lucianomaia-memoriadasaguas.com/


│Autor: Luciano Maia

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

DEUS E OUTROS QUARENTA PROBLEMAS (Excerto)




Gênio, não tenho.
Me empenho.
Essas palavras me soam
como “Os morcegos não são aves
mas
voam."


Como evitar, porém, que o poema seja um rio não mapeado, que a vereda cruze... e saia seca do outro lado? Como fazer com que, criado, ele cause a sensação, anterior, de que faz falta, como ao Corcovado faz ─ no Rio Antigo ─ o Redentor? Como criá-lo com a naturalidade com que laranjeiras dão laranjas, e os jardins, em seus delírios, cravos, orquídeas, cachos de lírios, a força da natureza irrompendo, sem planos, com o mesmo ímpeto da Torre do Diabo, ao vir do chão, gigantesca, nos Estados Unidos, há 40 milhões de anos? Sinto-me, no entanto, levado pelo mesmo impulso ─ primitivo, um tanto técnico, artístico, prático, místico ─ dos que ergueram o grande círculo de Stonehenge além das possibilidades e meu problema começa justamente quando não consigo  sequer definir esse... xis ─ versátil, esperto, cheio de êxtases, paichões e ezageros sem nékso, incerto ─ que assume o... compromisso de fazê-lo, aqui, nesta humana, precária, caixa craniana?


_______________
NOTA DO BLOG:
1. A forma como o texto está disposto difere um pouco do original no livro, mas sem perda qualquer para o sentido que o autor dá. O livro em questão é de uma riqueza e uma graça imensas, como é comum aos escritos do W.J. Solha. O excerto é do texto UM, páginas 29/30. O livro pode ser adquirido aqui: EDITORA PENALUX.

..................................
● W.J. Solha está na segunda edição de Kaya [revista de atitudes literárias]:

│Autor: W.J. Solha

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

VAGAR


Dobro a esquina
do abraço
a lume posto

Doce de amora
de ponto
desatado

Dispo o vestido
no vagar do corpo
preencho de prazer o que está vago.


│Autora: Maria Teresa Horta

SEQUESTRO



Ah! a tua
língua

Alongada na sua
trança
de saliva branda

Tão ácida
tão meiga

na minha anca



│Autora: Maria Teresa Horta

MAIS



Deixa que a maciez
adoce
os membros

Os torne mais meigos
aos abraços

À febre
mais afoita
que os tornozelos abrem.


│Autora: Maria Teresa Horta

FASTIO



Às horas, ocasos semeados,
sínteses frágeis, volatilidade,
vida que se esvai sem nunca ser.

Dizer e redizer o visto
sob a luz mais mortal.
Repassar a outrem
(também fantasma)
o cardápio, a dor, o sorriso,
gélidas imagens que desaparecerão.

E o amor? E a poesia?
E aquela janela donde se via
o azul imaginado no canto do pássaro?


│Autor: Webston Moura

terça-feira, 15 de setembro de 2015

UM PEQUENO ANJO INÓCUO




Há um imenso silêncio,
o desta boca que, acossada,
recolhe sua matéria.
E, nela, não aparece
o homem que poderia,
mas apenas sua sombra.
E este silêncio é uma cidade vazia,
uma lâmpada deficiente,
um pequeno anjo inócuo,
objeto de gesso e inércia.


│Autor: Webston Moura

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Vidro-me





vocação
para aquários
é o que me salva
do abismo.




Iara Maria Carvalho [Currais Novos-RN - 1980]é graduada em Letras e mestra em Estudos da Linguagem, pela UFRN. Foi uma das fundadoras do Grupo Casarão de Poesia, atuando como agente cultural em sua cidade, e hoje integra o coletivo Novos Potiguares. Como poeta, venceu o 3º Concurso de Poesia Zila Mamede (Parnamirim/RN, 2006) e obteve a 3ª colocação no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody (Curitiba-PR, 2010), dentre outros concursos. Participou de diversas coletâneas de poesias resultantes de premiações literárias e compõe uma das cinco vozes femininas presentes no livro “Por cada uma”, publicado pela editora Una, em 2011. Nesse mesmo ano, lançou seu primeiro livro de poemas, “Milagreira”. O presente poema consta de seu livro “Saraivada” (Sarau das Letras, 2015).

Lúdica


escrevo
com a
musculatura
alegre
e oriental
de quem
descansa
sobre o verbo
e entre as flores.




Iara Maria Carvalho [Currais Novos-RN - 1980]é graduada em Letras e mestra em Estudos da Linguagem, pela UFRN. Foi uma das fundadoras do Grupo Casarão de Poesia, atuando como agente cultural em sua cidade, e hoje integra o coletivo Novos Potiguares. Como poeta, venceu o 3º Concurso de Poesia Zila Mamede (Parnamirim/RN, 2006) e obteve a 3ª colocação no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody (Curitiba-PR, 2010), dentre outros concursos. Participou de diversas coletâneas de poesias resultantes de premiações literárias e compõe uma das cinco vozes femininas presentes no livro “Por cada uma”, publicado pela editora Una, em 2011. Nesse mesmo ano, lançou seu primeiro livro de poemas, “Milagreira”. O presente poema consta de seu livro “Saraivada” (Sarau das Letras, 2015).

Rosário



tenho trinta anos,
um livro de poemas
e nenhum colar de pérolas.

pouco me importa se as palavras
são inúteis.

abro a esquisita concha
e brilho.




Iara Maria Carvalho [Currais Novos-RN - 1980 ]é graduada em Letras e mestra em Estudos da Linguagem, pela UFRN. Foi uma das fundadoras do Grupo Casarão de Poesia, atuando como agente cultural em sua cidade, e hoje integra o coletivo Novos Potiguares. Como poeta, venceu o 3º Concurso de Poesia Zila Mamede (Parnamirim/RN, 2006) e obteve a 3ª colocação no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody (Curitiba-PR, 2010), dentre outros concursos. Participou de diversas coletâneas de poesias resultantes de premiações literárias e compõe uma das cinco vozes femininas presentes no livro “Por cada uma”, publicado pela editora Una, em 2011. Nesse mesmo ano, lançou seu primeiro livro de poemas, “Milagreira”. O presente poema consta de seu livro “Saraivada” (Sarau das Letras, 2015).

quarta-feira, 1 de julho de 2015

POEMA DE PEDRO DU BOIS



Na anterioridade da espécie
a vida gosta e se alimenta
                     ama e maldiz
                     alvorece e anoitece.

O tempo (reconquista
                     do espaço
                      corpóreo)
a transforma em massa
inerme a amórfica.

O tempo (recompensa
                     do espaço
                      não corpóreo)


.........................
# Poema "XXVI" d'O SENHOR DAS ESTÁTUAS (Editora Penalux, 2013)


Pedro Du Bois [Passo Fundo-RS, Brasil] - Poeta, contista, autor de Iguais (poemas), O senhor das estátuas(poemas), Os objetos e as coisas (poemas) Pedro Du Bois Em Contos (contos). Participa do Projeto Passo Fundo (http://www.projetopassofundo.com.br/), é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores de Piracicaba. Mantém o blog Pedro Du Bois - Poemas (http://pedrodubois.blogspot.com.br/) e reside atualmente em Balneário Camboriu-SC, Brasil.