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sábado, 11 de novembro de 2023

Milagre



Tender Drops (2015) - Lana Kanyo




Água,
suas sílabas
se evaporando
sob o sol.

Até restar o cinza do não.

O passarinho,
sedento,
cata o que pode.

Dentre a folhagem,
os insetos se misturam
                  às gotas,
devagar,
           vidas mínimas
           em seu labor invisível.

A nuvem,
coalho-casulo,
             cresce,
recebendo o vapor,
até pesar e cair
      tempestade
sobre a cidade.

Molhada,
uma criança corre
pelas ruas;
seu cão a segue.



|Poema da Série "Por Ocasião da Chuva" - Autor: Webston Moura|


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Lembrança



Rain in Belle-Ile (1886) - Claude Monet



Sempre que o céu se nubla,
lembro-me dos céus da infância,
aqueles infinitos horizontes
e a vertigem de antes de cair as águas.
Devagar ou rápida, vinha a chuva,
o mundo inteiro ficava úmido,
uma inteira posse de águas em toda parte.
Depois, a míngua dos fios d’água ao pé das calçadas,
o ar limpo, o retorno dos citadinos à rotina,
a vida lavada, a leveza com que se supunha a vindoura noite.

Diria alguém ser isto natural, ontem ou hoje,
como quem toma por banal o que a vida naturalmente repete
─ chuvas, crepúsculos, um broto de carnaubeira.

A cada chuva, porém, repetição que o seja,
reinicia-se alguma infância no coração do homem,
que, comum ou não, saberá sentir,
se acordado para mais, se criança ainda.

Nada há na vida que, sendo beleza, não seja uma forma de milagre.

Diante da chuva, gratuidade da vida, meu coração é bastante,
não sofre senão uma alegria íntima, muito íntima, quase secreta.


│Poema da Série "Por Ocasião da Chuva" – Autor: Webston Moura│



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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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O Lado Esquecido da Cidade







Toda cidade tem sua parte baixa, periférica.
É onde os pobres teimosamente vivem.
A chuva que molha os altos, a fazer serenata nas varandas,
é a mesma que, nas partes baixas, desassossega.
Desfazer casas e barracos, fazer rolar ribanceiras,
sua chegada tem dessas tarefas de ofensa.
Ainda assim, por uma mágica razão de sentir,
uma mão sensível recolhe pingos e os bebe misturados a um sorriso.


│Prosa Poética da Série "Por Ocasião da Chuva" – Autor: Webston Moura│



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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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O OLHAR DO RIBEIRINHO



Chove.
A estação não cessa.
Vai-se o rio mais largo e mais veloz.
As casas do lado de lá tem suas cumieiras alcançáveis à mão
de quem navega em canoa ou noutro arranjo.

Porém, detrás do olhar do ribeirinho restante,
este que apruma nos lábios e nas mãos uma prece
e estuda cautelosamente as nuvens,
vê-se a lavoura, a vazante e o peixe de um domingo.

│Poema da Série “Por Ocasião da Chuva” – Autor: Webston Moura│