Comove-me
a vida, não seu desandar.
A luz,
caso se apague, põe-me diligente
a soprar-lhe
a força, aquela mais íntima
que os
homens cismam, mas não veem.
E, caso quieto e à espera que volte, rezo:
olhos fechados,
cheiro de tudo ao nariz,
rogo a
antigos e ígneos deuses uma lâmpada.
Comove-me
a vida, não sua balbúrdia.
Ando,
passos lentos, e leio a placa:
“Coronel
Araújo Lima” ─ quem terá sido?
Perto,
um vendedor de tapiocas passa
e anuncia
seu ganha-pão. Terá filhos? Quantos?
Tudo é
secreto.
Comove-me
a vida, seus acidentes sentimentais
e toda
a possibilidade de abrir portas e janelas.
A
pressa com que os transeuntes seguem, não.
Tampouco
a fumaça irresponsável de seus carros
e os
humores maldizentes com que se corroem.
Uma
moça atravessa a rua.
Nas
mãos, O tronco do ipê.
De
soslaio, olha-me;
depois,
olhos ao chão, sorri.
Segreda-me,
em plena rua, valsas:
a pequena
tatuagem, em voo livre, num dos pés.
Comove-me
a vida.
E isso
inclui o cão feridento e sujo
que, à
porta do mercado,
fala-me
olhos de socorro e perdão.
Faz-me pensar na carga de humanidade que trago.
│Autor: Webston Moura │
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