Vi um lírio martagão na encosta do monte.
Novamente fui menino e pude sonhar.
Aqui
deponho as rosas ásperas
com que
os homens se ferem.
É a
curva necessária, antes de partir.
Há os
que ficam; seus trabalhos tardam.
Há
os que comigo partem, silentes.
Nosso
destino é incerto, mas necessário.
Abre-se
o mundo, devagar, para o dia
da nova
palavra e do novo gesto.
Aqui
deponho o que me dás,
as mesmas
rosas, por anos a fio
(o
cálcio a prender o sempre-mesmo
de
ossos mortos, vida repetida
que não
mais me cabe).
Olho a
estrela-guia no céu tranquilo,
bússola
dos sonhadores de todos os tempos.
Ergo
velas, preparo suprimentos, e me vou.
Desejo
a humana, humaníssima terra,
larga,
funda e próspera, promessa que me faço.
Nela,
os deuses anelados ao meu coração.
(E um
raio de luz ilumina um lírio,
um filho
extremo de uma família eterna)
│Autor: Webston Moura│
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