A
luz, excelsa em seu tranquilo passeio, deita ao dorso das folhas das
caras-de-cavalo o que a meus olhos incidirá num verde-vivo. Ainda que a
vida-de-todo-dia esteja maldita (nos noticiários, nas esquinas, nos lares), não
posso adiar os pequenos milagres que me comovem, como esta luz e este verde, sumo
e findável instante de passagem em que, vivo de uma vida plena, sinto. E, pelo
visto, sentir tem sido um obstáculo para os que se alimentam de pressa e
notícias, não para mim. Digo-te, amigo, que há um pátio num elevado de um
prédio deserto de uma cidade sem nome. E, nele, um piano branco e alguém que
toca. Digo-te, amigo, que há, em redor do pátio, vasos de barro, todos úmidos de frescor e
de caras de caras-de-cavalo. A um canto, uma jovem de olhos cor de avelã cuida de
um aquário e guarda sigilosos saberes das artes de amar. Ao erguer ao céu a
suavidade de seu rosto, vê abrir-se em voo (de dentro de uma estrela) um pássaro.
No ínterim deste conforme, sou todos os homens que carrego. E eles, súbitos e
tranquilos, não sofrem, pois que sonham neste ressurgir, sem mácula. Renascem
para um dia levantado a seu patamar de origem.
[Assobiava
algo.
A
princípio não compreendi.
Em
seguida,
como uma cascata suave,
soou,
límpida,
a canção.
Dizia
de uma aldeia
e
de uma criança desaparecida.
Dizia
de uma mãe em busca de sinais.
A
isto dei de pensar sermos nós
aquela
criança
vagando nos escuros da
realidade
em busca de pão e do caminho de volta.
Por isso, e como não?, os sonhos.]
│Autor: Webston Moura │
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