Ver também: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carolina_de_Jesus
quinta-feira, 14 de março de 2019
terça-feira, 12 de março de 2019
ESPLENDOR
Radient Splendor (2012) - Eyvind Earle |
Noite
fria:
um grilo,
só,
estende
o canto,
infinitamente,
como se
compusesse a geografia
do que
sinto.
As
coisas,
sob o
frio,
parecem
mais concentradas.
Não de
dor,
mas de
vida,
esta
estendida,
tranquila,
como a
lua,
gratuitamente
prata
no
esplendor de sua beleza.
Que horas
são?
Não
importa.
│Autor:
Webston Moura│
segunda-feira, 11 de março de 2019
TODA A ALEGRIA AÍ CONDENSADA
Enquanto
chove
recupero
um silêncio antigo,
aquele
de quando criança,
a
escutar só a chuva
e seus
resultados.
A
natureza isto ensina:
tudo que
nos é anterior
e que
ainda vive,
de
ventos renovados
a
estrelas muito antigas,
de tudo
que não mudou drasticamente,
inclusive
as águas,
a festa
da chuva
e toda
a alegria aí condensada.
│Autor:
Webston Moura│
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
O SOL JÁ VAI SE PÔR
O rio,
agora morto,
ou quase.
Sentado,
um índio
o
observa.
Fede,
em redor.
Desvive-se
a tão forte presença da vida.
O sol
já vai se por.
│Autor:
Webston Moura│
AQUELE HOMEM CISMANDO
Você
sabe aquele homem,
só,
à beira
mar,
sentado,
cismando,
o vento
lhe batendo ao rosto?
Não.
Sabe
ver,
não perscrutar.
Não o
julgue,
como a
este outro,
que
dorme na calçada.
Pode
ser você, amanhã.
O mundo
é um mistério;
a vida,
um labirinto.
│Autor:
Webston Moura│
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
O SONHO DEITADO À MARGEM DO CAMINHO
Amigo,
meu mundo é este;
cabe
numas poucas coisas de se carregar:
imagens,
amores, umas saudades
e um
olhar, já não ávido, sobre o futuro.
Da
minha janela,
antes,
uma mata intocada.
Hoje, o
avistar do avanço imobiliário
e o
fantasma de um rio comido pelo garimpo.
Ainda
assim, se posso,
escuto o
cantar dalgum pássaro
e a
espontaneidade da chuva.
É
tarde, mas digo isso não com tanta dor.
Digo: o
tempo se completa e algo sonhado não vingou.
Talvez,
isto seja a ausência que me acompanha,
o sonho
deitado à margem do caminho.
│Autor:
Webston Moura│
quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
CIGANO
Fora de
controle:
o sangue,
o plano,
o ônibus
que agora passa,
veloz,
a moça,
dentro,
lendo
um
livro
(janela
a janela,
a vejo,
passando,
perdida
de mim).
Fora de
controle:
a chuva,
o raio,
o
trovão,
a lama
escorrendo,
como de
sempre,
como se
fosse a primeira vez.
Vê lá a
criança se banhando na bica!
Fora de
controle:
sair por
aí,
sumir
no mato,
ouvir a
sabiá
e o
vento sobre as folhas.
Entre
liberdades,
ser cigano,
comprar
e vender
cavalos,
tomar
bebida de origem forte,
dançar
com uma mulher de nome espanhol
e acordar em Ostrava, na praça principal.
│Autor:
Webston Moura│
ENQUANTO TUDO ACONTECE
Lavadeiras
do quintal
Lavem
minh’alma com mel
Me
deixem secar o pranto
Dependurada
no céu.
─
Denise Emmer,
in “Lavadeiras”
(Disco “Pelos Caminhos da América”)
Há
esperança, mas sofrida.
Dizem
que amanhã...
E
amanhã será outro ordinário dia.
Enquanto
tudo acontece,
sem que
meus olhos decifrem;
enquanto
a dor for a bandeira mais alta;
enquanto,
ao meu redor, as vozes se confundirem,
retirar-me-ei
nesta ilha de íntimo amor,
ouvindo
Denise Emmer
e
outros pássaros.
│Autor:
Webston Moura│
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