domingo, 4 de dezembro de 2016

PARA ALÉM DA TUA BANDEIRA



Desconfio da tua isenção
─ os tempos são duros,
o mundo é múltiplo-caótico
                      (como sempre).
Atenha-se, módico amigo,
a pensar um pouco!
Há vida, para além da tua bandeira
(teu fígado falante e assoberbado).
Ontem, éramos mais que essa trincheira
estendida por sobre as nossas palavras,
os nossos atos e as nossas esperanças.
Hoje, malquistos mutuamente,
espreitamos, cismados, atrás de muros,
e somos menos, exceto em agonia.

Repara que o teu incêndio parte das tuas mãos.
São tuas palavras, empreiteiras de mundos,
os frutos que fabricas contra ti e contra tudo.

Queres guerras?
Quero leveza.
Não me resolvo em trânsitos de não-se-chegar
                                                           a lugar algum.

E estou sempre em voo.


│Autor: Webston Moura
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sábado, 3 de dezembro de 2016

O TEU INCÊNDIO

O incendiário
vos convida
a apagar o fogo.



Não fui eu!
Não me culpe da cobra que te morde,
da febre que te consome e te argumenta,
do x que não se revela na tua equação.

Não me queira (aziago) anunciando
a vitória futura sobre os inimigos da tua lavra.

Não me esfregue ao nariz a centésima teoria
de como melhorar o dia, o café, a economia.

Não me chame para assinar o manifesto
de ser bom e funcionar mediante a tua regra de ouro.

Não chore, não grite, não se iluda!
Não tente atear ódio aos rios!
Não ouse, entredentes, Mercedes Sosa!
Não cante Let it be como se náusea fosse.

Diria um profeta, se profecia isto se dissesse:
                                         Ah, vai tomar banho!

Recua tua língua da minha calçada,
da minha varanda, da minha reza!

│Autor: Webston Moura
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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ENQUANTO ELA VOA

Desses guetos aí porta afora,
do fundo de pequenos quartos,
da sombra de qualquer alpendre,
do interior de um ônibus,
de todos os esconderijos,     
alguém quer poesia,
captura-la, senti-la, fazê-la



                         enquanto


ela
                              

                                  voa,


como se houvesse



        ─ e há ─



espaços em branco
(vazios sagrados)
no tumulto do mundo.

Nada pergunte.
Apenas saiba que nem todos
estão para as rações ordinárias.



Há os que amam.
Quietos que sejam, há.




│Autor: Webston Moura
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