domingo, 6 de dezembro de 2015

Destinos



Na pradaria,
entre escaramuças e carreiras,
brincam e coexistem
─ em (quase) confraria ─
os filhos do vaqueiro e nossas crias.

Olho-os com exultação,
e certamente inquieto:

O porvir,
para ambos,
será leve?


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# Poema constante de "Ruminar" (Sarau das Letras, 2015)

│Autor: David de Medeiros Leite

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

TU NÃO OUVES DEBUSSY



Tu não ouves Debussy.
Da torre em que te encastelas,
palavra por palavra,
todas maldizentes,
nada há que seja ouvidos.

E sei que a roupa que vestes,
transida de dor,
extensão da tua pele,
diz de barcos que não voltaram;
sangra, por suas cores em fuga,
os amores de nunca.

Sim, tu não ouves sequer
o próprio coração,
o resto de pulso
que te cabe
da parca alegria de um ainda.

Quando muito, resíduos de um rosto
que se bate ao espelho  e chora:
a imagem arvorada e sumidoura
dos que não ouvem Debussy.


│Autor: Webston Moura

ASTARTE (ISHTAR)


Não és Moira Harpia
nem Sereia Esfinge
não és e não finges
            e me sevicias

(Quem sabe destarte
sejas antes Vênus
(o púbis pequeno)
ou ainda Astarte?)

Belzebu não és
Baal Belial
não és bem um Mal
           e estou a teus pés

(Talvez (que sei?) nada
de claro de certo
declaro (decerto?)
seres Bruxa (ou?) Fada)

Não és Eloim
sequer Macabeus
não és Anjo deus
          e habitas em mim


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# POEMA CONSTANTE DE "Girândola" (Editora Substânsia, 2015)

│Autor: O Poeta de Meia-Tigela

domingo, 29 de novembro de 2015

Litorais


Coisas feitas de água:
Os peixes, as conchas, o sal,
A sede, o suor e o cais...
E além das águas, há mais:
A lua que brilha nas vagas
E o mar sem par e sem paz.

Coisas feitas de vento:
O Braço da hélice e a duna,
Nuvem, ondas, coqueirais,
Folhas, velas, pardais;
Depois, os voos desfeitos,
As coisas de nunca mais.


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# Poema constante de Canto Aceso (Expressão Gráfica e Editora, 2015)

│Autor: Carlos Nóbrega

terça-feira, 10 de novembro de 2015

UM DIA SÓ






Um dia só, desabitado:
remoído e refeito o usual,
améns ao infinito.

Ver os cabelos adentrar o grisalho;
percorrer a insânia do símile
ao que, furta-cor, não chega a ser
mais que um órfão.

A cal sempre nula na cor branca,
que é sua natureza inalterável,
nudez exposta à luz,
a tudo percorre.

E nada há que, explodindo,
substancie-se em beijo,
tampouco arranhe uma leiva.


│Autor: Webston Moura


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Eco



Vagas são as promessas e ao longe,
muito longe, uma estrela.

Cruel foi sempre o seu fulgor:
sonâmbulas cidades, ruas íngremes,
passos que dei sem onde.

Era esse o meu reino e era talvez essa
a voz da própria lua.
Aí ficou gravada a minha sede.
Aí deixei que o fogo me beijasse
pela primeira vez.

Agora tenho as mãos vazias,
regresso e sei que nada me pertence
─ nenhum gesto do céu ou da terra.
Apenas o rumor de breves sombras
e um nome já incerto que por mágoa
não consigo esquecer.


│Autor: Fernando Pinto do Amaral