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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

ESTRANHOS PASSAGEIROS



Three passengers and two birds (1993) - Alfred Fred Krupa





Pego a imagem na rua:
passantes comuns
buscam seus destinos.

Estamos em silêncio,
eu e eles,
agora.

Não me olham,
cuidado que se tem
quando se vai ou vem
(ou pudor/medo
de incorrer em indiscrição).

Estranhos passageiros do mesmo tempo,
não nos tocamos, sequer nos falamos,
absortos em nossas intricadas vidas.

Penso no futuro,
o meu e o deles,
se mais para frente
ou se nem tanto.

Um carro de som vira a esquina
e anuncia, aos berros, a maquinaria nervosa
das vendas imperdíveis a que devemos louvar.

Distraio-me da reflexão existencial
e me vejo, novamente, engolido
pelo caos da urbe elétrica em que
                         supostamente vivo.




|Poema da Série "Tempo e Vida" - Autor: Webston Moura|




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Leia outros poemas do autor:




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

BREVE PENSAR ENQUANTO O SOL DESCE




Twilight (1909) - Umberto Boccioni




Viajante, sei-me estrangeiro
de passos que já se cansam
sob o peso da viagem.

O que sei, saber possível
recolhido das andanças,
já se coloca à margem
dos homens mais apressados,
estes que inventam o agora
e, agitados, alegram-se
como quem descobre o fogo.

Velho, aprendo a viver.
Mas, como gastar a voz
deste saber mais profundo
se mais me conforta a sombra
que o rugido de mil mundos?

Por isso, mais admiro.
Por isso, mais observo.
E, se me permito algo,
sinto, pois, pena do homem.


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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sábado, 28 de julho de 2018

A PRIMAVERA, SEMPRE


Esta valsa dentro da cabeça,
a casa vazia,
o tempo.

Teus olhos,
vividez sem fim,
lembrança minha.

Dizem que é dor,
ingenuidade,
teimosia,
coisa de velho.

Não nego,
nem confirmo:
apenas digo
que á a primavera
(de Chopin,
obviamente*).


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│

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NOTA:
A Primavera, de Chopin, é, na verdade, "Mariage d'amour", ao menos na versão que o administrador deste blog encontrou na web. Sobre o assunto, curiosa esta nota encontrada na Wikipedia:


Mariage d'amour (Inglês: Casamento de Amor) é uma peça de piano solo francês, composta por Paull de Senneville em 1979, e pela primeira vez pelo pianista Richard Clayderman de seu álbum "Lettre À Ma Mère" em 1979. Mais tarde, o pianista George Davidson realizada esta peça de música de seu álbum "My Heart Will Go On" com uma versão ligeiramente diferente. Esta versão às vezes é erroneamente atribuída a Frédéric Chopin como "Spring Waltz" por causa de um upload no YouTube com o título errado, que alcançou mais de 34 milhões de visualizações antes de ser finalmente removido. A partir de maio de 2018, várias novas cópias com esse título errado estão disponíveis no YouTube, e uma delas alcançou mais de 30 milhões de visualizações. [https://en.wikipedia.org/wiki/Mariage_d%27amour].

segunda-feira, 24 de abril de 2017

IMAGEM SOBRE O ESCURO

Este homem sorridente da foto está vivo,
mas apenas nisto, imagem e canção.
Por nossa lembrança, que o sol amarela,
sobrevive este homem, cantado em nossa voz
e conversado em nossas horas, história que se estende.

Parece ser que o maior das existências seja isto,
imaginar e sentir mais que tudo,
memória e força que o coração tange.

E assim diz-se passar a vida,
mais ainda, vive-la mesmo,
imagem sobre um escuro que desconhecemos.


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│

UMA CONCHA NAS MÃOS

Vais à praia?
Encontrarás um objeto calcificado cheirando a ontem.
Toma-o, pois, à mão e compreende que estás nele e ele em ti,
emaranhados os dois de tempo na matéria que se transforma.

Não penses muito, rapaz, que não és velho.
Deixa que os anos além emprenhem a demora necessária.
Corre na areia, segue, busca o sol e olha a beleza.
Descansa tua cabeça de tanta história e lembra-te do momento.
Nunca mais verás o dia, este, tão erguido como agora.
E a isto, o dia real e único, é que deves chamar de milagre.


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│

DE BRANCO E AZUL

Há um barco vazio na praia,
com um vestido branco e azul dentro.
Nenhum objeto mais ou indício de haver gente viva se acha.

Dão-se os homens em investigações,
suposições, palpites e até invenções.
Querem a verdade do que teria havido,
mas nada de oficial sobre sumiços e naufrágios se noticia.

Correrão dias e dias, lendas surgirão de cada canto.
Deseja-se dar sentido a um vestido branco e azul,
peça que algum dia, deduz-se, vestiu a moça sem nome.

Envelhecerão todos sempre a lembrar
de como incomoda este dia, este barco
e o vestido vazio, tempo descolado da linha.

Inquieta a vida correndo invisível e obscura no tempo,
o rosto e a história da moça sem nome vestida de branco e azul.


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│

quinta-feira, 2 de março de 2017

TEMPO DE VIVER

Sabemos: o tempo é curto;
a vida, de grão em grão,
crescendo, esgota-se.

Então por que esta pedra na língua?

Os homens agridem-se,
disputam o que a traça há de comer.
Com os anos, vergados, olharão seus relógios,
e, exaustos, já não poderão mais sonhar,
tampouco ferir o telhado vizinho.

Mas o tempo não está no relógio,
este cão portátil de contagem fria.
O tempo está na escolha, tempo de viver.

Olha aquela lamparina próxima à janela.
É cada um recitando seu próprio destino.

Então por que esta pedra na língua,
se o tempo de viver é o tempo de amar?


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│

A PEDRA



Sisyphus - Jeffrey Hummel




O corpo passou; a pedra, não.
E como pode este homem ainda a levar?

É que a pedra é sua reza inarredável,
sua insubmissa amante, a que lhe come a carne.

A casa mudou, enrugou-se;
a oiticica, defronte, deita seus velhos galhos;
o silêncio ocupa as imagens rotas nos retratos;
e este homem, velho, ainda a carregar a pedra,
uma amada irresolução, uma porta bem aferrolhada.

É seu coração, que de todo não é só pedra,
mas que da pedra, esta que fere, muito vive,
sofre, teima, ilude-se e, por fim, há de morrer.


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│







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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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A CADEIRA VAZIA

(Uma foto,
adocicada dor,
saudade)

Em seus olhos, as estradas poeirentas,
aqueles dias de caravanas e distâncias.
Depois, os mares de todos os nomes,
cada porto e suas gentes, idiomas frescos,
cidades a passear, segredos a descobrir.

Sim, fomos felizes.
Mas como é duro ver esta cadeira vazia
nesta casa tão docemente arrumada!


│Poema da Série “Tempo e Vida” – Autor: Webston Moura│