quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CASA




A antiga casa que os ventos rodearam
Com suas noites de espanto e de prodígio
Onde os anjos vermelhos batalharam

A antiga casa de inverno em cujos vidros
Os ramos nus e negros se cruzaram
Sob o íman dum céu lunar e frio

Permanece presente como um reino
E atravessa meus sonhos como um rio



.........................
# Poema constante de GEOGRAFIA (Caminho, 2004)

Autor: Sophia de Mello Breyner Andresen
____________________________________

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

URGENTEMENTE





É urgente o amor
É urgente um barco no mar


É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.


É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.


Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.





.......................
# Poema constante de AS PALAVRAS INTERDITAS-ATÉ AMANHÃ (Assírio e Alvim, 2012)
* Postado originalmente na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen - clique (AQUI)

│Autor: Eugénio de Andrade│
__________________________________

MENINA




luas 
praias de querer
ao longo dos meus braços
afastados pelo coral das rochas
duas
*

uma menina chupando
um rebuçado
descalça
de ter sol nos olhos
*

alguém chora o sentir
do mar
nos flancos das corças
e dos barcos
*
duas
as vezes que conto
pelos dedos
- sol e água
espelhos verticais
no sentir das margens
nevoeiro de noites
nuas




............................
* Poema constante de ESPELHO INICIAL (1960) e POESIA REUNIDA (D. Quixote, 2009)
* Post originalmente publicado na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen - clique (AQUI).

Autor:  Maria Teresa Horta
____________________________