quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Madredeus | "Oxalá"






Madredeus, grupo musical português com mais 14 álbuns lançados.


|Canal do vídeo/áudio: kitr546dhg

Escute aí!


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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terça-feira, 28 de novembro de 2023

A NONA ONDA



The Ninth Wave (1850) - Ivan Aivazovsky



Para a coragem,
               desafio.

Cumprir o caminho
de desertos e mares,
atravessar as noites,
         a fome, a sede.

Cá estamos
à porta da nona onda,
esquina onde a dúvida
nos envolve com seus frios braços.

Saberemos o porto,
os olhos e bocas
que nos esperam?
Ou seremos lenda 
a se contar no futuro?



|Autor: Webston Moura|





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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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AMENO ACASO



Vaso Com Flores e Frutas (2001) - Aldemir Martins



Não há açucares a perder,
tampouco fibras
que venham a formar
orgânica vida.

A tela, frenesi de cores,
com flores e frutas
no eterno da idade estática,
atravessa o tempo,
tempo que o pão e o leite
                             não têm.

Em silêncio,
olho-a,
onda simples
por sobre o tédio de meu dia.



|Autor: Webston Moura|


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

PEIXES



Pisces (1907) - Mikalojus Konstantinas Ciurlionis




Água.

Tomo-a em minhas mãos,
cuidadosamente,
mas ela me foge:
é seu viajante destino
percorrer geografias,
fomentar a novidade.

Soube sua verdade
desde a primeira vez.
          Nela me soube
          rio e lagoa.

Sei de seu tecido
que não se finda,
sua alma mesma,
por este signo
que me investe:
peixes.



|Autor: Webston Moura"




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Webston Moura
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PARIS NUMA PINTURA ANTIGA



Champs Elysees, Paris (1889) - Childe Hassam



Essas pessoas estranhas
que aqui aparecem,
para nunca mais
     - quem são?

Vêm, talvez,
sentir o vento,
tentar domar
alguma náusea
ou esquecer um perdido
                              e doído
amor.

Entre o odor do esterco
e a leveza do orvalho,
há que se andar devagar,
rua a rua, nesta cidade
               ainda a nascer
para seu todo esplendor.



|Autor: Webston Moura|


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Webston Moura
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PÉTALAS VERMELHAS



Red Petals (1967) - Sam Gilliam



Pétalas vermelhas
sobre o chão.

As formigas virão
levar a beleza
para dentro da terra.

O que, agora,
nossos olhos veem
como flor despedaçada
e brilho perdido,
restado está à praticidade
da fome das formigas,
a necessidade por cima do sonho.

Pétalas vermelhas sobre o chão,
sem cheiro, sem cio, só refeição.


|Autor: Webston Moura!


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SALAMANDRA



The Salamander (1984) - Vasile Dobrian





Há muitos lugares nos esperando.
Há muitas pessoas nos esperando.

Não sabem, mas são
pacientes lonjuras,
com seus corações tentando
                    saber os idiomas
que nossas bocas sabem.

Entre nós
e os que esperam
há esta salamandra ilusória,
medo ardente a nos guiar.

Não fosse isto, amigo,
este cismar no quarto,
esta mão trêmula na manhã,
partiríamos de trem,
como nos filmes antigos,
e seríamos felizes.



|Autor: Webston Moura|


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APREÇO



Window Still-Life (1915) - Vanessa Bell




Gosto do que vejo
só porque é bonito,
ao menos aos meus olhos.

Pode ser nada,
como todas estas coisas
que se tem por corriqueiras.

O pão no silêncio da mesa,
a xícara repousada no armário,
a sandália a um canto do quarto.

Gosto de ver o que sobra
depois de todo o barulho,
aquilo que se aquieta
em minha possível paz.

Gosto de ver,
num filme,
a poeira e o sol,
o que se escolhe dizer
ou, então, só se insinua.

Gosto de ver uma lágrima,
um sorriso, a moça à porta,
a frase inconcluída,
beijo, janela, estrada.

Imagine um catavento
em hora e meia da tarde,
com um milharal dançando
no fundo da tempestade!


|Autor: Webston Moura|


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domingo, 26 de novembro de 2023

RETRATO






A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
Há quem, tendo-a metida
num cofre até às mais fundas raízes,
simule não ter pele, quando
de facto ela não está
senão um pouco atrasada em relação ao coração.
Com ele, porém, não era assim.
A pele ia imitando o céu como podia.
Pequena, solitária, era uma pele metida
consigo mesma e que servia
de poço, onde além de água ele procurara protecção.

*
Fotografia (c) Andrea Kiss

|LUÍS MIGUEL NAVA, in Colóquio/Letras n.º 104/105, Julho de 1988, Fundação Calouste Gulbenkian




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UM DIA






Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.

*

Arte © Denis Sarazhin

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in DIA DO MAR (1947; Assírio & Alvim, 2014)




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POEMA DE MÁRIO CESARINY







Reconheço este quarto impermeável
reconheço-te estás adormecido
o peito muito aberto as mãos luminosas
o grande talento dos teus dentes miúdos

Há o perigo de um grito lindíssimo
quando andas assim comigo no invisível

Quando a manhã vier sairás comigo
para o espaço que nos falta para o amor
que nos falta

A aurora
está fatigada

a aurora
como um rio nosso
em torno dos elevadores

Tinha eu a idade
de um marselhês
silencioso
e tímido

Tu davas-me a lousa dos magos
o teu riso as letras
mais obscuras do alfabeto

Foi há muito tempo
ou agora
na caverna dos leões expressivos

A caverna que dá para a caverna
a caverna os lagos diligentes

Belo tu és belo
como um grande espaço cirúrgico

Porque tu não tens nome existes

A minha boca
sabe à tua boca

A minha boca
perdeu a memória
não pode falar as palavras
entram no seu túnel
e não é preciso segui-las

Disse que és alto
alto
branco e despovoado

*
Imagem: Cortesia Bertrand Livreiros*

MÁRIO CESARINY, in PENA CAPITAL (1957; Assírio & Alvim, 2021)



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