terça-feira, 13 de dezembro de 2016

FILME DE AÇÃO

Depois de muitas explosões,
carros e prédios incendiados,    
tiros com todo tipo de arma,
a cidade não está salva,
mas destruída.

Nossos heróis não mais existem.
Restaram essas sobras de hospício
que têm pesadelos e gostam de esfolar.

Amor, justiça e generosidade
são coisas do passado.
Importa o impacto,
a linguagem de videoclipe
e muitos corpos espalhados.

Parece até a vida real.

E aquele cavaleiro,
taciturno e correto,
capaz de amar a uma donzela,
já não caminha mais contra o por de sol
(cena derradeira, quando o letreiro subia).
O que dele se sabe é que ama a uma lâmina
                                                    e não tem mãe.

Parece até a vida real.



│Autor: Webston Moura
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

AS MÃOS

Olhar as mãos: sabê-las; cuidá-las.
Destinos são. As duas, poder imenso.




Herdamos os que nossas mãos seguram:
o abraço; a dor; a vontade ressuscitada, sempre.

O homem é frágil, o homem é forte.
O homem é a escolha, diariamente.

O que cabe num coração?
De melhor, o que cabe?

Aqueles dias são hoje,
vidas como águas que se misturam
no tempo. E o tempo é aquático.

Aqueles dias são para as horas esticadas,
as horas em que pudermos apenas estar.
E tudo isso é uma onda infinita de eternos.

Herdamos o que nos damos.
Sejam, pois, navegações.


│Autor: Webston Moura
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SOB A LUZ

Vi um lírio martagão na encosta do monte.
Novamente fui menino e pude sonhar.





Aqui deponho as rosas ásperas
com que os homens se ferem.
É a curva necessária, antes de partir.
Há os que ficam; seus trabalhos tardam.
Há os que comigo partem, silentes.    
Nosso destino é incerto, mas necessário.
Abre-se o mundo, devagar, para o dia
da nova palavra e do novo gesto.

Aqui deponho o que me dás,
as mesmas rosas, por anos a fio
(o cálcio a prender o sempre-mesmo
de ossos mortos, vida repetida
que não mais me cabe).

Olho a estrela-guia no céu tranquilo,
bússola dos sonhadores de todos os tempos.
Ergo velas, preparo suprimentos, e me vou.

Desejo a humana, humaníssima terra,
larga, funda e próspera, promessa que me faço.
Nela, os deuses anelados ao meu coração.

(E um raio de luz ilumina um lírio,
um filho extremo de uma família eterna)



│Autor: Webston Moura
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