quinta-feira, 26 de maio de 2016

DENSIDADE

Consistência expressa
na palavra liberdade.




Em silêncio, disponho do trânsito
                                   em meu corpo:
                                     o sangue que, 
                                                    livre,
                                                circula.

Mas, não apenas.

Navegam-me cavalos
advindos de tardes
em que, longe, ia-me.
      Ali, no ar, mar em brisa,
      avencas e álamos rumo
      ao nome incógnito da mulher.
      Ali, no ar, o brando dorso do sol
      a derrear-se na face avistada,
      e que eu, sem mais,
      como quem conjuga simplicidades,
      chamava de mundo.

Em silêncio, disponho
do trânsito, essa música
de perfeita eletricidade,
corpo no presente,
densidade para além do tédio.

Exerço o meu poder,
consistência expressa
na palavra liberdade.


│Autor: Webston Moura
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quarta-feira, 25 de maio de 2016

AQUÁRIO

No que tem de belo,
os aquários:
pérolas flutuando.






Em câmera lenta, chega à piscina.
Para e retira o roupão branco.
O corpo ─ e não um esboço ─ surge:
um biquíni passando
por trás da pilastra
até o outro lado,
enquanto seu olhar,
em ré,
observa (o que?).

Devagar, decidida e delicada,
desce até a água chegar à altura
da cintura, um pouco mais,
um borrão, braçadas leves,
corta para o fundo
azul, azul, azul, azul, azul.

Seus olhos, melancolia feliz,
são, em avelã, o furta-cor
na timidez discreta
dos castanhos meus.

Em que língua,
com a devida musica,
cantar-se-ia aquário
senão na sua?


│Autor: Webston Moura
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A ALGAROBEIRA




Dá-se bem com a rudeza

da terra em que se ergue.
Rudeza da pouca água
com que vive e não padece.
Entre severos, acresce
de força sua beleza.
Austera, sua imagem;
seu fruto, uma vargem doce
com que o boi se abastece.
Dizem dela: estrangeira
que aqui se assentou,
como se fora daqui
sua nascença de sempre,
tal se nota em seu destino
o nordestino vigor,
o mesmo do lavrador,
aquele que conhecemos
por um nome mui comum
(Antonio, Pedro, Clemente
─ homem de sol e labor).

Algarobeira, seu nome.
E é preciso guarda-lo
vivo e direto na árvore
bem mais que nos dicionários.


│Autor: Webston Moura


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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