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sexta-feira, 19 de julho de 2024

["Algures na epiderme moram pequeníssimos grãos"], de Lília Tavares







Algures na epiderme moram
pequeníssimos grãos
que guardam instantes.
São poros onde ficaram
ocultos os dias em que deslumbrados
tropeçámos na ternura
e fomos jangada, marés e areias.
Num anoitecer inesperado,
a pele salgada de uma concha
pode vir despertar a limpidez velada
desses momentos redondos, brancos
e lunares. Gratos aos búzios,
às grutas percorridas, o cansaço
há-de conduzir-nos a um mar de mel.
*
Fotografia: Only Two, de Dmitry Laudin

|LÍLIA TAVARES, in NOMES DA NOITE (Modocromia, 2019)


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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terça-feira, 11 de julho de 2023

TERRA






Beijas-me como o escultor

que molda e dá forma
à argila branda e molhada.
Terra me sinto e respiro
pelos poros mais ocultos
que a noite oferece e nos envolve.
Não é macia esta penetração azul
de grânulos e rumores longamente à espera.

Soltam-se silvos de vento e murmúrios
profundos nesta escultura
que tem voz. E desejo. E cheiro a terra.
Porque há beijos mais profundos do que as
águas.

*
Escultura: Beloved, de autor desconhecido
*

|LÍLIA TAVARES in RIO DE DOZE ÁGUAS, 12 POETAS, Prefaciado por Joaquim Pessoa (Coisas de Ler Ed., 2012)
|Outros poemas de Lília Tavares em Arcanos Grávidos: oi876trfstrel
|Poemas de Lília Tavares em Kaya: loiut6450bgt34


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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domingo, 31 de julho de 2022

["parece tarde, mas o tempo"], de Lília Tavares






parece tarde, mas o tempo
parou nas palmas das minhas mãos.
levaste a brisa, as asas de um sorriso,
a cumplicidade do silêncio que se quebra.
sei que a noite chega apesar
de a não sentir na raíz e nos aromas
pois de ternuras encheste o meu corpo
e deixei de sentir o ardor do frio.
mais uma vez sou ave inquieta,
onda de sal encrespada,
vento sem rumo que atravessa
a solidão destas paredes.
quando chegares, traz de volta o fôlego
que me tiraste, a tua pele,
palavra e poros,
e arrepia-se mais e mais o novelo
arredondado do desejo.


[LÍLIA TAVARES, in POEMÁRIO 2015 (Pastelaria Studios Ed, nov 2014)]

Dia 20 de Julho

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Pastel s/ papel: Tenderness, ©Patricia Hannaway
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

UM POEMA DE LÍLIA TAVARES



Que fazer do álamo do teu sorriso
Se perdi a voz das
Folhas do teu rosto?

Que ouvir do eco da tua voz
Se o portão pesado da
Memória nos devolve
Apenas os ramos nus
Das tardes sem sentido?

Quem vou beijar quando a pele
Do meu desejo
Frágil e líquida se evapora entre os dedos?



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Poema que abre o tomo “Desaguar do Desejo” do livro “Evocação das Águas" (Seda Publicações, 2015). O livro, em capa dura, tem ainda ilustrações de Carmo Pólvora e apresentação de Carlos Eduardo Leal.

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# LEIA TAMBÉM:


# Contatos com autora podem ser feitos através de seu perfil no Facebook [https://www.facebook.com/lilia.tavares.3] ou na página Quem Lê Sophia de Mello Breyner Andresen [https://www.facebook.com/QLSMBA]

# Lília Tavares consta da segunda edição de Kaya [revista de atitudes literárias]:
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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Deita-te comigo

Deita-te comigo.
É tão longa a noite.
Apagaram-se os brilhos
do tecto do dia claro,
ficou a iridescência nas
vidraças dos teus olhos
que bebo ou recuso.

A casa respira o sussurrar
das águas, se quiseres, ou
silencia e abafa todos os gritos
da solidão partilhada.

Ao alcance do teu gesto fico,
nascente, leito ou deserto.
Por ti me farei cascata ondulante
ou, como barro, me unirei
às reentrâncias absurdas das águas.



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# Poema constante de "Evocação das águas" (Seda Publicações, 2015), com desenhos de Carmo Pólvora.

Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen", Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas(Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

LÍLIA TAVARES, in "EVOCAÇÃO DAS ÁGUAS"



Num sopro,
num esquecimento,
numa lágrima,
na incompletude...
desejava que o inverno trouxesse
a primavera aos meus dias.
Uma tarde trouxe maio no seu seio
e a promessa de entardeceres
inquietamente tranquilos.
O olhar tornou-se líquido
desembaciou a vidraça empoeirada
das manhãs.
Ainda que me faltem glicínias em agosto,
uma onda no limiar da praia,
um remo no meu barco,
uma vela no meu moinho,
uma fonte de cristal quando estou sedenta,
um metro no meu caminho,
os dedos das minhas mãos,
um corpo nu numa noite em que ardo,
agasalho quente no meu ninho,
uma palavra para findar o meu poema,
uma canção para embalar a saudade,
um traço no teu retrato a carvão.
Ainda assim,
mesmo no quarto vazio da solidão,
embrulhada no colo da tua memória presente,
contigo, meu amor, nada me falta...


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# Poema constante de "EVOCAÇÃO DAS ÁGUAS" (Seda Publ., 2015)
# Contatos com autora podem ser feitos através de seu perfil no Facebook [https://www.facebook.com/lilia.tavares.3] ou na página Quem Lê Sophia de Mello Breyner Andresen [https://www.facebook.com/QLSMBA]
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sei de uma ilha de ventos



Sei de uma ilha de ventos
onde os pássaros azuis
da solidão fazem festins
no oceano das águas velozes.
Fiquei na orla branca das ondas,
noveladas como búzios deslumbrados.
Estendida entre brumas
preciso desse silêncio,
das asas abertas do afastamento
de luas desveladas.



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# Poema constante de Parto com os Ventos (Kreamus, 2013)


Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen", Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas(Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Manhã branca

Manhã branca,
tênue.
O mar é o meu vestido,
quase claro, quase volátil.
O ar é asa quase leve, quase nada.
Desnecessário é dizer-te
que te espero nas frestas
mais mornas da brisa.
Sonhei com uma corda
puxada pelos dois,
para que lado, esfumou-se...

Acredito que um dia o dia seja uno
e sejamos ambos a manhã.



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# Poema constante de Parto Com os Ventos (Kreamus, 2013)



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Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen"Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas(Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

[É por ti que se enchem os rios]

É por ti que se enchem os rios
de carpas azuis,
de águas que querem saltar
pela minha janela.
Como é belo este silêncio ilimitado
quando nas copas redondas das árvores
o teu nome me chama.
Pedi-te que apagasses a lua
e que nos campos tacteando te encontrasse.
Sei-te na aurora, por isso não temo
e agora a lanterna dos dias pode
por fim ficar em ventos de abraços.
Voam aves dentro dos teus sonhos
como memórias de pétalas acordadas.
Ficas ancorado dentro do meu tempo.
Não há saudade nem solidão
que se não derrube.





│Autora: Lília Tavares
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# Poema constante de PARTO COM OS VENTOS, Prefácio de Carlos Eduardo Leal, Ilustrações a partir de esculturas de arame, por Simone Grecco (Kreamus, 2013)

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Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen"Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas (Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.
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