terça-feira, 10 de novembro de 2015

UM DIA SÓ






Um dia só, desabitado:
remoído e refeito o usual,
améns ao infinito.

Ver os cabelos adentrar o grisalho;
percorrer a insânia do símile
ao que, furta-cor, não chega a ser
mais que um órfão.

A cal sempre nula na cor branca,
que é sua natureza inalterável,
nudez exposta à luz,
a tudo percorre.

E nada há que, explodindo,
substancie-se em beijo,
tampouco arranhe uma leiva.


│Autor: Webston Moura


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Eco



Vagas são as promessas e ao longe,
muito longe, uma estrela.

Cruel foi sempre o seu fulgor:
sonâmbulas cidades, ruas íngremes,
passos que dei sem onde.

Era esse o meu reino e era talvez essa
a voz da própria lua.
Aí ficou gravada a minha sede.
Aí deixei que o fogo me beijasse
pela primeira vez.

Agora tenho as mãos vazias,
regresso e sei que nada me pertence
─ nenhum gesto do céu ou da terra.
Apenas o rumor de breves sombras
e um nome já incerto que por mágoa
não consigo esquecer.


│Autor: Fernando Pinto do Amaral

sábado, 7 de novembro de 2015

ATÉ O JÚBILO DESFAZER-SE EM SUSPIROS




Seus olhos maus me ensombram
e seus lábios são sábados sem fim.

O dia certo?
Nem me lembro.
         (Chove,
           lá fora,
           lusco-fusco,
           final de tarde).

Como uma oscilação,
seu corpo reveste o quarto
ao tempo em que sua respiração
desafoga todos os sentidos-nãos
e os alecrina de alvíssaras.

Um ao outro, limítrofes,
ínsulas não mais, ou nem tanto,
desmontamos o talvez
até o júbilo desfazer-se em suspiros.


│Autor: Webston Moura