sábado, 20 de dezembro de 2014

COISA AMAR




Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

(1976)


........................
# Poema constante de Coisas do Mar (Perspectivas e Realidades; Lisboa, 1976)
# Poema replicado da página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)


│Autor: Manuel Alegre
___________________________

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Visão



A montanha escondida
sob  a névoa. A neblina fecha
a vista. Reviso a matéria
ainda pulsante.

Memorizo igualitariamente
o sucesso e o fracasso.

Do sucesso estudo
o início. Do fracasso
conservo a névoa
toldada na visão
do artista.


........................
* Poema constante de Iguais: poemas (Projeto Passo Fundo; 2013) - Clique (AQUI).

_______________
* Pedro Du Bois [Passo Fundo-RS, Brasil] - Poeta, contista, autor de Iguais (poemas), O senhor das estátuas (poemas), Os objetos e as coisas (poemas) Pedro Du Bois Em Contos (contos). Participa do Projeto Passo Fundo (http://www.projetopassofundo.com.br/), é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores de Piracicaba. Mantém o blog Pedro Du Bois - Poemas (http://pedrodubois.blogspot.com.br/) e reside atualmente em Balneário Camboriu-SC, Brasil.
_________________

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

MANHÃ



É um pequeno milagre, esta claridade. 
Os telhados acendem-se como fornalhas, 
permanece vermelha uma parte do céu. 
A noite, se existiu, foi para nós um erro 
de perspectiva, uma ilusão, um ardil de 
sombras e estrelas perdidas no escuro.

Agora é de um azul sem mácula, o céu; 
a cidade, um corpo branco a levantar-se; 
e esta luz — rasa, rosa, crua — já não um 
pequeno milagre, mas uma evidência.


..........................
* Poema constante de LUZ INDECISA (Oceanos, 2010).
* Post replicado da página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)

│Autor: José Mário da Silva
_______________________________