sábado, 26 de novembro de 2016

POEMAS DE LEONAM CUNHA


poema viscoso

Observei o espectro profético:
a lesma desbrava o dia
idosamente
─ sem pressa nem medo do fim

Em verdade, em verdade vos digo:
aquele que tem ânsia de lesmas
caminha canino comigo.



jaculatória

Só tenho intenções
perto da linha do horizonte.
Assim ─ distante ─
saboreio a pretensão do crepúsculo
em ser noite.
Ser noite é muito pesado.
Eu avoo.
Minha reza
é mais ou menos:
se eu pudesse ter braços de palha,
balançaria no vento;
eu desejo conduzir tempestades.



dia-rio (parte dois)

Conheci uma mulher-noite.
Que tinha olhos de voo.
E dentes de quem quer mais.



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Poemas constantes de "Condutor de tempestades" (Sarau das Letras, 2016)






Leonam Cunha [Areia Branca, RN] publicou, em 2012, seu primeiro livro de poesia, “Gênese”, e em 2014, “Dissonante”, ambos pela Sarau das Letras. “Condutor de tempestades” é seu terceiro livro.
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sexta-feira, 25 de novembro de 2016

POEMAS DE KIKO ALVES


Âncoras

Há faróis no céu
Busco ao léu meu porto
Num mar de estrelas



O velho moinho

No salobro das pás
Sopram ventos do passado
Volteando em ponteiros
De relógios fantasmas
A girar para trás
Carreando lembranças
De antigos passageiros
E almas roídas de mar
Saudades inda vivas
Dependuradas no tempo
Serenam as tardes
E se vergam
No ranger das carcaças
Do velho moinho abandonado



Etéreo

Quando o mundo
Não mais me quiser
Vou dar no pé,
Vagar à toa.
Quando o mundo
Não mais me quiser,
Numa boa,
Vou viajar
Além do mar
E no azul do céu
Virar garoa



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Poemas constantes de "Ancoradouros" (Sarau das Letras, 2016)



Kiko Alves [Francisco Alves, Areia Branca, RN, 1955]. Formado em Engenharia Elétrica pela UFF, com mestrado nessa mesma área pela UFRN. Também poeta, compositor, letrista, cantor e ator. Ancoradouros é seu primeiro livro.

POEMAS DE PEDRO DU BOIS

1 Alugo o corpo ao personagem
e sou incorporado ao discurso plástico
da inverdade. Sou deus e demônio
personificados nas contradições. Besta
e pomba. Homem despossuído
de razões. A aparente calmaria antecede
a tormenta e a neve desce a montanha.

Sou outras gentes. Gentios
e crentes. A plateia estática na ação
do palco. O finalizar da música
no arrastar das cadeiras.


2 Ser além do personagem
o mito. História
em sua criação na apropriação
da ideia.
      A luz ilumina o palco
      com palavras
      apostas no papel.

A aposta sobrevive ao instante
da criação. A aposta se conforma
ao espaço preenchido de oportunidades.


3 Repito o texto
realizo o gesto
materializo
a palavra.

Permaneço.


4 Avesso ao comum
imortalizo
      a cena. O aplauso
      contém o ressentimento
      da realidade.

Retorno
e aprofundo
a vida
em verdades.



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Poemas constantes de "Poemas" (Projeto Passo Fundo, 2016)



NOTA DO EDITOR DO BLOG: O livro "Poemas", de Pedro Du Bois, o qual tive o prazer de fazer a apresentação, dividi-se em oito partes (secções), a saber: "Caminhar". "Iniciação ao Trabalho"; "Personagem"; "O Dia Empedrado"; "Sobre Leituras e Desentendimentos"; "Habitar", "Sob(re) o Melhor dos Mundos"; "A Indeterminação da Certeza". São dezenas de poemas, mas não estão distribuídos aleatoriamente, posto que, de conjunto em conjunto, formam uma unidade densa e complexa. O próprio título do livro, "Poemas", sugerindo o óbvio sobre o que ali se espera, é algo a se pensar no que diz respeito às sutilezas tantas, riquezas todas.  É uma poesia que nos convida a trabalhar. Os três poemas deste post constam da secção "Personagem". Sobre o autor, visite seu blog: http://pedrodubois.blogspot.com.br/.

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