quarta-feira, 13 de abril de 2016

SOLITUDE

Um menino arcaico de sandálias cruas,
a tanger carneiros no cimo da colina.


A primavera, escolha por escolha,
sorri nos dorsos onde a luz incide
e, devolvida em cores,
abre o corpo das calêndulas.


Num tear, uma senhora de siso leve
afeta de café e pão todos os reveses.
Suas mãos dão de haver o que insistem
                                               as coisas que,
                                              sobre a Terra,
                                        por belas e livres,
insistem.


Não tão longe, o mar ressoa
o homem ausente e náufrago,
aquele que se desdisse sobre os rochedos
                                            para nunca mais.


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│Autor: Webston Moura
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segunda-feira, 11 de abril de 2016

ESCUTO O OUTONO CHEGAR

O silêncio, que é de ouro,
guardo-o na prudência
com que, entre homens, caminho.
Vejo-os aflitos e sem escutas,
olhos postos no horizonte,
esperando a salvação
─ que não virá de suas algaravias.
Assuntam a obscuridade que lhes toma,
as esquinas suspeitas, o homem surgido
de suas entranhas, este que não lhes convém.

Disseram-nos de um mundo futuro,
do leite e do mel abundantes,
de cítaras embalando albores,
de sonhos os mais prestimosos.
E o que temos para a ceia
são engrenagens de tecer estapafúrdios,
solilóquios em casas abandonadas,
iras, choros, ressentimentos
e uma paz de pouco linho. 

Por isso, o silêncio, que é de ouro,
guardo-o em meu coração.
E, no enquanto deste agora,
escuto o outono chegar.

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│Autor: Webston Moura
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domingo, 10 de abril de 2016

POSSO O ERRO COMO SAUDÁVEL TRAJETO HUMANO

Dentro do sangue, as palavras não estão em ordem.
Não há policiais gramáticas hierarquizando o desejo.
Se me ponho nesta liberdade, posso a clorofila,
o leopardo, o beijo, a montanha e o abraço.
Posso a carne, que é meu templo saqueado
e minha possibilidade de que haja o agora.
Posso o erro como saudável trajeto humano.
Não escreverei, pois, com os olhos vidrados
e o medo insuflado ao grau de virtude.

Enquanto escrevo, conspiram outros pelo poder.
E, no medo, rezam aos seus deuses petrificados.
Coagem, deturpam, aniquilam ─ eis sua gramática!
Dementes, não se sabem tais
                 e, assim, não voam
                 (quando pensam que sim).


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│Autor: Webston Moura
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RUAS DE SEMPRE, ANDARES DE AGORA

Seu rosto, reconheci-o;
já se me havia souvenir da China,
a dança como que aragem de um corpo
que se desloca dos outros, além; ano já ido.
Agora, somas e subtrações efetuadas,
sim, sei que é o mesmo rosto.
Quem supunha o reencontro, este,
a fala com o ritmo menos acentuado,
o olhar ainda corso dentro do gris,
as mãos que sabiam dos cristais de realgar
e de meninices adocicadas?

E este, quem é?
Crepusculário, Neruda.

Nenhum temor.
E cravos, aromas vindos enquanto seguíamos
ruas de sempre, andares de agora.

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│Autor: Webston Moura
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Num dia branco

segura a borda da mesa com
o cabelo vermelho vamos
para a polônia
                            ver a neve
andava tão dispersa assim
ele nunca conheceu a família com ganas
de frio. sempre aquele
movimento
                          preciso ler outras
coisas a frase cortada
no mesmo ponto fresta de luz
onde fala uma gargalhada
assomada à janela quando o vê
do outro lado da rua procurando o
castelo.
              cabelo curto, segura a ponta
da mesa e mastiga as sílabas
em sua língua.


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# Constante de "20 poemas para o seu walkman" (7Letras)


│Autora: Marília Garcia
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POR AMOR E GRAÇA

Esteja na duração do tempo.



Suponha um boi, o primeiro.
Veja-o caminhar e recalcar o solo.
Não o ajude com piedades humanas.
Veja o pássaro catando no boi
insetos hospedados em seu dorso.
Distinga a geometria incerta
que se expande quando olhos marejam.
Rumine cem dias o milagre desta lembrança.

Acenda um fósforo,
vele pelo ínfimo.
saia do distúrbio.


│Autor: Webston Moura
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