quinta-feira, 25 de setembro de 2014

INSANO

Retira pequenas felpas da toalha
sobre o corpo seco, restos de tecido,
água destecida no esgarçamento
da toalha; partes da pele no esfregar
do pano; anos passados: corpos dilacerados
sobre trilhos, entre trilhos. Nas explosões
sobram partes, não felpas, corpos em mortalhas
desproporcionadas na tragédia; a loucura
                                        - sim, outro dia perdido -
esfrega no corpo a raiva percorrida; a toalha
sobra no corpo restos de tecido; destecido
e fragmentado na lembrança do inteiro corpo.



│Autor: Pedro Du Bois
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# Leia também:

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* Pedro Du Bois [Passo Fundo-RS, Brasil] - Poeta, contista, autor de Iguais (poemas), O senhor das estátuas(poemas), Os objetos e as coisas (poemas) Pedro Du Bois Em Contos (contos). Participa do Projeto Passo Fundo (http://www.projetopassofundo.com.br/), é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores de Piracicaba. Mantém o blog Pedro Du Bois - Poemas(http://pedrodubois.blogspot.com.br/) e reside atualmente em Balneário Camboriu-SC, Brasil.

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O CORPO PARADOXAL

A cidade nova
traz um aroma de sol-de-suor,
dos operários
que lhe atravessam incansáveis,
da grama pelos quintais sem verdor.

Tomada de uma outra fauna
(bichos que se movem
na ferida do pó vermelho),
a cidade pulveriza meu pensamento;

detona-se-me!;

constrói-se num corpo paradoxal
sobre a ossatura do pensador ―
pois que já ele anunciara
este grandiloqüente funeral
que adoeceu o domingo
das crianças no parque.




Nova Jaguaribara, outubro/2001




│Autor: Dércio Braúna
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# Poema constante de O Pensador do Jardim dos Ossos; Edição do Autor, 2005.


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* Dércio Braúna é poeta, contista, historiador; autor de O pensador do jardim dos ossosA selvagem língua do coração das coisasMetal sem húmusComo um cão que sonha a noite sóUma nação entre dois mundos: questões pós-coloniais moçambicanas na obra de Mia Couto e Nyumba-Kaya: Mia Couto e a delicada escrevência da Nação Moçambicana.
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Roteiro para apartar escuridões

Temperar a fervura da cintilância
O desabafo das miríades de ló
Assustar o espasmo do riso
A reentrância das bochechas
E a disciplina da descoberta
Torturar a áspera essência do olfato
               E as nênias para solidão
Jurar de um sobressalto só
               (Um torpor de constelações)




│Autor: Whisner Fraga
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# Poema constante de O livro da carne (7Letras, 2010)

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Whisner Fraga é escritor, autor de, entre outros livros, Abismo poente (Ed. Ficções, 2009)
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