sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O ABSOLUTO

Ora che amo te
nasce il tempo da vivere*



Há uma moça debruçada na janela.
Seus cabelos, calidez mansa.
Olha a rua de um ano remoto,
cidade elevada ao sonho.

Seu vestido, silêncio, dobras,
a canção latente, o livro verde.

Para ela, meu olhar invisível.
Percorro o império de sua liberdade.

Na janela,
a moça,
recuado tempo,
rua e sombrinhas,
o absoluto.


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* Versos de "Grazie Amore", de Gigliola Cinquetti (intérprete)

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│Autor: Webston Moura
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PEREGRINO

Onde estão os homens,
os sérios homens angustiados,
não faço pátria.

Não tomo assento à beira
da desordem daqueles homens,
todos municiados de dissabores.

Antes, bem antes, o que eu quis
foi estar nesta estrada a que me dou
de pés descalços.

É a velha estrada,
esta velha e (em mim) sabida estrada,
inícios de meus passos, os mais primeiros,
mesmo que outros, mesmo que novos,
dado que tarefa e caminho do peregrino.


│Autor: Webston Moura
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UM NO OUTRO

Eu te dou esta música
e uma quinta-feira cuja tarde
é plenamente autêntica.    
Esquecidos de nós, somos!
E, mais tarde, quando a lua surgir,
conte-me, sem pressa, alguma lenda
de algum povo antigo e feliz.

Quero ver-te na duração de um café:
ritmo que se põe à boca
enquanto se vislumbra
o pouso de uma ave
no verde da folhagem.

A vida é isto,
discos espalhados,
o frasco de perfume
denunciando o íntimo
que nos toma um no outro.

Nosso tempo,
música gozosa e imune a intempéries,
diz-se casa e viagem,
               nunca exílio,
               nunca ausência.

│Autor: Webston Moura
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